Há benefícios, muitas vezes invisíveis, da emigração qualificada, mesmo numa pequena economia aberta, como a portuguesa, inserida num espaço muito maior como é o da União Europeia. Quem emigra contribui, direta e indiretamente, para o desenvolvimento do seu país de origem, e até melhora a vida daqueles que optam por ficar. Como? Ao alcançarem sucesso, servem de modelo inspirador para que, os que permanecem, estudem mais e conquistem melhores salários e maior bem-estar. Um estudo que aborda estes benefícios indiretos da emigração qualificada, em vários países do mundo, foi publicado no passado dia 22 na revista Science, e tem como um dos autores a investigadora portuguesa Cátia Batista. Intitulado Brain drain or brain gain? Effects of high-skilled international emigration on origin countries (Fuga ou ganho de cérebros? Efeitos da emigração internacional de profissionais altamente qualificados nos países de origem), o artigo foi o pretexto para uma conversa com a também professora na Nova SBE, para quem – e ao contrário do que o título do estudo possa sugerir – o desafio passa principalmente pela criação de incentivos para o aumento da “circulação” de cérebros. Só assim Portugal conseguirá que os jovens qualificados, portugueses ou estrangeiros, residentes em qualquer parte do mundo, queiram trabalhar e viver entre nós.
A emigração do talento é um problema num país como Portugal? A nossa economia está inserida na União Europeia, um espaço muito maior onde se pagam melhores salários…
Não necessariamente. No artigo que publicámos na Science, analisamos os impactos da emigração qualificada no desenvolvimento económico de um país. Para quem sai, emigrar é bom. Nada consegue melhorar mais o bem-estar de uma pessoa do que sair de um país pobre para um país mais rico. A política mais eficaz de combate à pobreza é a emigração. Neste artigo, tentámos perceber como fica o país de origem de quem emigra. Estudámos muitas economias, até mais pequenas do que a portuguesa, em que as taxas da emigração qualificada são enormes. No Canadá, 66% dos licenciados em Engenharia Informática vão trabalhar para o estrangeiro. Na Etiópia, 91% dos doutorados nascidos no país vão para fora. Quando olhamos só para estes números, esquecemo-nos que, quando muitos profissionais qualificados emigram e têm uma carreira de sucesso, criam, entre as pessoas que ficam no país de origem, um incentivo para estudarem mais. Em estudos recentes, demonstrámos esse efeito nos enfermeiros das Filipinas e nos engenheiros informáticos da Índia. São muitos os que emigram, mas os que ficam são em número muito maior. É um exemplo inspirador, um modelo de referência para que, quem fica, comece a estudar mais.