‘A Conquista do Polo Sul’: o mundo é um cubo de gelo

Num sótão cheio de entulho, os lençóis brancos a secar nas cordas são glaciares. É essa a paisagem: tudo branco, “tudo mergulhado num branco brilhante”, como alguém dirá. Será preciso ter cuidado com as fendas no gelo para chegar ao destino desta expedição que aqui se faz dentro de portas: marchar até ao Polo Sul, tal como o grupo de noruegueses liderado por Roald Amundsen em 1911. É essa a aventura ficcionada por quatro amigos, todos desempregados, todos pendurados, já sem esperança sequer nos flippers e nos copos que lhes ocupam os dias, e a precisar de uma vitória mesmo que de fantasia. Não serão apenas “macacadas no sótão”, como os acusam, não é sequer só “um jogo”, como um deles diz, mas há de revelar-se mais do que isso. Depois de ter protagonizado De Homem para Homem, em 2008, Beatriz Batarda regressa às peças do alemão Manfred Karge, com A Conquista do Polo Sul, desta vez como encenadora. Era um texto em que há muito pensava, conta, e que agora quis pôr em palco, “perante as infelizes circunstâncias atuais da nossa querida Europa”. “Não é só uma história de desgraçados que precisam de ter fé, mesmo que seja uma ilusão, mas acredito que é também sobre atores e sobre o teatro. É uma peça sobre a solidariedade”, afirma. No palco, Bruno Nogueira, Nuno Lopes, Romeu Costa e Miguel Damião são Slupianek, Buscher, Braukmann e Seiffert, os quatro amigos da peça escrita por Manfred Karge no final dos anos 80, ainda antes da queda do Muro de Berlim. Flávia Gusmão, Ana Brandão e Nuno Nunes completam o elenco nesta encenação quase punk e anárquica que se faz, muitas vezes, ao som de uma bateria desenfreada e esquizofrénica – o tom certo para aquela vertigem de camaradagem, brincadeira e infantilidade, onde a agressividade e a oposição são constantes mas o sonho e a amizade também. Sempre sem sentimentalismos, quis Beatriz Batarda. “Isto é trágico e a tragédia não é melodramática.”

A Conquista do Polo Sul > Teatro Municipal São Luiz > R. António Maria Cardoso, 38, Lisboa > T. 21 325 7640 > 7-24 abr, qua-sáb 21h, dom 17h30 > €5 a €15