
Turbulência volta a reunir a mesma equipa criadora de Tábua Rasa (2015)
Bruno Simão
O quotidiano deixa de o ser quando algum acontecimento perturba essa existência previsível. Este equilíbrio ténue entre ordem e caos levou os bailarinos e coreógrafos António Cabrita, Henriett Ventura, São Castro e Xavier Carmo a explorarem a ideia de turbulência. “Procurámos humanizar a manifestação física do fenómeno, que se expressa através de uma equação matemática”, explica Xavier Carmo. Já São Castro invoca O Livro do Desassossego, de Fernando Pessoa, como outro dos pontos de partida: “Um estado de turbulência pode ser, também, um estado de desassossego.”
Partindo da ciência e da poesia, é através da dança, claro está, que esta turbulência se manifesta em palco. Um homem de sobretudo caminha, pesado, num espaço de desencontro, evitando cruzar-se com os outros. Por vezes, parece estar em dimensões paralelas, quando um segundo bailarino age como a sua sombra. Com duas paredes na diagonal que afunilam o olhar para a projeção de vídeo no fundo do palco, a cenografia obriga o espectador a entrar na narrativa e a sentir a turbulência. Quando o corpo dos bailarinos embate no chão, o impacto ressoa em cada um.
Inserido na programação do InShadow – Festival Internacional de Vídeo, Performance e Tecnologias (a decorrer até 11 de dezembro), Turbulência volta a reunir a mesma equipa criadora de Tábua Rasa (2015). Desta vez, contam também com três intérpretes da Companhia Nacional de Bailado.
Os quatro autores estão simultaneamente dentro e fora da peça. “Trazer um espetáculo para o palco também pode ser um choque turbulento”, admite António Cabrita. Nada que os intimide, revela São Castro: “Não tivemos medo e deixámos que a turbulência reinasse ao longo do processo criativo”. Afinal, é do caos que nasce o que nos transforma.
Turbulência > Teatro Camões > Passeio do Neptuno, Parque das Nações, Lisboa > T. 21 892 3470 > 10-13 nov, qui-sex 21h, sáb 18h30, dom 16h > €5 a €30