LISBOA
1. 8 Marvila
É impossível não nos queixarmos dos poucos caracteres disponíveis para descrever todo um quarteirão que já começou a mudar a face e a vida de Marvila. Falamos dos antigos armazéns Abel Pereira da Fonseca, outrora repletos de garrafas e mergulhados num forte odor a vinho, hoje transformados num polo cultural, chamemos-lhe assim, à falta de melhor palavra que defina o que se passa dentro daqueles revolucionários 22 mil metros quadrados. José Rebelo Pinto, que já tinha dado que falar por reabilitar, por exemplo, a zona que hoje é conhecida como Lx Factory, pegou neste edifício histórico, à la armazém, e, mantendo a sua natural decadência, deu-lhe nova alma, sob uma filosofia de aproveitamento de materiais e qualidade de serviço. Agora, há por lá lojas com carácter, metidas em cubas, alguma street food espalhada pelos recantos, uma taqueria com selo de qualidade, uma pizzaria vegetariana, um bar e um lounge envolvidos em plantas, uma discoteca e uma mão-cheia de salas versáteis que tanto podem albergar feiras e lançamentos como festas de arromba. Pç. David Leandro da Silva, 8 > qui e dom 12h-24h, sex-sáb 12h-2h
2. Canalha
Há restaurantes que se destacam pela ementa, outros pela decoração e depois há o Canalha, na Rua da Junqueira, que junta estes ingredientes (e muitos outros) num só espaço. É um sítio descontraído, com uma cozinha de produto, comida de tacho e de conforto, que tanto dá para fazer uma refeição composta como para beber um copo, petiscar e, num futuro próximo, ver a bola. João Rodrigues quis fazer (e fez) um restaurante de bairro, daqueles que marcam a paisagem de Lisboa, mas estão a desaparecer. O chefe de cozinha deixou o restaurante Feitoria, em 2022, onde foi distinguido com uma Estrela Michelin, para se dedicar ao projeto Matéria, site que criou para divulgar e mapear pequenos produtores nacionais, e o Residência, materializado ao longo de 2023 em almoços, jantares e visitas a produtores de norte a sul do País. No Canalha, na ementa principal e de almoço (com pratos a lembrar a comidinha de casa) há várias sugestões a ter em conta, mas a tortilha aberta de camarão e cebola e a lula de toneira grelhada e manteiga de ovelha valem cada garfada. Fica a dica. R. da Junqueira, 207 > T. 96 215 2742 > ter-sáb 12h30-15h30, 19h-23h
3. MAC/CCB
Sai o Museu Berardo, entra o Museu de Arte Contemporânea do Centro Cultural de Belém. A abertura, em outubro, marcou uma nova vida para o centro de exposições do CCB, que passa a ser casa de diferentes acervos – a Coleção Berardo, a mais representada; a Coleção Ellipse e a Coleção Teixeira de Freitas, com alguma expressão; e a do Estado, ainda tímida. São 2 800 obras de grandes artistas internacionais e portugueses, permitindo novas leituras, chegar à arte do presente e também à que se faz fora da Europa e dos EUA. A primeira proposta expositiva é de Delfim Sardo, aguardando-se ainda pelo nome do diretor artístico do museu. Pç. do Império > ter-dom 10h-19h > €5, até 6 anos grátis
4. Casa do Comum
Coube a Joana e a Pedro Pinho assegurar a abertura do novo centro cultural do Bairro Alto. Imaginada pelo seu pai, José Pinho (1953-2023), fundador da livraria Ler Devagar, do festival Folio e da Óbidos Vila Literária e diretor do Festival 5L, a Casa do Comum recupera o espírito do que foi a primeira Ler Devagar e do próprio bairro. Aqui, dança-se, bebe-se, lê-se, ouve-se música e assiste-se a filmes, numa programação multidisciplinar e abrangente, tal como o livreiro sonhou. Da nova Ler Devagar ao Museu da Preguiça, onde há três bibliotecas e camas que convidam ao descanso e à leitura, da sala de cinema à livraria alfarrabista com bar e porta aberta para a Rua São Boaventura, tudo foi feito em prol do livro e do convívio. R. da Rosa, 285 > Ler Devagar: qua-dom 12h-22h, livraria alfarrabista e bar: qua-sáb 17h-2h, dom até 22h
5. Barbecues coreanos
