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É uma espécie de denúncia. Ou um convite à consciência: a de que não paramos para pensar perante o poder que a imagem ganhou nas nossas vidas. É o que nos propõe Birdie, a peça inaugural da edição deste ano do FIMFA – Festival de Marionetas e Formas Animadas, que começa esta quinta-feira, 3, no Teatro Maria Matos. O ponto de partida deste espetáculo multimédia é a famosa fotografia da autoria do ativista espanhol José Palazón que mostra um campo de golfe no qual um casal está a jogar e, ao fundo, pendurados numa cerca bem alta, estão vários refugiados. A foto é de Melilla, cidade espanhola no norte de África e uma das vias de tentativa de entrada na Europa de milhares de pessoas em fuga. “Quando eles [companhia Señor Serrano] olharam para a fotografia e viram as pessoas penduradas na cerca, fê-los pensar n’Os Pássaros do Hitchcock”, refere Rute Ribeiro, codiretora do festival, juntamente com Luís Vieira. “A migração de massas é o grande tema fraturante hoje em dia: a movimentação de pessoas para tentarem encontrar novas condições de vida e a tentativa de impedir esses mesmos movimentos”, completa Luís.
Já a última peça do FIMFA deste ano chama–se Ada/Ava (no Teatro Municipal São Luiz, a 18 de maio) e trabalha também a partir de referências cinematográficas − no caso, o filme Vertigo de Hitchcock. Destaque, ainda, para a peça Zvizdal [Chernobyl – so far so close], um espetáculo que reúne instalação e documentário e nos fala sobre o casal de idosos que decidiu ficar em Chernobyl depois do acidente nuclear de abril de 1986. “Os elementos desta companhia conseguiram autorização para entrar na área reservada e fizeram, aí, uma série de entrevistas”, explica Rute Ribeiro. “Em palco, há um ecrã duplo, com metade da audiência de cada lado; e, por baixo do ecrã, há maquetes a representarem a quinta deles durante as diferentes estações do ano.” Referência obrigatória, ainda, à coreografia do iraniano Ali Moini e a Compagnie Selon l’Heure (15 e 16 de maio no Maria Matos): o bailarino encontra-se ligado a uma marioneta de metal do seu tamanho que o acompanha como um duplo.
A programação completa da edição deste ano pode ser consultada em www.tarumba.pt.
A Tarumba tem já uma história de 25 anos, sempre em nome da vida e da alma das marionetas. Desde 2001 conseguiu impor o FIMFA na agenda cultural de Lisboa.
FIMFA > Museu Nacional do Teatro e da Dança, Teatro do Bairro, Teatro D. Maria II, Teatro Maria Matos, São Luiz Teatro Municipal, Teatro Taborda > Lisboa > T. 21 242 7621 (FIMFA) > 3-21 mai