“Será possível devolver ao teatro aquilo que aparentemente o cinema fixou para sempre? Será possível voltar a fazer estas peças sem as cores esplendorosas de Hollywood?”, interrogou-se Jorge Silva Melo, em setembro de 2014, na altura da estreia da sua encenação de Gata em Telhado de Zinco Quente, a peça de Tennessee Williams, que Elia Kazan estreou num palco de Nova Iorque em 1955 mas que, três anos depois, viria a tornar-se conhecida com a adaptação ao cinema feita por Richard Brooks, com Elizabeth Taylor e Paul Newman nos papéis principais. Foi, de facto, essa a imagem que ficou de uma história que, em teatro, é muito mais complexa do que aquilo que nos mostrou o filme.
Dirigidos por Silva Melo, os atores Catarina Wallenstein e Rúben Gomes encontram-se com esta “tortuosa peça” e interpretam Maggie e Brick, papéis que, acredita o encenador, “foram escritos para eles”. Ela muito bonita, com um desejo sexual que até então não era explícito nas personagens femininas para teatro até então, mas rejeitada pelo marido; ele, perna partida depois de uma noitada, sempre de pijama, muleta e copo de whiskey na mão, um dos “fracos e belos que desistem”, como ela própria o acusa, sem nada a perder e disposto a acabar com a mentira em que vive a sua família. Uma tragédia familiar que se tornou um clássico da dramaturgia norte-americana do século XX, falando de falta de afetos, rejeição, indiferença, ódio, doença, disputas por dinheiro, incertezas sexuais, numa sociedade rica e conservadora, incapaz de aceitar as mudanças em curso. Uma peça cheia de personagens que Jorge Silva Melo descreve como no título: “gatos em telhado de zinco quente” – todos em fuga em cima daquele palco.
Jorge Gonçalves
Jorge Gonçalves
Gata em Telhado de Zinco Quente > De Tennessee Williams > Enc: Jorge Silva Melo > Teatro Municipal São Luiz > R. António Maria Cardoso, 38, Lisboa > T. 21 325 7640 > 18-28 fev, qua-sáb 21h, dom 17h30 > €5 a €15