1. Não Olhem Para Cima, Netflix
Após a estreia nas salas de cinema, chega à plataforma de streaming esta tragicomédia apocalíptica e ácida, com um elenco de luxo. Com Leonardo DiCaprio, Jennifer Lawrence, Meryl Streep, Cate Blanchett, Timothée Chalamet, Melanie Lynskey e ainda um papel pequeno para Ariana Grande, Não Olhem para Cima é uma espécie de Paris Saint-Germain dos filmes. Mas, tal como acontece com a equipa francesa, não ganha todos os jogos. Não será o melhor filme do ano, e aguarda-se com expectativa qual será o seu desempenho nos Oscars.
Certo é que ética e socialmente é relevante e funciona como um novo grito de alerta para a necessidade de ouvir os cientistas e salvar o planeta. No filme, a ameaça é um meteoro gigante que se dirige para a Terra, e cujo impacto significa a extinção da vida como a conhecemos. Este corpo invasor pode e deve ser entendido como uma metáfora para o apocalipse ambiental. Em Não Olhem para Cima, o mundo – dos governantes aos vulgares consumidores de reality shows – anda demasiado distraído com o poder político, económico, mediático e as futilidades quotidianas para perceber o que realmente se está a passar. Nem a Presidente, nem os noticiários sabem bem como e onde encaixar o fim do mundo na sua agenda.
O filme investe nessa crítica social, abordando o drama sem nunca tirar um pé da comédia. Há reminiscências óbvias de Dr. Estranhoamor, de Kubrick – basta olhar para as personagens de Peter Isherwell e do coronel Ben Drask. Mas às tantas também parece fazer a fusão de Kubrick com um filme menor, como Manobras na Casa Branca, de Barry Levinson. Não obstante, Leonardo DiCaprio está em grande e Meryl Streep não sabe estar de outra forma. M.H. Netflix > Estreia 24 dez
2. Being The Ricardos, Amazon Prime Video
I Love Lucy foi, na década de 50 do séc. XX, um dos espetáculos de televisão mais populares nos Estados Unidos, protagonizado por Lucille Ball e Desi Arnaz. Neste filme, Nicole Kidman e Javier Bardem têm o enorme desafio de encarnar o carismático casal de atores, que viveu uma complexa relação romântica e profissional. O enredo acompanha os bastidores de uma semana de gravações da sitcom, especialmente atribulada, em que Ball tem de defender-se das acusações de pertencer ao Partido Comunista (um episódio pouco conhecido da sua biografia) e, ao mesmo tempo, lidar com as infidelidades do marido. Being The Ricardos, escrito e realizado por Aaron Sorkin (vencedor de um Óscar de Melhor Argumento pelo filme A Rede Social), está nomeado para os Globos de Ouro e Critics Choice Awards 2022 e fica disponível, em exclusivo, na plataforma de streaming. Prime Vídeo > já disponível
3. A Mão de Deus, Netflix
Paolo Sorrentino assume a herança felliniana neste novo filme autobiográfico, que não chegou a passar pelas salas de cinema e que venceu o Grande Prémio do Júri em Cannes. Filmado em Nápoles, remete para os anos 80 do séc. XX, em que a cidade vive a euforia pela chegada de Diego Maradona, uma figura com algo de divino. Este é o pano de fundo da história protagonizada pelo adolescente Fabietto (o ator Filippo Scotti, no papel do jovem Sorrentino), a aprender a lidar com as dores do crescimento e, sobretudo, com a tragédia que se abate sobre a sua família. No cinema, encontra a salvação. Povoado por personagens excêntricas, cenários monumentais e episódios surrealistas, é temperado pela ternura com que o realizador napolitano recorda a memória dos pais. Netflix > já disponível
4. Cânticos de Natal com Lucy Worsley, RTP2
Como surgiram as canções de Natal? E o que nos revelam sobre a própria história da época natalícia? A partir das mais célebres melodias natalícias, contam-se episódios surpreendentes, que envolvem desde rituais pagãos a conflitos religiosos e militares. O documentário é apresentado por Lucy Worsley, historiadora britânica com um longo currículo em produções históricas da BBC, simultaneamente lúdicas e didáticas. Lucy percorre locais como a Biblioteca Britânica, as aldeias de Surrey ou os Alpes austríacos, em busca dos pormenores menos conhecidos dos cânticos. Tudo musicalmente ilustrado pelo The Kingdom Choir e o Coro de Hampton Court. RTP2 > 25 dez, sáb 19h15
5. Encanto, Disney +
