Os primeiros 24 minutos do filme não são para qualquer um. Mas é nesta sequência impressionante de cenas cruas, de sofrimento sem filtros, da condição feminina de Martha (brilhante interpretação da atriz britânica Vanessa Kirby, 32 anos), mulher/mãe que resolve fazer o parto natural em casa, que reside todo o enredo de Pieces of a Woman. O momento que deveria ser de felicidade para Martha e Sean (Shia LaBeouf) – ela, executiva numa empresa; ele, operário da construção civil – acaba em tragédia, com a morte da bebé. O que se segue é a repressão da dor de uma mulher durante o luto e a consequente destruição da vida do casal, dominado pela mãe de Martha (Ellen Burstyn), que quer levar a parteira (Molly Parker) a julgamento. Pelo meio, imagens que testemunham a tragédia que se abateu sobre os dois: loiça suja na cozinha, plantas murchas, a infidelidade do marido, o gosto quase catártico de Martha pela germinação de sementes de maçã… tudo isto, com uma ponte em construção (onde Sean trabalhava) a assumir um papel cronológico no relato desta história passada em Boston.
Quando se estreou em competição, em setembro de 2020, no 77º Festival Internacional de Cinema de Veneza, Pieces of a Woman valeu a Vanessa Kirby (a princesa Margaret nas duas primeiras temporadas de The Crown) o prémio Volpi Cup para Melhor Atriz. E não deve ficar por aqui. Disponível na Netflix, o filme, o primeiro em língua inglesa do realizador húngaro Kornél Mundruczó (White God, vencedor da mostra Um Certo Olhar, em Cannes, 2014), com argumento de Kata Wéber, tem produção executiva de Martin Scorsese.
Pieces of a Woman > Já disponível na Netflix