São 20 fotografias de formato vertical sob a égide do brilho carregado, ou armado, como reza o título da exposição Loaded Shine, título-programa com ressonâncias ambíguas. As imagens captadas num período temporal mais ou menos longo, compreendido entre 2008 e 2013, obedecem ao singular preto e branco “nozoliano”: denso, metálico, inquietante, um coração nas trevas. Paulo Nozolino apontou a objetiva e registou cenas e fragmentos em geografias diversas, um mapa pessoal que uniu Lisboa a Paris, Nova Iorque, Berlim ou o campo francês.
Tema? A infindável e arruinada tapeçaria do mundo que o fotógrafo, Sísifo contemporâneo, insiste em capturar – registar e revelar são, também, à sua maneira, o movimento de elevação e derrube consecutivo praticado pelo personagem mitológico. O seu universo é o do mundo em perda, em falha, em decadência, ainda que, e por isso mesmo, redimido pela beleza sombria das imagens resultantes. Sentinela assumida, Nozolino não abdica do seu direito à revolta e à denúncia, não desvia o olhar nem adoça a experiência do sofrimento (recorde-se a série marcante e controversa sobre a morte do seu pai). Cabe ao observador enfrentar a escuridão e o esvaziamento que ele testemunhou.
Esta mostra individual é um regresso à genealogia reconhecível de Paulo Nozolino, após Make Do, a surpreendente série de 20 retratos, minúsculos, intimistas, sexy e reveladores, das mulheres da sua vida, que, em 2015, exibiu na capital, ao longo de uma parede vermelho-cabaret. E é também uma segunda oportunidade: Paulo Nozolino foi o único fotógrafo português presente no PhotoEspaña deste ano, tendo a série Loaded Shine sido exposta, durante a 20ª edição do festival, numa sala do Circulo de Bellas Artes, integrada num conjunto de seis mostras escolhidas por Alberto García-Alix, nome consagrado da fotografia espanhola. Um excelente tiro de partida nesta rentrée.
Loaded Shine > Galeria Quadrado Azul > R. Miguel Bombarda, 553, Porto > T. 22 609 7313 > 23 set-16 nov, seg-sáb 15h-19h30