1. Último Capítulo – Contos Completos 1884-1907
Machado de Assis
Ao contrário do protagonista de uma das suas narrativas mais conhecidas, Um Homem Célebre, Machado de Assis (1839-1908) nunca sofreu da angústia de ambicionar ter talento para uma coisa e descobrir que tem vocação para outra. Nesse sentido, viveu bem com os outros e consigo: foi genial em quase tudo o que escreveu, sobretudo a partir de 1880, ano em que revolucionou a sua escrita. Saúde-se, por isso, a editora E-Primatur, pela publicação, em quatro volumes, dos contos completos (220) do escritor brasileiro (já existe em Portugal, na Glaciar, uma recolha semelhante dos seus romances). O projeto tem organização de Amândio Reis, investigador e professor universitário, e propõe uma leitura cronológica invertida. No primeiro volume, Último Capítulo, com 91 contos, encontramos as histórias curtas escritas entre 1884 e 1907, no auge da fama (e da maturidade literária) de Machado de Assis. Nos restantes, uma viagem até às raízes e primeiras experiências. Um retrato único de um escritor sem igual. E-Primatur, 752 págs., €26,90
2. Campo Pequeno
João Pedro Vala
Depois da estreia literária, com Grande Turismo, e de um volume sobre os 50 anos da Herdade do Esporão, João Pedro Vala publica o segundo romance, confirmando-se como uma singular voz da nova geração de escritores portugueses. A exploração dos limites do narrador é, certamente, uma das marcas distintivas da sua literatura, quer quando escreve na primeira pessoa, quer quando olha as personagens de fora. É esta última abordagem que encontramos em Campo Pequeno, retrato de um casal à descoberta das alegrias e das agruras da vida adulta. À espera do primeiro filho e comprimidos por convenções, Laura e Heitor têm de se descobrir outros. Quetzal, 216 págs., €17,70
3. O Peso do Pássaro Morto
Aline Bei
Podíamos referir as várias edições que a estreia literária da brasileira Aline Bei já teve. Mas o sucesso de O Peso do Pássaro Morto também se mede pela forma como tem sido apropriado por outras artes, nomeadamente pelo teatro e pelo cinema. Eis o seu poder sugestivo: é carregado de imagens numa torrente de palavras que prende o leitor. Apresenta-se como um romance, como o seu segundo livro, Pequena Coreografia do Adeus, também já publicado em Portugal, mas faz-se da matéria dos poemas longos, numa coreografia que se espalha pela página. Efeitos imprevistos para contar a história de uma mulher, dos 8 aos 52 anos, às voltas com os seus traumas. Particular, 176 págs., €18,50
4. Sombras
Maria Andresen
Lugares e paisagens, encantamentos e metamorfoses têm sido as linhas de força da poesia de Maria Andresen. No seu novo volume de poemas, Sombras, essa matéria literária faz-se a partir de um diálogo entre várias artes, que se decompõe num quadro observado, num livro lido ou num filme visto. Mas não se trata de descrições, antes de rememorações que carregam memórias recentes ou antigas, recordações pessoais ou coletivas. Dividido em três partes (Arrancar a realidade ao seu torpor; Cuja extensão nos enlaça; e Tocar), há aqui uma busca da beleza, mesmo quando se desconfia dela “porque ela hiberna sob a tua ânsia/ porque ela hiberna sob a lua/ porque ela é a esquiva”. Também porque se sabe que “é bela a dança que se dança entre a arte e a morte”. Assírio & Alvim, 80 págs., €13,30