1. Estava no Abismo Mas Dei Um Passo em Frente
Pedro Mafama
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Depois de conquistar a crítica, em 2021, com o álbum de estreia Por Este Rio Abaixo, no qual Pedro Mafama recuperou a tradição à luz de uma certeira contemporaneidade urbana, poucos esperariam tamanha viragem, como acontece neste novo Estava no Abismo Mas Dei Um Passo em Frente, entretanto já transformado numa das bandas sonoras deste verão. Afinal, trata-se de uma assumida celebração da vida em ritmo de baile, que, embora corresse o risco de ser visto como mais leve ou menos profundo, por ser mais imediato, não deixa de ter várias camadas. Estes 12 temas foram pensados, diz Pedro Mafama, como uma “música de comunhão”, com “o único objetivo de unir as pessoas num ato tão simples como dançar”. Para isso, juntou universos sonoros, como o cante alentejano e as marchas populares a outros, digamos, mais proscritos, como música de baile ou a rumba portuguesa da comunidade cigana, todos “parte integrante do que é isso de ser português.” Em suma, é um trabalho que continua a explorar a música popular portuguesa, agora com outras referências, nem por isso menos válidas, até “pelo modo como combatem uma errada hierarquia entre alta e baixa cultura”. Só por isso já vale a pena dançar Estrada ou Preço Certo, num qualquer baile de verão.
2. Duckontente
Eugénia Contente Trio
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Por entre a relativa indiferença do grande público e das rádios, o jazz português lá vai fazendo o seu caminho e encontra sempre forma de nos dar novos e bons talentos. É o caso da açoriana Eugénia Contente, que, do alto dos seus apenas 30 anos, arranca para o disco de estreia. E que disco, este. Há dois eixos que o dominam do princípio ao fim: a explosiva e tecnicamente impressionante guitarra elétrica de Eugénia e o groove que molda praticamente todas as faixas. Mais do que um álbum de jazz, o que temos perante nós é uma obra híbrida, que tem tanto desse estilo como de funk, com uns pozinhos de rock. O trio completa-se com Gabriel Salles Silva, no baixo, e Luís Delgado, na bateria, uma secção rítmica perfeita para os desenhos virtuosos de Eugénia Contente.
3. Não Lembra ao Diabo
Zarco
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Os Zarco chamaram a atenção em 2019, com o seu LP de estreia, Spazutempo, que surpreendeu muita gente com este seu estilo de mesclar, com mestria, a música tradicional portuguesa com toques de rock progressivo. Desde então, um dos membros fundadores – Gastão Reis, baixista – faleceu inesperadamente, e a banda acabou por entrar na busca de outro caminho. Este novo disco – tem apenas seis faixas – é a prova dessa busca, sendo um trabalho predominantemente acústico e menos festivo do que a estreia. De resto, no essencial, estão aqui as marcas que fazem dos Zarco um caso muito curioso na música portuguesa: miúdos com grande criatividade e que resgatam – como muito poucos procuram fazer – o grande património de autores consagrados, como Fausto ou José Mário Branco, cujos ecos reconhecemos por aqui.
4. Mapa dos Rios
Moacyr Luz e Pierre Aderne
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Tudo começou com um “encontro casual”, em Alfama, entre Pierre Aderne, músico e compositor carioca há muito lisboeta, e o também músico e compositor carioca, bisneto de português, Moacyr Luz. O primeiro acabara de receber um cavaquinho vindo do Rio e o segundo ofereceu-se para lhe escrever uma letra. E assim começou este álbum, gravado entre Lisboa e o Rio de Janeiro. Um declaração de amor a estas cidades que tanto têm em comum, como se percebe neste mapa de afetos desenhado a partir das memórias dos dois artistas, ambos defensores do samba: Pierre pelo modo como o casou com o fado e as sonoridades lusófonas no projeto Rua das Pretas; e Moacyr enquanto mentor de Samba do Trabalhador, uma roda de samba que, desde 2005, arrasta multidões de cariocas nas tardes de segunda-feira.