Quando viajou para Portugal, pela primeira vez, há 25 anos, Alvaro Negrello, natural de Locarno, na Suíça italiana, começou por fazer a viagem Genebra-Lisboa. Embora tivesse ficado agradado com a capital, todos os amigos o aconselharam: “Se queres arquitetura, vai para o Porto.” E assim foi. Depois de ter vivido na zona dos Guindais, centro histórico do Porto, e, depois, na rua da Firmeza, em plena Baixa, foi na rua do Breiner – uma das ruas incluída no Quarteirão de Bombarda – que diz ter encontrado o sítio certo para viver. Há 15 anos que ocupa uma casa do século XIX (1890), com quatro pisos, onde vive com a mulher e os dois filhos, de 18 e 19 anos, e onde tem o seu atelier que cria maquetes para vários arquitetos do mundo – “para quase todos”, diz – como Siza Vieira, Souto de Moura, Frank Gehry, entre tantos outros.
“Fui um dos primeiros a andar de bicicleta por aqui”, recorda o maquetista italiano, de 53 anos, que tem por hábito andar a pé pelas ruas desta zona, conhecida como Bairro das Artes, e que, à boleia das galerias, tem estado a atrair novos moradores e negócios, sobretudo, virados para a criatividade e sustentabilidade. Nos seus passeios pelas ruas – “uma volta ao quarteirão é obrigatória: para cumprimentar, dar um olá aqui, um abraço acolá” – Alvaro Negrello tem gostado de ver “uma nova geração que se instala em espaços mortos, com grande qualidade estética”. “Tudo o que abre, tem bom gosto”, salienta. O maquetista italiano raramente sai deste bairro. “É proibido ir a supermercados gigantes”, conta, bem-disposto. Quem chega de novo, quase sempre se cruza com ele. Daí que muitos lhe chamem “o anfitrião do bairro”. “Sou estrangeiro, mas comunico muito bem com os meus vizinhos”, justifica-se.
Os dias de Alvaro Negrello são passados entre os passeios a pé pelo Bairro das Artes e o meticuloso trabalho no seu atelier, escolhido por tantos arquitetos pelo seu profissionalismo, detalhe e inovação nos materiais. E de onde saiu, por exemplo, no ano passado, a grande maquete (cinco metros de altura e 450 quilos) que a arquiteta Patrícia Barbas levou à Bienal de Arquitetura de Chicago. Ou de onde sairá, daqui a uns tempos, a maquete, com quatro metros de comprimento, que há de ir para a Bienal de Veneza 2018: o projeto de restauro do prédio de habitação Il Corviale, da arquiteta italiana Laura Peretti, que fica nos arredores de Roma e onde vivem dez mil pessoas. Do Bairro das Artes para o mundo, pois.