Depois de se ter estreado no cinema, Encanto chega agora à plataforma de streaming Disney Plus. O novo filme de animação da Walt Disney Animation Studios tem como cenário a cidade de Encanto, um lugar maravilhoso nas montanhas da Colômbia. Ali vive a família Madrigal, cujas crianças são abençoadas por dons mágicos. Não é o caso de Maribel, a protagonista desta história, a única Madrigal comum. Não possui uma força extraordinária, a capacidade de falar com os animais ou o poder de curar. Mas revela ser tão especial quanto os restantes membros da família, ao enfrentar os perigos que se abatem sobre a sua casa. O realismo mágico de escritores sul-americanos como Gabriel García Márquez e Isabel Allende serve de inspiração ao enredo. Encanto conta com a realização de Byron Howard, Jared Bush e Charise Castro Smith, ao passo que as músicas originais foram compostas por Lin-Manuel Miranda, o “senhor Broadway”, conhecido pelo musical Hamilton. Disney+ > Estreia 24 dez, sex
6. Gisela João apresenta AuRora, RTP2
Editado em abril deste ano, AuRora é o disco mais intimista de Gisela João, em que se estreia como letrista e compositora. Composto, sobretudo, por canções originais, contou com produção de Michael League, multi-instrumentista, compositor e produtor que se notabilizou como baixista e frontman dos Snarky Puppy, banda norte-americana. Esta é a gravação do concerto que deu, em novembro, no Coliseu de Lisboa, com o palco transformado numa floresta encantada. As músicas apresentadas, entre estreias e clássicos, oscilam entre registos melancólicos e alegres, revelando a envolvência singular desta voz quente e rouca. RTP2 > 25 dez, sáb 21h30
7. O Livro de Boba Fett, Disney+
Mesmo quem não acompanha desde sempre a saga intergaláctica mais rentável do cinema reconhece a importância de um novo capítulo de Star Wars. Começa agora a concretizar-se o que tinha sido anunciado há oito anos: George Lucas e a Disney iriam produzir dois spin-offs. A história de Han Solo, na série de seis episódios Star Wars: Obi-Wan Kenobi com Ewan McGregor, vai estrear-se no próximo ano; e de Boba Fett que protagoniza agora aquela que é apelidada de “temporada 2.5” de The Mandalorian (enquanto não chega a terceira). Boba Fett salta daquele faroeste no Espaço, um western com armas laser e naves espaciais passado 25 anos após o fim de O Regresso do Jedi e que conta a história de um caçador de recompensas que encontra uma criança misteriosa. Um regresso anunciado no crédito final surpresa no fim da segunda temporada de The Mandalorian. O caçador de recompensas e a mercenária e assassina de elite Fennec Shand (Ming-Na Wen) andarão pelo submundo da galáxia quando retornam às areias do deserto de Tatooine para reivindicar o território em tempos governado pelo gangster alienígena Jabba the Hutt. O ator neozelandês Temuera Morrison, no papel de Boba Fett, entrou na saga Star Wars, em 2002, no Episódio II – Ataque dos Clones no papel de Jango Fett, o pai de Boba. Um dos maiores desafios da série de sete episódios é explorar o passado da personagem e revelar o que terá acontecido desde O Império Contra-Ataca (1980), filme em que surge pela primeira vez (é ele quem captura Han Solo e o entrega a Darth Vader). O realizador Robert Rodriguez, que dirigiu o episódio “mandaloriano” que repesca Boba Fett – um sonho que tinha desde os 12 anos, quando na escola falavam desta personagem misteriosa –, regressa também à realização e à produção executiva, tal como Jon Favreau e Dave Filoni. S.C. Disney+ > estreia 29 dez, qua > 7 episódios, um novo a cada quarta
8. O Poder do Cão, Netflix
Há muito que se aguardava um novo filme da realizadora neozelandesa Jane Campion (o último foi Bright Star – Estrela Cintilante, em 2009). Baseado no livro de Thomas Savage (1967), O Poder do Cão, produzido pela Netflix, leva-nos ao velho Oeste do Montana, em 1925, e retrata a história dos irmãos Burbank que gerem o rancho herdado dos pais: o cruel e rude Phil (Benedict Cumberbatch) e o gentil e bem-formado George (Jesse Plemons). George acaba por se casar com a viúva Rose (Kirsten Dunst), dona de uma estalagem, cujo filho adolescente Peter (Kodi Smit-McPhee) se entretém com atividades pouco comuns nos homens, como criar flores de papel. Com banda sonora de Jonny Greenwood, o guitarrista genial dos Radiohead, O Poder do Cão deu a Campion o prémio de Melhor Realização no Festival de Veneza. Um filme sobre as profundezas obscuras do ser humano, numa incrível interpretação de Benedict Cumberbatch que o pode levar ao Oscar. F.A. Netflix > já disponível
9. Swan Song, Apple TV
Apesar de o filme se passar num futuro próximo, em Swan Song tudo o que é posto em causa são velhas questões. Cameron Turner está a morrer e sabe disso. À personagem interpretada por Mahershala Ali, vencedor de dois Oscars de melhor ator secundário em Moonlight e Green Book, foi diagnosticada uma doença terminal, mas também lhe foram apresentados um tratamento e uma solução (muito alternativa) para que a sua família, a mulher Poppy (Naomie Harris, a Moneypenny dos dois últimos filmes da saga 007) e o filho pequeno não sofram com o seu desaparecimento.
