Nunca fui de missas, confesso já, mas sempre gostei de igrejas pelo recolhimento que oferecem. Elas também servem muitas vezes de abrigo mais ou menos literal das intempéries da vida, pensei ao entrar no último domingo na Ermida do Senhor Jesus do Triunfo.
Começara a cair uma chuva miúda (que ameaçava crescer, arruinando um passeio na vizinha Tapada das Necessidades), quando reparei que a porta desta capelinha, erguida no enfiamento da Rua do Borja, entre a Possidónio da Silva e a Capitão Afonso Pala, estava por uma vez providencialmente aberta.
Faltavam uns minutos para as dez da manhã, hora a que abre a tapada ao fim de semana. O templo setecentista, empoleirado na escarpa rochosa sobranceira à Rua Maria Pia e ao Vale de Alcântara, pertence à Ordem dos Salesianos que ali dão missa apenas aos domingos. Aproveitei para me abrigar da chuva e, já agora, para me deliciar com o céu estrelado da sua capela-mor.
Esqueçam. As últimas obras de recuperação pintaram de branco o teto abobadado que foi tantos anos azul-escuro e iluminado por uma miríade de estrelas amarelas. Sobrou a pomba do Espírito Santo, agora solitária, a lembrar-nos de que não devemos adiar as visitas aos locais que nos espantam. Quando damos por isso, desapareceram num ai.