O crescente interesse por música k-pop, filmes e séries coreanas é apontado como o principal motivo. Este ano, assistimos à abertura de vários restaurantes especializados em barbecue coreano. O festim faz-se à volta de uma mesa com um grelhador ao centro, onde se cozinham carnes, mariscos e legumes, ao mesmo tempo que se conversa. No K-Bob, na zona de São Sebastião, o barbecue é preparado apenas com carnes de vaca e de porco preto, e acompanhado de diferentes molhos. Já no Busan Table BBQ, na Avenida Fontes Pereira de Melo, há várias opções a ter em conta, como a carne waygu, de origem japonesa, que se distingue por ser tenra e suculenta. A Roda Gigante, composta por borrego, língua e bife de vaca, cachaço de porco, frango, lulas e camarão, é a mais cobiçada. Viva o convívio à mesa. K-Bob > Av. Ressano Garcia, 41A > T. 21 387 7774 > seg-dom 12h30-15h30, 19h-23h > Busan Table BBQ > Av. Fontes Pereira de Melo, 3E > T. 21 353 0584, 92 684 8100 > ter-dom 12h-15h 18h30-22h30
6. Livraria Buchholz
Não há muitas livrarias com a sua longevidade. A Buchholz soma 80 anos, e do negócio que o livreiro alemão Karl Buchholz abriu pelo mundo inteiro, na década de 40 do século passado, a única que persiste com o seu nome é a de Lisboa. Este ano, voltámos à Rua Duque de Palmela para descobrir a nova oferta cultural, o mobiliário restaurado e os objetos cedidos por vários autores que decoram agora a livraria. Neste regresso às origens, recuperou-se a programação regular com atividades ligadas ao livro, aos autores e ao pensamento. O catálogo livreiro foi aumentado, a piscar o olho a novos públicos, e reintroduziu-se a música e a arte na oferta (numa parceria com a loja de discos Flur e a Icon Shop), tal como no projeto original de 1943. R. Duque de Palmela, 4 > seg-sex 10h-19h, sáb 10h-14h
7. Cine Teatro Turim
O projeto de reabilitação não lhe retirou o charme que tinha nas décadas de 80 e 90 do século passado. Agora, novamente de portas abertas, este polo cultural no bairro de Benfica mais parece uma caixinha de surpresas, com tanto que lá cabe: cinema, teatro, música, workshops, retrogaming, exposições e o Camada, um restaurante com francesinhas como especialidade. Entre uma e outra atividade, pensadas para públicos de várias idades, o Turim também marca a agenda cultural com o Cine-Bar, gerido pela Associação Cultural Menino da Lágrima, uma espécie de Arcade café onde reina a diversão. Seja a jogar nas consolas antigas e noutras máquinas, seja a ouvir um DJ set à noite, este é um dos novos pontos de encontro da cidade. Estr. de Benfica, 783 > Bilheteira: seg-sex 15h-21h, sáb-dom 10h-18h; Arcade Bar: sex 17h-2h, sáb 10h-2h, dom-qui 17h-24h; Camada: seg-dom 12h-15h, 19h-23h
PORTO
1. Ala Álvaro Siza
Aos 90 anos, feitos em 2023, Álvaro Siza Vieira inaugurou em outubro a expansão do Museu de Arte Contemporânea de Serralves (também desenhado por si, em 1999). A nova ala que liga o museu a poente, com 4 204 m² de área bruta e três pisos de grandes dimensões – um para acolher a Coleção de Serralves, outro dedicado à arquitetura e outro para os arquivos em depósito –, foi batizada com o nome do primeiro Pritzker português, em homenagem “ao genial arquiteto”. Aberta a visitas, mas por enquanto ainda vazia, a Ala Álvaro Siza deverá receber as primeiras exposições no final de janeiro: uma dedicada à arquitetura de Siza Vieira com curadoria de António Choupina e outra à Coleção de Serralves. R. Dom João de Castro, 210 > seg-sex 10h-18h, sáb-dom 10h-19h > €11
2. Cozinha das Flores de Nuno Mendes
A estreia no Porto do chefe de cozinha português radicado em Londres foi o grande acontecimento gastronómico do ano na cidade. Com raízes familiares nortenhas, Nuno Mendes desenhou para o Cozinha das Flores uma carta focada nos ingredientes portugueses e nas tradições do Norte, onde ainda há de vir a servir “rojões ou tripas à nossa maneira”, garante. Tudo é preparado no balcão, à vista dos clientes. O chefe de cozinha, com 50 anos, divide-se entre Londres, onde vive e tem o restaurante Lisboeta, e o Porto, onde vem semana sim, semana não. Além do Cozinha das Flores e do bar Flôr (o cocktail bar à entrada do restaurante), Nuno Mendes é também responsável pela comida do The Largo (no mesmo edifício), um boutique hotel de luxo do coletivo dinamarquês Annassurra, com arquitetura de Frederico Valsassina. Lg. de São Domingos, 62 > seg-sáb 12h-15h30, 18h30-24h, dom 18h30-24h