Modificando o seu ADN, Cameron verá nascer um novo eu, que viverá a sua vida. Este será o terceiro clone da clínica da doutora Scott, a atriz Glenn Close na pele de uma médica sem bata branca, sofisticada e persuasiva, para quem esta troca de identidades é uma questão de tempo até ser tão comum como um transplante de coração. O dilema de uma vida resolve-se quando Cameron fica a saber que vai ser pai novamente – preocupa-o desaparecer e deixar a família sozinha. Toda a informação de Cameron é passada para o novo Cameron como se de um disco rígido se tratasse; tudo é transferido, até as memórias mais recônditas do seu subconsciente. Apenas um sinal na mão os distingue. Neste futuro próximo – a primeira longa-metragem realizada por Benjamin Cleary, vencedor do Oscar de melhor curta com Stutterer, que também assina o argumento original –, o ambiente é sereno, pautado por alguma modernidade incorporada no dia a dia, seja em carros de design, seja em auriculares, relógios ou lentes de contacto com câmaras integradas. A ética, a vida e a morte, o desejo de eternidade: tudo é questionável. S.C. Apple TV > já disponível
10. The Beatles: Get Back, Disney+
Na história da música popular nada se compara ao poder de atração dos Beatles. Só assim se explica que, mais de 50 anos passados sobre o fim da banda, um “novo” documentário, dividido em três partes, se estreou no canal Disney+ com grande alarido global. Get Back, com Peter Jackson aos comandos, parte das gravações originais que deram origem ao filme Let It Be e quer, de alguma forma, alterar essa narrativa. O processo para o fazer foi longo e prometem-se surpresas no resultado final. Ao longo de quatro anos, o realizador neozelandês e a sua equipa mergulharam em mais de 60 horas de filmagens e ainda mais tempo de gravações áudio. Aquilo com que Jackson se confrontou, e o ocuparia de forma quase obsessiva, foi o resultado de filmagens exaustivas feitas por Michael Lindsay-Hogg durante 22 dias de janeiro de 1969, nos estúdios cinematográficos Twickenham, nos subúrbios londrinos, e na sala de gravações da Apple, no número 3 de Saville Row, Londres.
Por essa altura, os Beatles tinham chegado ao ponto de poderem escolher o caminho que mais lhes apetecesse percorrer. O arrojado “álbum branco” (oficialmente chamado simplesmente The Beatles), duplo, tinha sido lançado, com sucesso global, em novembro de 1968 e, no verão desse ano, tinha-se estreado o filme Yellow Submarine. Optaram por voltarem a juntar-se como nos velhos tempos, ensaiando, improvisando e compondo (sempre com uma equipa de cinema a registar todos os momentos) com vista a um novo álbum que seria gravado ao vivo num programa especial de televisão pronto para bater recordes. O nome de trabalho dessa sessão seria Get Back. Mas foram percebendo que o regresso a uma simplicidade ou pureza original não era uma via fácil – ou, sequer, possível. Vinham de dois anos em que o trabalho demorado de estúdio, com muitas experiências tecnológicas à mistura, era a sua rotina enquanto banda, e a composição de canções em equipa, apenas com os seus instrumentos, tornou-se um lugar de desconforto. No fundo, já não eram os mesmos. Michael Lindsay-Hogg filmava tudo, em 16 milímetros, mesmo em muitos momentos em que os músicos julgavam que as câmaras estavam desligadas. A ideia do programa especial de TV foi abandonada e o grande concerto sonhado, com canções novas, acabou por ser a última atuação da história dos Beatles: apanhando todos de surpresa, no terraço do edifício da Saville Row, no dia 30 de janeiro de 1969, em pleno inverno londrino. Todas as filmagens desse processo foram vistas repetidamente por Peter Jackson, ao mesmo tempo que se melhorava a qualidade das imagens e do som. Há, por exemplo, momentos em que os músicos tocam acordes aleatórios só para que não se perceba o que estão a dizer, mas as tecnologias do século XXI permitiram separar e limpar tudo. P.D.A. Disney+ > já disponível