Foi num passeio pelas ruas de Berlim, a cidade onde vive, que Anna Winger ouvir falar pela primeira vez de Varian Fry. O seu pai, o antropologista Robert A. LeVine, professor em Harvard, conhecia a história do jornalista norte-americano, enviado pelo Comité de Resgate de Emergência (Emergency Rescue Committee, no original) à Europa, que ajudou a salvar duas mil pessoas, na sua maioria judeus, perseguidos pelos nazis e o governo de Vichy numa França ocupada.
A história, passada há cerca de dez anos, é contada pela própria Anna Winger (também ela judia) ao jornal The Forward, antes da estreia de Transatlântico na Netflix. A coautora da série de sete episódios, gravada na cidade portuária de Marselha, em França, começou a trabalhar no projeto em 2019 – ainda durante a produção da minissérie Unorthodox, também da sua autoria –, a partir do romance The Flight Portfolio, de Julie Orringer, sobre Varian Fry.
O jornalista chegou a Marselha em 1940, numa altura em que os EUA ainda não tinham entrado na guerra – e depois de ter testemunhado o abuso de judeus em Berlim, cinco anos antes. Na lista dos mais procurados pelos nazis constavam os nomes dos artistas Max Ernst, Marcel Duchamp e Marc Chagall, a filósofa Hannah Arendt, os escritores Heinrich Mann e André Breton, e de Alma Mahler, que conseguiu escapar pelos Pirenéus, com a Sinfonia N.º 10, a última obra do marido, Gustav Mahler.
Na série, Fry (o ator Cory Michael Smith) tem a seu lado Mary Jayne Gold (Gillian Jacobs), uma herdeira norte-americana que traz dinheiro e contactos à missão, assim como o intelectual judeu alemão Albert O. Hirschman (Lucas Englander). A ajudar à narrativa, estão também o cônsul norte-americano em Marselha, Hugh S. Fullerton (na série, com o nome Graham Patterson), interpretado por Corey Stoll, que desaprova os intentos do trio, e o vice-cônsul Hiram Bingham IV (Luke Thompson), interessado em ajudar Fry. Muitas das situações relatadas na série, assim como algumas personagens, são ficcionadas para se contar uma história verídica.
As filmagens de Transatlântico começaram no início de 2022. A guerra na Ucrânia estalou dias depois, com milhares de pessoas a concentrarem-se junto à fronteira, na esperança de conseguir fugir.
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