1. Severance (Apple TV+)
De tão estranha que é (entenda-se diferente), a série Severance cativou os espectadores com o seu enredo sci-fi original – que lhe vale a nomeação para o Globo de Ouro de Melhor Série de Drama – numa realização arriscada e consistente de Ben Stiller, ator ainda associado à comédia. Esta espécie de The Office numa Twilight Zone, sem humor explícito, mas com suspense que chegue, parte de uma premissa arrepiante. E atores como Adam Scott e John Turturro (ambos nomeados nos Globos de Ouro nas categorias de representação), Patricia Arquette e Christopher Walken ajudam na equação.
E se, na sua empresa, lhe propusessem separar as suas memórias pessoais das profissionais, através de um procedimento cirúrgico irreversível? É o que se passa na Lumon Industries, em que os funcionários ganham (ou perdem) uma nova identidade a cada manhã. São duas pessoas diferentes para um mesmo corpo. Na calha estão dez novos episódios.
2. Inventing Anna (Netflix)
A quem se deve o sucesso desta série? À atriz Julia Garner e ao seu rigoroso desempenho (já dava que falar desde Ozark e agora está nomeada para o Globo de Ouro nas categorias de representação pelas duas personagens) ou à verdadeira Anna Delvey, uma burlona russa que se finge alemã e, em Nova Iorque, conseguiu usufruir de longas estadas em hotéis de luxo, viagens em jatos particulares, refeições nos melhores restaurantes de Manhattan, sessões em spas e salões de beleza – tudo sem pagar um tostão? No streaming, o início de 2022 fica marcado pela tendência de séries sobre vigaristas, a começar por O Impostor do Tinder, mas a verdade é que Inventing Anna, na segunda semana de exibição, contabilizava 3,3 mil milhões de minutos de visualizações. A produção de Shonda Rhimes distingue-se pelo insólito da história real, mas a narrativa desta golpista genial é feita de requintes de vigarice e a sua falta de arrependimento torna a burla ainda mais cinematográfica.
3. Casa do Dragão (HBO Max)
Quando acabou a Guerra dos Tronos (GoT), todos vimos naquele final uma mão cheia de possíveis sequelas. Uns iriam com Jon Snow para o gélido norte; outros seguiriam o reinado de Bran, the Broken. Talvez a maior parte de nós escolhesse ir mar fora com Arya, descobrir novos mundos. Já em questão de prequelas, os fãs do escritor George R.R. Martin têm bastante por onde escolher. A HBO escolheu dar-nos a história dos antepassados de Danaerys, aqueles louros platinados que dominam os dragões. A casa Targaryen é, de facto, a mais fascinante de Westeros. Dela se diz que, quando nasce um Targaryen, os deuses atiram uma moeda ao ar – ou vem aí grandeza ou vem aí loucura. A Casa do Dragão – que bateu os recordes de audiência da HBO e está nomeada como melhor série dramática para os Globos de Ouro – pode ter desiludido alguns fãs de Guerra dos Tronos. É uma história mais contida, centrada numa só família, ao contrário dos muitos enredos de GoT, além de já não beneficiar da novidade daquela atmosfera tão particular do universo de R.R. Martin. Mas é inegável a grande qualidade desta prequela, com cenários impressionantes, muito cuidado nos pormenores (tal como GoT) e uma estética envolvente… diálogos geralmente de grande nível e atores à altura. Contas feitas, foi mesmo a estreia do ano. A.C.
4. Causa Própria (RTP Play, HBO Max)
Somos admiradores de Nuno Lopes e de Margarida Vila-Nova, dois dos protagonistas da série de drama Causa Própria. Mas também consideramos muito Rui Cardoso Martins, autor das crónicas na imprensa portuguesa Levante-se o Réu, “histórias que tantas vezes parecem inventadas, mas são verdadeiras.” O jornalista e escritor assistia a audiências aleatórias, “à pesca” do que se passa nos tribunais portugueses, principalmente na província. O que era para ser uma série passada sobretudo em tribunais, com um caso judicial por episódio, passou a ser uma grande história de uma juíza, que tantas vezes põe a vida em suspenso em nome da profissão. O público gostou e os atores também – poderemos esperar por uma segunda temporada?
5. The Dropout – A História de Uma Fraude (Disney+)
A ascensão e queda de Elizabeth Holmes, 38 anos, a empreendedora que se tornou milionária e prometia uma revolução na saúde, deu uma grande história para esta minissérie da Disney, nomeada para um Globo de Ouro, assim como a sua protagonista, a atriz Amanda Seyfried. Mas comecemos pelo fim. Em janeiro de 2021, a dona da Theranos, startup biomédica com 500 empregados e avaliada em nove mil milhões de dólares, foi considerada culpada de várias fraudes eletrónicas e de conspiração para as cometer. Agora, a “menina bonita” de Silicon Valley foi condenada a pouco mais de 11 anos de prisão. Escreve o jornal New York Times que está previsto que se apresente na prisão em 27 de abril de 2023. Quem sabe se não dará uma segunda temporada?
