Há uma mulher que se equilibra em cima de um tamborete, há um homem ao piano. Falarão de arte e falarão de amor. Haverá também uma estudante de música, aspirante a cantora de ópera, que se vê grávida do seu professor e acusada de ter feito um aborto. Haverá, lá mais para o final, um locutor de rádio à procura de diálogos de amor para os transmitir no seu programa. Não é linear a nova peça do Teatro da Cornucópia que Luís Miguel Cintra construiu a partir de Música, de Frank Wedekin e de Censura, outro texto escrito no mesmo ano (1906) pelo dramaturgo alemão, precursor do movimento expressionista, e aos quais ainda juntou uma adaptação de A Hora do Amor, de Odon Von Horvath. “Tenho gosto de que o discurso do espetáculo não seja lógico e que dê saltos e funcione por associação de ideias. Cada vez mais pensamos assim, com cargas pessoais associadas a temas e que, por isso, variam de pessoa para pessoa.”
Em cena, estão as paixões do encenador, as suas referências culturais, as músicas que ouve (Schubert, Wagner, Mozart, Verdi, Strauss), o teatro que quer fazer. Diz Luís Miguel Cintra que, “por causa dos prémios” que recebeu nos últimos anos, se sente com liberdade para pôr no palco exatamente aquilo que quer – e que só lamenta o ter deixado de representar (“ainda não é pacífico”, confessa, falando de uma certa melancolia). Música, a peça mais violenta de Wedekin, censurada na altura e vista como peça menor, renasce no Teatro da Cornucópia com grande tragédia e dor (aplausos para a jovem atriz Rita Cabaço), mas também com muito humor (deixam-se entrar “os palhaços”, sim, e a atriz Luísa Cruz é genial a fazê-lo).
No final, há de referir-se o “direito de amar e ser amado”. E, palavra puxa palavra, Luís Miguel Cintra também o dirá: “Cada vez estou mais convencido de que vai tudo dar a essa palavra de duas sílabas: amor. Uma pessoa envelhece e o que fica é a parte afetiva.”
Música > Teatro Municipal São Luiz > R. António Maria Cardoso, 38, Lisboa > T. 21 325 7640 > até 10 jul, qua-sáb 21h, dom 17h30 > €5 a €15