Cresceram e apareceram os artistas dedicados à ilustração infantil nos últimos anos. Infantil? Não é bem assim, tantos são os leitores adultos que acompanham a produção de livros em que a imagem tem tanto – ou mais – peso do que a história. A Ilustrarte – VII Bienal Internacional de Ilustração Infantil apresenta mais de 150 ilustrações de 50 artistas. O júri, composto por Serge Bloch, Juanjo Oller, Johanna Benz (vencedora da Ilustrarte 2014) e Joana Astolfi, teve de escolher de entre mais de 1700 ilustradores oriundos de 72 países, de latitudes tão diferentes como Austrália, Áustria, Chile, China, Coreia do Sul, França, Irão, Japão, Polónia…
Neste lote selecionado, estão também os ilustradores portugueses Catarina Sobral, Daniel Moreira, Joana Estrela e Teresa Lima. Da primeira, mostram-se as pranchas, dominadas por verdes e vermelhos, retiradas do livro O Meu Avô (Orfeu Negro, 2014). Galardoado com o Prémio Internacional de Ilustração da Feira do Livro Infantil de Bolonha, reinventa as influências do personagem criado por Jacques Tati. Daniel Moreira, pelo seu lado, criou imagens com um toque surrealista: cabanas de longas pernas assentes em pequenas ilhas. Joana Estrela usa uma técnica menos habitual, bordando figuras em fundos sombrios. Por fim, Teresa Lima insufla de lirismo um traço figurativo, mostrando, por exemplo, meninas alongadas sobre a paisagem.
Há ilustrações de todos os géneros para ver nesta Ilustrarte, demonstrando a vitalidade da disciplina. Alguns dos 50 criadores escolhidos exploram um lado solar e gráfico, como esse lago feito de peixinhos azuis onde flutua um nadador de olhos fechados, desenhado pela francesa Marion Barraud (que evoca Um Dia na Praia, do português Bernardo Carvalho, editado pela Planeta Tangerina). Outras ilustrações abordam os territórios do medo: observe-se a reinterpretação da fábula do Capuchinho Vermelho, feita pela espanhola Sandra Rilova, em que a sombra dos lobos domina tudo. Há quem tenha optado pelas colagens, quem tenha aproximado a sua linguagem da da pintura, quem desafie os conceitos do que é tradicionalmente associado ao universo infantil. Há quem faça ilustração minuciosa, com vários escalas e níveis de leitura – é o caso da italiana Claudia Palmarucci, que venceu uma das três Menções Especiais, com os seus extraordinários desenhos dominados pela perspetiva, que representam interiores de casa habitados por uma profusão de personagens, humanos e animais. As outras duas menções foram atribuídas à belga Ingrid Godon (ilustrações poéticas, ‘existencialistas’, em negros e vermelho) e ao espanhol Jesús Cisneros (‘cromos’ expressivos de figuras de corpo inteiro).
Inspiração portuguesa
A vencedora desta VII Bienal Internacional de Ilustração Infantil foi a espanhola Violeta Lópiz, graças aos desenhos criados para a obra escrita por Claudia Thebas, Amigos do Peito (editado em Portugal pela editora Bruáa): páginas povoadas por figurinhas diminutas que ocupam terraços, praças e fachadas, num jogo de escalas e de diluição da identidade. Parecem formigas, estes personagens ocupados a estender roupa, a carregar malas pelas escadarias íngremes, a fazer ginástica dentro de uma casa, ou a passear. A cidade é um formigueiro animado, e os amigos referidos no texto vivem as suas vidas.
No blogue Picturebook Makers, Violeta descreveu o trabalho que a fez, diz, transplantar-se para Lisboa. “Compreendi que este não era um texto nada simples, já que não oferece quase nenhumas pistas e não tem uma história”, descreveu. “Encontrar a ideia, combiná-la com o texto, o estilo, o conteúdo, a técnica, a sequência da página, os personagens, os tamanhos, a composição, a relação com o texto, a paginação do texto… tudo isso implica um puzzle trabalhoso. A certa altura, sentia-me como um Buster Keaton desastrado, a tentar montar uma velha tenda.” O clique aconteceu quando a artista se distanciou do texto, e concentrou esforços na ideia de como representar a amizade. O resultado está patente na exposição, comissariada por Eduardo Filipe e Ju Godinho, que inclui ainda mostras sobre o ilustrador francês Serge Bloch e a escritora Alice Vieira. E para recordar que o mundo também pode ser mudado com um simples traço, as receitas da bilheteira revertem integralmente para a Unicef – Crianças Sírias.
Ilustrarte – VII Bienal Internacional para a Infância > Museu da Eletricidade > Av. de Brasília, Central Tejo, Lisboa > T. 21 002 8190/30 > Até 17 abr, ter-dom 10h-18h > €2