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A obra Toile Brulée, de 1973, é um dos trabalhos fundamentais nesta exposição
Rui Duarte Silva
A obra Toile Brulée (tela queimada) é uma das primeiras a captar-nos o olhar quando entramos na Casa de Serralves, no Porto. Está suspensa no primeiro piso do átrio deste edíficio art déco dos anos 30 onde, esta sexta, 30, inaugurou a exposição Joan Miró: Materialidade e Metamorfose, e onde ficará, em permanência, a coleção das obras do artista catalão, propriedade do Estado, que se encontram sob a tutela da autarquia do Porto. Num anúncio feito em Serralves, o presidente da câmara do Porto, Rui Moreira, salientou que a coleção não poderia “ficar em melhor lugar”. O modelo de financiamento será anunciado “dentro de dias” e, acrescenta o autarca, o arquiteto Siza Vieira ficará responsável por “transformar” a Casa de Serralves de modo a que as obras ali possam ficar em permanência.
A tal “tela queimada” de 1973 de Joan Miró, que vemos suspensa no primeiro andar, é, segundo Robert Lubar Messeri, curador da exposição e especialista mundial na obra do artista catalão falecido em 1983, um dos trabalhos fundamentais desta coleção. Esta peça – que faz parte de um conjunto de outras cinco obras onde Miró usou o fogo como técnica – foi pintada já o artista catalão estava perto dos 80 anos, e fez parte de uma série de trabalhos feitos especificamente para uma exposição retrospetiva no Grand Palais de Paris. Tal como os seis Sobreteixims (tapeçarias), de uma série de 33, agora espalhados pelo rés-do-chão e primeiro andar da Casa de Serralves. Produzidas entre 1972 e 1973, em colaboração com o jovem tecelão Josep Royo, numa velha fábrica de farinha no Porto de Tarragona, as tapeçarias surpreendem pela dimensão, materiais e técnicas usadas. A transformação das linguagens pictóricas desenvolvidas pelo artista acompanham, aliás, toda esta exposição, que formará uma espécie de “triângulo cultural na Península Ibérica”, ligando Porto, Barcelona e Palma de Maiorca, tal como Robert Lubar Messeri tinha sugerido, há dias, numa entrevista à VISÃO Se7e.
Cinco salas e outras áreas da Casa de Serralves, num projeto expositivo a cargo do arquiteto Siza Vieira, mostram 76 das 85 obras de Joan Miró que fazem a coleção que esteve quase a ser vendida num leilão na Christie’s, em Londres. Foi aí, aliás, que Messeri as conheceu pela primeira vez. “Na altura pensei: porque é que Portugal vai deixar esta coleção escapar?”, conta o curador, visivelmente satisfeito com o destino que acabou por ser dado às obras do artista catalão. “Esta exposição“, diz, “poderia ser ‘construída’ de outra forma. Seriam vários os caminhos possíveis para um curador que agarra uma coleção destas”. Mas Messeri decidiu organizá-la de acordo com os diferentes processos e técnicas usados pelo artista catalão, ao longo de seis décadas, abordando, ao mesmo tempo, os seus processos de transformação (a metamorfose). Além de pintura e tapeçaria, há obras em papel, colagens e esculturas. “Miró iria adorar ver a sua obra em diálogo com um museu de arte contemporânea”, chegou a admitir Robert Lubar Messeri. E assim é.
Veja a galeria de fotos com as sete obras fundamentais escolhidas por Robert Lubar Messeri, com excertos do texto que o curador norte-americano redigiu para o catálogo da exposição:
Joan Miró: Materialidade e Metamorfose > 1 out-28 jan 2017 > Casa de Serralves, Museu de Arte Contemporânea de Serralves, R. D. João de Castro, 210, Porto > T. 22 615 6500 > Parque: €5; Museu e Parque: €10; Parque e Miró: €11; Museu, Parque e Miró: €16