“As utopias, por definição, estão sempre em construção.” A frase, lapidar, está impressa no enorme banner pendurado no muro que dá para a Rua Gomes Freire, onde agora também há pinturas floridas, assinalando o facto de esta parede já não afastar as pessoas, muito pelo contrário: este pedaço de betão, que sempre cercou os jardins do hospital psiquiátrico Miguel Bombarda, é agora “casa”.
Casa para os vários artistas que escolheram instalar-se e trabalhar em estruturas modulares de madeira aqui presentes; casa para os vizinhos do bairro que têm mais ar livre para usufruir; casa para o resto da cidade que ganha um novo centro cultural, antes vedado aos habitantes de Lisboa.
Entremos, então, nesta casa sempre em construção – tem nascido aos poucos, tal como as utopias. Aqui encontramos, além dos ateliers dos artistas envolvidos com a cooperativa Largo Residências, um lugar recatado, a que chamam jardins românticos, por as suas áreas estarem mais organizadas. Ao fundo, há uma horta comunitária, que já vemos a sair do saco, ou dos sacos, pois o método utilizado faz com que as plantas saiam de pequenas bolsas de material reciclado.
Em contraste, existe o pinhal, a maior área comum, em que se pisa terra batida e onde nos podemos abrigar livremente à sombra das árvores frondosas e usufruir de um pequeno anfiteatro, feito com recurso a paletes. É para este cenário que dá a esplanada do restaurante recém-inaugurado, e ainda em soft opening (a ementa há de crescer em breve), Bambi Bambi – Super Club, com a cozinha a funcionar do meio-dia até quase à meia-noite, hora de fecho dos jardins. O menu vai buscar inspiração aos sabores do mundo e por isso pode ter pratos como faláfel, pitas de borrego, camarão-tigre ou muamba de galinha. Quem não quiser viajar assim tanto pode beber um café ou um refresco, a partir das dez da manhã, no Cabana, snack-bar em jeito de quiosque, ou trazer um livro para ler, sentado numa das cadeiras do pinhal.
Desde que estes jardins abriram portas, a 15 de junho, muita gente de interesses diversos já passou por aqui, até porque os arranjos dos espaços são bastante versáteis. A programação está a ganhar forma e toca em formatos como debates, sessões de teatro, workshops para os mais novos, exposições e concertos.
Para breve, está agendada a abertura do forno comunitário e, mais ou menos ao mesmo tempo, ficará concluído o palco da zona do Planalto. Lá mais para o final do ano, será inaugurado o enorme armazém, que há de servir para espetáculos, já batizado de sala-estúdio Valentim de Barros, em homenagem ao bailarino que viveu grande parte da sua vida internado no Miguel Bombarda. As portas da instituição psiquiátrica fecharam-se em 2011 e agora algumas das suas histórias abrem-se à comunidade.
Jardins do Bombarda > R. Gomes Freire, 161, Lisboa > ter-dom 10h-24h