3. Wagon
São cada vez mais os projetos dois em um. Na última metade deste ano, no bairro do Bonfim, uma antiga loja deu lugar a um bar bonito que não quis limitar-se a servir cocktails de autor e a passar música (tem uma coleção de vinil com mais de 140 discos) no final do dia. O Wagon, cuja decoração se destaca pelo néon vermelho, o papel de parede e o mobiliário nórdico, é também um restaurante que serve “comida de conforto, de verdade, sem ser pretensiosa, e com algumas referências asiáticas”, diz João Ribeiro, consultor e chefe de cozinha. R. do Barão de São Cosme, 170 > T. 91 290 9892 > ter-qui 18h-24h, sex-sáb 18h-2h
4. Museu Nacional Soares dos Reis
Encerrado parcialmente para obras desde 2019, o museu público de arte mais antigo do País (fundado por D. Pedro IV em 1833) reabriu em abril com um circuito expositivo renovado, a cruzar correntes artísticas, obras e artistas com a própria história da instituição. Nas 27 salas, em dois pisos, a exposição de longa duração apresenta 1 133 peças (230 foram alvo de restauro) entre pintura, escultura, desenho, mobiliário e joalharia. Além das obras do patrono do museu, António Soares dos Reis, autor de esculturas como O Desterrado, observam-se novidades como o caderno de viagens e anotações com 27 desenhos de Soares dos Reis ou o busto de Luís de Camões, obra do escultor Francisco José Resende (1880). A sua reabertura foi uma boa notícia, no ano em que os museus sob a alçada do Estado passaram a ter entrada gratuita aos domingos e feriados. R. D. Manuel II, 44, Porto > ter-dom 10h-18h > €8, dom grátis
5. Ateliers de chocolate
Já lá vai o tempo em que uma loja de chocolate se limitava a vender tabletes ou bombons. A tendência tem sido a abertura de chocolatarias com vista para o atelier/laboratório onde o cacau é trabalhado desde a origem, a partir do grão. É o caso da Glad, das irmãs brasileiras Katrin e Marcella Cavalcanti, que produzem tabletes com o fruto vindo do Equador, de Madagáscar, da Nicarágua ou da República Dominicana; ou da Dubon, da chefe chocolatier Keren Barnea e do namorado, Roy Bendahan, que à confeção de bombons (mais de 20 variedades, como marmelada de pistácio, café caramelo, chá latte…) juntaram um bar onde servem chocolate quente. Doces negócios, portanto. Glad > R. António Bessa Leite, 1468, loja 14 > ter-sex 10h-17h, sáb 10h-15h > Dubon > R. dos Mártires de Liberdade, 100 > seg-dom 11h-19h30
6. A Recoletora
O projeto que quer dar a conhecer a vegetação silvestre comestível, criado pela designer Maria Ruivo e pelo fotógrafo e videógrafo Alexandre Delmar, em 2021, tem crescido e muito! As caminhadas pela Natureza, em parceria com a herbalista Fernanda Botelho e o projeto Landra – em baldios urbanos, no centro do Porto, ou pelos Caminhos do Romântico –, às quais se juntam oficinas para crianças e adultos, acontecem agora quatro vezes por mês em parceria com o Museu e as Bibliotecas do Porto. O próximo workshop destes recoletores da Natureza, Farmácia do Baldio, decorre a 14 de janeiro na Rua de Entre Quintas, de onde partem à procura da medicina herbal das plantas espontâneas. A Recoletora tem-nos ajudado a olhar para as ervas silvestres de outra maneira. arecoletora.com
7. Hotel Renaissance
Com o turismo a atingir números recorde em 2023, e a região do Porto e Norte a registar um aumento de 30%, a hotelaria na cidade soma e segue. Para contrariar as vozes que apontam o dedo a este crescimento desenfreado, o grupo Mercan Properties abriu este ano o hotel de cinco estrelas Renaissance, a poucos metros da Igreja da Lapa e, em parceria com a autarquia do Porto, reabilitou duas ruas e está a construir uma zona verde. O novo parque urbano da cidade, com 1,7 hectares, deverá estar concluído em agosto de 2024. R. de Cervantes, 169, Porto > a partir de €230