Não há dias cinzentos e chuvosos que demovam os clientes da Giola Gelato de pedir cones e copos de gelados como se fosse uma tarde de verão. A geladaria, um projeto de Luís Matoso e Maria Alvarez García, faz parte do rol de novidades gastronómicas da Praça das Flores, que ciclicamente se vai renovando no que a restaurantes, bares e comércio diz respeito.
Na Giola, entre os 24 sabores à disposição, está o de morango com hortelã, sabor assinatura da casa, chocolate extra dark, uma alternativa vegan, os clássicos stracciatella, nata com ginja e um saborosíssimo pistácio. Greta Lupano, gerente e responsável pelo fabrico destas delícias artesanais, destaca ainda o sabor a canela “que os portugueses adoram” – “mas a oferta tenta agradar ao maior número de pessoas possível”, diz.
Na porta ao lado, a ucraniana Alona Babko, 32 anos, está a terminar os preparativos para a primeira exibição cinematográfica no Sino Bar. “É uma noite diferente, vamos projetar a curta-metragem documental It’s Just My Happy Place, de Liubava Petriv, realizadora ucraniana que está hoje aqui connosco”, conta-nos, sorridente.
Alona veio para Lisboa para fugir da guerra no seu país e imaginou o Sino como “um lugar onde se dá a conhecer a Ucrânia”: “Tem alma ucraniana, mas de uma forma leve e descontraída. Não somos só a guerra atual, somos muito mais do que isso, História, cultura, artistas…”
Sino em ucraniano significa feno, e a palhinha que forra os tetos da casa faz alusão a esse material; o chão é em azulejo português, cruzando as tradições portuguesas e ucranianas. Quando descobriu o espaço, encontrou-o sem luz nem água e com obras por fazer, mas no local certo. “Os meus amigos trouxeram-me à Praça das Flores para beber um copo e eu gostei logo do sítio, faz-me lembrar uma zona hipster que também temos em Kiev, fez-me sentir em casa.”
Ao balcão do rés do chão ou no primeiro andar, serve, em shots ou cocktails, uma bebida tradicional feita com vodka e aromatizada com fruta. Pode ser ananás, cereja ou outro fruto, e no dia em que visitámos o Sino até havia uma versão especial feita de amoras, gengibre e mel. Também há cerveja artesanal e algumas referências de vinhos naturais portugueses.
Cozinha do mundo
Nesta praça bebe-se, dentro e fora de portas, mas também se come com inspiração em várias partes do mundo. Na Cantina Flores, servem-se tacos e quesadillas, comida tipicamente mexicana de que as proprietárias, as irmãs norte-americanas Mickey e Mindie Spencer, sentiam falta em Lisboa. Na fachada está uma janela para o serviço de takeaway, para o caso de se querer levar essas iguarias para casa ou para os bancos de jardim, ali mesmo ao lado.
A cozinha francesa prova-se no Õ Bistro, na esquina da praça com a Rua Marcos Portugal. São duas portas: uma dá para o bar, a outra diretamente para este restaurante acolhedor, de espírito parisiense, ou não fossem os proprietários franceses.
“Somos um bistro e temos alguma coisa de brasserie”, diz-nos a subgerente Alicia Cochet, enquanto espreitamos o menu. Tábuas de charcutaria e queijos, rillete caseira de pato e pickles ou foie gras e brioche marmelo são algumas das sugestões que os clientes, portugueses e estrangeiros, têm provado e aprovado. Nesta altura do ano só servem jantares, mas lá para março passam a abrir aos almoços, como outros restaurantes da zona.
Boa vizinhança
Desde que o Cotovia abriu portas, em setembro, no número 46, a Praça das Flores nunca mais foi a mesma. Diz-nos Manuel Sant’Ana, um dos responsáveis, “que às sextas e sábados há enchente”: “Chegámos a ter 400 pessoas lá fora, estamos na berra.”
Manuel regressou a Portugal há cerca de dois anos, depois de uma passagem por Inglaterra para aprender e aperfeiçoar a profissão de bartender. A ideia de ter um bar vem desde muito jovem, e agora imaginou o pequeno Cotovia como um bar clássico de cocktails de assinatura, com carta curta e sazonal, e convidou para sócios os amigos Tiago Costa e Miguel Oliveira. O sucesso foi imediato. “A Praça da Flores estava na moda para os estrangeiros, faltava alguma coisa para os lisboetas que ainda não tinham descoberto a zona.”
A carta tem cinco cocktails de autor e um cocktail do mês, e muda quatro vezes por ano. Há, ainda, cerveja e vinho. Na próxima semana estreia-se uma carta nova com sugestões mais quentes e intensas batizadas com os nomes de alguns vizinhos, em jeito de homenagem: Generosa, Maria, Bento, António e Elvira vão poder beber-se ali – sentados, se for durante a semana quando há serviço de mesa, ou na praça, com as enchentes das sextas e dos sábados.
Quase sempre cheio até à porta, o Black Sheep tem agora um espaço maior no número 63, onde funcionava a Cerveteca. “São dois bares de vinhos completamente diferentes, mantemos o primeiro a funcionar, no número 62, mas este é a concretização do que sempre quisemos fazer no Black Sheep, mas não conseguimos por falta de espaço”, explica Bruna Aguiar.
Além das várias referências de vinho servido a copo ou garrafa, houve espaço para acrescentar champanhes e xerez, duas paixões de Bruna, que com o marido, Lucas Ferreira, dinamiza esta extensão do Black Sheep com uma série de iniciativas ligadas ao mundo dos vinhos: “Temos música, lançamentos de vinhos, conversas com produtores nacionais e estrangeiros, provas, mercados…”
A primeira garrafeira não alcoólica de Lisboa, um projeto do alemão Jeremias Look, está a curta distância. A The Other Bottle começou com a venda online, distribuição para restaurantes de alta gastronomia e hotéis de cinco estrelas, até abrir ao público em outubro e pôr à disposição e à prova as cerca de 150 referências do seu portefólio de bebidas.
Há vinhos e espumantes, bebidas espirituosas, cervejas artesanais, cidras, de diversas proveniências e para todos os gostos. “As bebidas sem álcool são uma alternativa interessante e saborosa com qualidade, grande parte é artesanal.
O mercado está em crescimento e há cada vez mais gente a optar por elas”, explica Jeremias. A The Other Bottle vai tendo iniciativas para apresentar estas bebidas, que podem conhecer-se visitando as suas redes sociais. Ou, melhor ainda, ir passando frequentemente pela bonita Praça das Flores, onde há sempre muito a acontecer, em qualquer dia do ano.
Porta a porta
Novos pontos de paragem para explorar na vibrante Praça das Flores
Giola Gelato > Pç. das Flores, 5, Lisboa > seg-qui 16h-24h, sex-dom 12h-24h
Sino Bar > Pç. das Flores, 6, Lisboa > seg-dom 19h-1h
Cotovia Cocktail Bar > Pç. das Flores, 46, Lisboa > ter-sáb 18h-2h
Cantina Flores > Pç. das Flores, 59, Lisboa > seg-qui 17h-24h, sex-dom 12h-24h
Black Sheep > Pç. das Flores, 62-63, Lisboa > T. 93 894 6752 > qua-qui 19h-24h, sex-sáb 19h-1h
Õ Bistro > R. Marcos Portugal, 1, Lisboa > qua-dom 19h-2h
The Other Bottle > R. Marcos Portugal, 18 B, Lisboa > ter-sáb 11h-20h