Pablo Berástegui já dirigiu grandes projetos culturais em Madrid, como o centro de artes Matadero e o Conde Duque, além de ter estado à frente do programa San Sebastián – Capital Europeia da Cultura, em 2016, e da PHotoESPAÑA. Mas virou as costas a tudo isso para, diz o espanhol, “estar mais perto do ato criativo, ter tempo para pensar e fazer algo de escala mais pequena”. Instalou-se num antigo armazém do Porto, onde acaba de abrir o Espaço SP620, uma galeria de fotografia, com residência para artistas. “É mais um projeto do que uma galeria”, afirma. Trata-se de Salut au Monde!, um programa de 14 exposições, inspirado no poema homónimo de Walt Whitman, que celebra a diversidade e que define a agenda do SP620. Berástegui optou pela fotografia documental – em trabalhos que “falam da realidade, do mundo, sem ser reportagem –, sendo mais informal e introspetiva”, nota.
Na exposição Zurumbático, uma espécie de prólogo, patente no SP620 até 20 de abril, o fotógrafo venezuelano Luis Cobelo faz um ensaio visual em 30 imagens, a partir de Macondo, a mítica cidade criada por Gabriel García Márquez em Cem Anos de Solidão. É uma viagem sem fim às aldeias da América Latina, onde podemos ver referências do livro, como os peixinhos de ouro, os dois gémeos ou a descoberta do gelo. Ao contrário desta primeira exposição, em que Cobelo parte da ficção para falar da realidade, as próximas mostras serão sobre lugares reais. Uma volta ao mundo por lugares distantes, como o deserto da Califórnia, os vales de Caxemira, na Índia, e uma aldeia isolada no Norte da Rússia. Além de financiado por uma comunidade de pioneiros, o SP620 adota outras formas de aproximar público e artistas, como as edições fotográficas, de pequeno formato, numeradas e mais acessíveis, para quem pretenda iniciar uma coleção de fotografia, ou os livros indicados pelos autores que “ajudam a compreender a sua mirada”. O importante para Pablo é envolver a cidade nesta reflexão “sobre os outros de hoje”, através da lente de autores de latitudes distantes, cujo interesse comum é captar o mundo em redor.
Artes gráficas e poesia
Alternativo ao circuito das artes é também o projeto Sismógrafo. Depois de cinco anos intensos, de exposições e de atividades diversas, na Praça dos Poveiros, mudou-se, em janeiro, para a Rua da Alegria, junto à ESMAE (Escola Superior de Música e Artes do Espetáculo). Uma coincidência feliz para este espaço de arte independente, sem vertente comercial, ligado à Salto no Vazio, uma associação sem fins lucrativos. Neste lugar, agora mais amplo, dividido em duas salas, com alcatifa vermelha, há serigrafias, edições de livros de autor e cartazes desdobráveis, que associam arte e poesia, como é o caso do desenho de Pedro Calapez com os versos de Rosa Maria Martelo. Mantém “as propostas fora da caixa” e o “encontro de gerações de artistas e público”, diz a designer gráfica Maria João Macedo, que preside a associação. São vários os momentos na agenda, ligados às artes visuais, ao cinema, à música e à literatura, refletindo a diversidade de pessoas que compõe o coletivo. “Interessa-nos tornar as exposições consequentes, com momentos de discussão e de crítica em torno delas”, nota o escultor Hernâni Reis Baptista. Depois de Dayana Lucas, inaugura-se, neste sábado, 23, L’Éternité Par Les Astres, primeira exposição individual de Emídio Agra, composta por objetos poéticos e com humor.
Versátil e criativa é a Squid Ink Works, a loja/galeria/ateliê de Ana Trabulo e de Andrew Winn. “A ideia foi usar o local como ateliê e ajudar a divulgar o trabalho que se faz na cidade”, diz Ana, formada em Pintura, pela Faculdade de Belas-Artes do Porto. Às linogravuras (ou linoleogravuras) de Andrew, juntam-se as pinturas e ilustrações de Ana, em cadernos, sacos e postais, e ainda serigrafias e cerâmicas de outros artistas do Porto. O projeto também se estende a outras artes, como a música e a dança. Às terças-feiras, há aulas de adufe, mas podiam ser de acordeão ou de cavaquinho, já que as portas estão abertas a outras propostas – e à visita, claro, para conhecer a Squid Ink Works.
Espaço SP620 > R. de Santos Pousada, 620, Porto > ter-sáb 14h-19h > Espaço 531 > R. Miguel Bombarda, 531, Porto > T. 22 606 1090 > ter-sex 10h-12h30, 15h-19h30, seg-sáb 15h-19h30 > Squid Ink Works > R. do Loureiro, 110, Porto > T. 93 060 8356 > ter-qui 10h-18h, sex10h-16h, sáb 10h-20h, dom 16h-19h > Sismógrafo > R. da Alegria, 416, Porto > T. 91 403 7707 > qui-sáb 15h-19h