Margarida parece estar num tabuleiro de jogo. E, sob as luzes de uma discoteca, dança. À sua volta dançam também coelhos engravatados, seres mágicos e misteriosos, que, por vezes, parecem fazer dela um peão. Mas só por vezes, que, muitas outras, é ela que escolhe por onde ir. Na nova peça do Teatro Aberto, em Lisboa, a encenadora Marta Dias trouxe para mais perto de nós o texto do dramaturgo norte-americano David Lindsay-Abaire Boas Pessoas, sobre uma mulher que, despedida da Loja de Tudo a Um Euro, tenta arranjar emprego. Em palco, a atriz Maria João Abreu é Guida e, num misto de orgulho e revolta, há de dizer: “A gente crescemos no bairro”. Má sorte ou más escolhas pelo caminho? “Interessou-me logo este lado mais político e social da peça”, diz Marta Dias sobre esta sua terceira encenação no Teatro Aberto (depois de Vénus de Vison e Pelo Prazer de a Voltar a Ver). Em cena, perceberemos, nada é nunca branco ou preto. Ali ninguém encontrará, como sugere o título, “boas pessoas”. “Todos são apenas pessoas, ninguém é só bom ou só mau. As pessoas são complexas. É uma das coisas que admiro neste texto: a capacidade de construir, de forma tão simples, personagens tão humanas e que reagem conforme as situações, sendo fracas mas tentando ser fortes”, sublinha a encenadora. Orgulho, ambição, sorte e azar, egoísmo e generosidade, fatalidades e escolhas, mentiras e verdades – tudo cabe em cada um dos que entram nesta história: Margarida, mas também a sua melhor amiga (Sílvia Filipe), a sua senhoria (Irene Cruz), o rapaz que viu crescer e que agora a despede (Luís Lucas Lopes), o seu antigo namorado que entretanto é rico (Pedro Laginha) e a mulher deste (Leonor Seixas). “Faz-nos pensar e ter atenção à nossa relação com os outros”, nota Marta Dias. “Nunca há só uma perspetiva”, acrescenta.
Boas Pessoas > Teatro Aberto > R. Armando Cortez, Lisboa > T. 21 388 0089 > a partir 17 dez, qua-sáb 21h30, dom 16h > €7,50 a €15