É um mundo paralelo. Até agora longe da vista, mas finalmente próximo do coração. Pela primeira vez, o compasso do tempo de um arquiteto, a luta por um traço feito poema, as tensões com entidades, clientes e construtores, esquissos, plantas, cartas, fotografias, minutas, maquetes e outros objetos deixam o silêncio dos depósitos, armários, estantes, caixas e gavetas, e revelam o lado operário do génio à luz do dia. Matéria-Prima: Um Olhar Sobre o Arquivo de Siza Vieira, a exposição comissariada pelo arquiteto André Tavares que o Museu de Arte Contemporânea de Serralves agora apresenta, revela a outra faceta da obra e do criador. A exposição mostra ao público materiais relacionados com 40 obras do arquiteto, entre as quais se encontram o Museu de Arte Contemporânea de Serralves (restauro da Casa e Capela de Serralves), a Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto, a estação de metro de São Bento (Porto) e a Piscina da Quinta da Conceição (Matosinhos). Permite também perceber que a centelha do mais premiado arquiteto português não é fruto de uma chispa ocasional, mas sobretudo perseverança, talento, método e prosa limada.
Com a gestão do acervo entregue ao Canadian Centre for Architecture, do Canadá, e a colaboração da Fundação Calouste Gulbenkian, Serralves dá o primeiro passo para tornar os bastidores do universo Siza Vieira acessíveis ao olhar comum. O seu mundo maravilhoso, o lado B invisível e quase intocável, é agora trazido ao público, em vários episódios. Não há obra-prima sem narrativa. E esta é bem capaz de ser tão luminosa quanto o resultado final. Vai uma aposta?
Matéria-Prima: Um Olhar sobre o Arquivo de Siza Vieira > Biblioteca do Museu de Arte Contemporânea de Serralves > R. D. João de Castro, 210, Porto > T. 22 615 6500 > até 18 set, seg-sáb 10h-18h