É uma tragédia anunciada, esta. Adivinha-se em cada frase, em cada respiração, em cada movimento das personagens: a atriz envelhecida em depressão, que toma comprimidos cor de rosa e vodka (fantástica Maria João Luís); o já não tão jovem rapaz, que costumava ser o mais bonito da cidade, e agora regressa a casa, a fazer amor em troca de Travelers Cheques (Rúben Gomes), mas ainda na esperança de recuperar a rapariga que em tempos namorou contra a vontade do pai desta, o mayor corrupto e todo-poderoso. Os Artistas Unidos regressam a Tennessee Williams com Doce Pássaro da Juventude, uma peça de “escrita nervosa”, como a descreve Jorge Silva Melo, que também encenou recentemente Gata em Telhado de Zinco Quente, do dramaturgo norte-americano. “É o autor mais nervoso que conheço”, reforça, lembrando que Alexandra Del Lago, a atriz que sonha com o regresso à ribalta, e Chance Wayne, o rapaz que quer sair da província, sempre foram vistos como personagens autobiográficas de Tennessee Williams. Verdadeiras “personagens em carne viva”, acrescenta Silva Melo. E, em pano de fundo, a música de um trompete, como um lamento permanente, sempre em cena, comovente e cruel ao mesmo tempo, a interpelar os espectadores. O tempo é dinamite, como se dirá – para as personagens em palco e para nós. “O cabelo cai e os louros murcham”, ouvir-se-á em palco.
Doce Pássaro da Juventude > De Tennessee Williams > Encenação de Jorge Silva Melo > Teatro Nacional São João > 14-31 jan, qua 19h, qui-sáb 21h, dom 16h > €5 a €16 > São Luiz Teatro Municipal > 4-14 fev, qua-sáb 21h, dom 17h30 > €5 a €15