
Por aqui não há falta de imaginação para títulos. Há, isso sim, vontade de que quem passa os olhos por esta croniqueta fixe o que é mais importante. E que comece por guardar na memória um nome – Mercearia Pérola do Arsenal – para usar no dia em que tiver tempo para ir até ao número 92 da Rua do Arsenal cobiçar os ingredientes que imaginamos estarem em vias de extinção. A saber: tripa seca, sardinha salgada, raia seca, carapau seco, corvina salgada seca, atum sangacho e rabinhos de atum, e, nos bacalhaus, línguas, caras, bochechas (de salmoura), badanas, samos, rabos inteiros e cachaços.
Desta lista vão dizer-me que só mesmo a tripa seca (de bovino, acrescente–se) é que estará para desaparecer em Lisboa – não consta que haja matança do porco por aqui nem gente a querer sujar as mãos a fazer alheiras e outras delícias. Mas eu venho preparada com mais uns ingredientes que vi à venda nesta mercearia, pronta a ganhar na contagem de espingardas: milho médio para xerém, alho para bifes (laminado e seco, com louro) e cebola moída.
Se ao ler isto o caro leitor ainda não ganhou apetite para pôr o avental de cozinha, pelo menos fixe só mais uma coisa: de todas as lojas que tinham bacalhau à porta na Rua do Arsenal, sobra quase nada. É aproveitar para lá ir enquanto não são ocupadas por souvenirs.