No quarto que Thor partilha com as suas duas irmãs mais velhas, há uma placa vermelha onde se lê: “Young Adult” (jovem adulto). Pois é justamente esse o “território” de Corações de Pedra, que chegou esta quinta-feira, 25, aos cinemas (e estará disponível em DVD a 1 de junho): aquele período híbrido, cheio de pureza e de dúvidas, em que ainda não somos adultos mas também já não somos crianças. Numa aldeia piscatória, algures no Norte da Islândia, assistimos ao desabrochar da juventude de Thor e Christian, ao longo de um verão em que um tenta conquistar uma rapariga e o outro descobre o amor pelo melhor amigo.
São muitos os exemplos de bons coming-of-age no cinema, mas poucos terão a força de Corações de Pedra, a primeira longa-metragem do jovem realizador islandês Guðmundur Arnar Guðmundsson (o que torna a sua qualidade ainda mais surpreendente), que teve estreia mundial no último Festival de Veneza, onde venceu o Leão Queer. Parte da sua força vem da capacidade de saber mostrar – prescindindo muitas vezes das palavras – tanto a atmosfera castradora e rígida da aldeia como as inquietações e os sentimentos das personagens.
Tudo isso é feito com grande perspicácia e proximidade, como se o realizador estivesse a filmar, de perto, o lugar onde cresceu. E, de certa forma, está. Não Reiquiavique, a sua terra natal, mas a Islândia profunda, como disse na apresentação do filme: “Procuro inspiração na Natureza, nas sensações fortes que nos assaltam nas montanhas, junto ao mar e quando caminhamos em solo virgem, e em como essas sensações se relacionam com as nossas emoções mais profundas.”
Corações de Pedra > de Guðmundur Arnar Guðmundsson, com Baldur Einarsson, Blær Hinriksson, Diljá Valsdóttir > 129 minutos