
O Museu de Arte Contemporânea Nadir Afonso é um edifício de betão branco paralelo ao leito do rio Tâmega, projetado por Siza Vieira
Lucília Monteiro
Quem o conhecia costumava dizer que Nadir Afonso ou estava em Paris ou estava em Chaves. Tanto acompanhava as vanguardas do seu tempo na Cidade Luz como se fechava nos seus pensamentos e desenvolvia as suas teorias sobre a pintura na cidade natal. Neste reduto de reflexão, abriu ao público, no passado dia 8, o museu com o seu nome, gerido pela Câmara Municipal de Chaves, um edifício de betão branco paralelo ao leito do rio Tâmega, projetado por Siza Vieira, uma escolha do próprio Nadir (também ele arquiteto, trabalhou com Le Corbusier e com Oscar Niemeyer), antes da sua morte, em 2013, com 93 anos. “Nadir nunca interferiu no projeto”, conta Laura Afonso, viúva do pintor e presidente da Fundação Nadir Afonso, que cedeu ao museu mais de uma centena de telas, desenhos e documentos pessoais.
“É preciso reinscrever a importância de Nadir Afonso na arte portuguesa do século XX”, considera Bernardo Pinto de Almeida, curador de Nadir Afonso – Chaves para uma Obra. A exposição inaugural vai desde as primeiras obras, nos anos 30 (na adolescência, retrata o quotidiano), a trabalhos da década de 70, quando era já um pintor “em posse de todos os elementos da sua teoria de criação”, explica Pinto de Almeida.
Siza Vieira deixa também em Chaves um edifício notável, sustentado sobre muros, como se estivesse suspenso sobre o terreno – a fórmula utilizada pelo arquiteto para ultrapassar o risco de cheias, habituais naquela margem do rio. No interior, percorrendo as salas repletas de luz, percebemos como Nadir Afonso se constituiu um grande pintor surrealista e, mais tarde, como começou a experimentar e a definir a sua consciência abstrata, expondo em galerias de prestígio internacional, como a de Denise René.
A exposição termina com os trabalhos desenvolvidos sobre cidades (reais ou utópicas), em que Nadir “conjuga o grande artista e o grande arquiteto que também é”, sublinha Pinto de Almeida. “É uma obra autorreferencial, cada fase contém elementos da fase seguinte”, acrescenta. Esta exposição, diz, tem a virtude de mostrar a continuidade dessa construção interna. “Quis captar o período mais intuitivo da obra de Nadir, onde começa a elaborar o seu próprio pensamento teórico sobre a arte”, nota o curador. As próximas exposições temporárias hão de explorar a teoria que Nadir Afonso deixou publicada em vários livros e ensaios e que havia de levar ao extremo nas fases artísticas seguintes: “A essência da arte é a matemática.”
Museu de Arte Contemporânea Nadir Afonso > Av. 5 de Outubro, 10, Chaves > T. 276 009 137 > ter-dom 10h-13h, 14h-19h > €5

A exposição Nadir Afonso – Chaves para uma Obra quis “captar o período mais intuitivo da obra de Nadir”
Lucília Monteiro