6. O Velho (Disney+)
Ter 73 anos e o charme e o carisma, permite a Jeff Bridges carregar às costas a série O Velho (The Old Man), estando aliás nomeado para o Globo de Ouro de Melhor Ator, assim como o colega de contracena John Lithgow. Em O Velho, Bridges interpreta um agente da CIA na reforma, escondido há três décadas, que ao ver-se perseguido pela agência em que trabalhou, revive uma série de traumas antigos mal resolvidos, alguns do tempo passado no Afeganistão durante a guerra soviético-afegã. A segurança de um bom argumento, baseado no livro homónimo de Thomas Perry, aliada à serenidade da idade são suficientes para o ator californiano – um dos Fabulosos Irmãos Baker (filme de 1989) e o eterno Grande Lebowski (1998) – voltar a estar na ribalta.
7. The White Lotus (Netflix)
O carisma do gerente Armond (Murray Bartlett) – protagonista de algumas das cenas mais hilariantes e absurdas da primeira temporada –, fez a diferença para uma estreia auspiciosa, em 2021, corroborada com uma dezena de prémios Emmy. Este ano, o furor dos sete episódios da segunda temporada ficam colados à personagem de Jennifer Coolidge, a histriónica e rica Tanya pronta para umas férias românticas, mas também à atriz Aubrey Plaza, no papel de Harper, uma advogada bem-sucedida e sem filtros. A fórmula de sucesso manter-se-á para a já anunciada terceira temporada: sabemos que as dúvidas da primeira cena serão esclarecidas nos derradeiros minutos do último episódio, haverá novos hóspedes de férias num hotel de luxo, quem sabe num destino asiático, a apelar mais à espiritualidade.
8. Obi-Wan Kenobi (Disney+)
Era uma das estreias mais aguardadas de 2022 e conseguiu o seu lugar no pódio das preferidas. É Star Wars puro e clássico com Ewan McGregor e Hayden Christensen de volta aos papéis de Mestre Jedi e de Darth Vader. Obi-Wan Kenobi passa-se dez anos após A Vingança dos Sith (Episódio III, de 2005) quando Obi-Wan se refugia no planeta desértico de Tatooine ainda não refeito da sua maior derrota: a viragem do seu aprendiz Anakin Skywalker para o Lado Negro da Força, como Darth Vader. E ajuda-nos a perceber como chegámos ao Episódio IV – Uma Nova Esperança, o primeiro filme de todos, há 45 anos. Devoção. A palavra ajuda a explicar o frenesim de cada vez que se conta mais uma parte dessa história que começou “há muito tempo, numa galáxia muito, muito distante”.
9. Dahmer – Monstro: A História de Jeffrey Dahmer (Netflix)
Por aqui as figas estão feitas, a torcer por Evan Peters, nomeado para o Globo de Ouro de Melhor Ator – tal como Richard Jenkins e Niecy Nash nas categorias de atores secundários – na série de Ryan Murphy e Ian Brennan também nomeada para a melhor do ano. Mais um caso, em que o sucesso da série tanto se deve ao protagonista, como à história verídica representada. Não se trata só de caracterização, é mesmo de alma. Com o género true crime em ascensão, sobretudo no catálogo da Netflix, Dahmer – Monstro: A História de Jeffrey Dahmer não é uma série que se veja de ânimo leve. Mas, a verdade é que a frieza deste serial killer que, entre 1978 e 1991, matou 17 jovens rapazes, entre negros, asiáticos e homossexuais, usando e abusando de métodos necrófilos e de canibalismo, torna o binge-watching viciante.
10. The Bear (Disney+)
O boca-a-boca funcionou, mas a verdade é que o buzz gerado nas redes sociais e as boas críticas na imprensa internacional muito ajudaram ao sucesso desta série. Se Anthony Bourdain fosse vivo, The Bear deveria ser a preferida do ano para o chefe, apresentador e autor do livro Kitchen Confidential, onde escrevia sobre a importância das brigadas que trabalham 18 horas no fogão quente, empunhando facas japonesas afiadas.
O ritmo frenético da realização dos primeiros episódios é compatível com o frenesim da cozinha liderada por Carmy (Jeremy Allen White, nomeado para o Globo de Ouro de Melhor Ator), que fica a tomar conta do restaurante de sanduíches da família, regressando à sua terra natal, Chicago, depois da morte do irmão mais velho. Sem mise en place, comida ou técnicas, é precisamente nessa “panela de pressão” constante que The Bear se distinguiu. A segunda temporada já está a caminho.