1. Correspondência
Org. Mécia de Sena
O volume chama-se apenas Correspondência e integra a coleção que a Gradiva tem dedicado à obra de Eduardo Lourenço. Ao todo, inclui 31 missivas do autor de Heterodoxia – cujo centenário do nascimento se comemorou no passado dia 23 de maio – e 19 cartas da autoria de Jorge Sena, constituindo o resultado de uma longa amizade, ainda que sobretudo epistolar, dada a distância geográfica entre ambos (Sena vivia exilado em Santa Bárbara, na Califórnia; Lourenço, entre Portugal e França).
No caso, as datas importam, uma vez que contextualizam todo o diálogo: a primeira carta é de 22 março de 1951 e a última é de 1 junho de 1978 (Sena morreu a 4 junho e, por isso, não chegou a lê-la). Do princípio ao fim, o que mais impressiona é a progressiva aproximação entre Eduardo Lourenço e Jorge de Sena. É um privilégio poder acompanhá-los ao longo das décadas. A relação começa por ser eminentemente literária, um pouco cerimoniosa até. Cruzam-se temperamentos, mas o génio do escritor de Sinais de Fogo sobrepõe-se ao feitio – mais delicado, digamos – do autor d’O Labirinto da Saudade. Diz Lourenço: “A tua violência conquistou os céus, e isto deveria bastar-te (se o bastar fosse tua vocação) para bálsamo das tuas feridas reais e imaginárias.” Acaba, no entanto, por se tornar uma amizade fiel e verdadeira entre os dois vultos (melhor seria escrever monstros) da cultura portuguesa. E isso não só é raro como é comovente – bendita correspondência, esta que chegou até nós. Gradiva, 206 págs., €14
2. Eduardo Lourenço: A História é a Suprema Ficção
José Jorge Letria
Constituída por uma entrevista e por fotografias do espólio da Sociedade Portuguesa de Autores, Eduardo Lourenço: A História é a Suprema Ficção – uma reedição, agora cartonada, de um volume inicialmente publicado em 2014 – é uma pequena pérola. A conversa, dividida em vários capítulos e conduzida pelo jornalista e escritor José Jorge Letria, flui ao sabor da torrente do entrevistado: sem ordem nem sequência, vai buscar referências à História, à filosofia e à literatura, para falar sobre Portugal e a sua relação com a Europa e o mundo. Interroga, inquieta, inspira e, pelo meio, confirma-se que, além de um grande pensador, Lourenço também poderia ter sido, se quisesse, um grande poeta. “Sem querer, fui-me colocando um pouco na posição de um Édipo que interroga a Esfinge, sendo a Esfinge o nosso Portugal.” Guerra e Paz, 144 págs., €16
3. Obras Completas XIII – O Labirinto da Saudade e Outros Ensaios sobre a Cultura Portuguesa
Eduardo Lourenço
Na sistemática publicação das obras completas de Eduardo Lourenço, que a Fundação Calouste Gulbenkian tem realizado, chegou a vez do seu ensaio mais célebre, Labirinto da Saudade, publicado em 1978, ainda na ressaca da queda do “império”, com o subtítulo Psicanálise Mítica do Destino Português. “Durante décadas, tudo, ou o essencial, parecia estar sempre noutro lado, nas Paris, nas Londres, nas Nova Iorque, que nós não éramos nem podíamos ser”, lia-se. Neste volume, com edição cuidada de João Dionísio, juntam-se outros ensaios, mais breves, em torno da cultura portuguesa, muitas vezes continuando a mergulhar nessa palavra tão nossa, como acontece em Clarimundo: Simbologia Imperial e Saudade e Da Saudade como Melancolia Feliz. Fundação Calouste Gulbenkian, 412 págs., €24
4. O Espelho Imaginário
Eduardo Lourenço
Reedição de uma coletânea de ensaios (há muito esgotada) em torno da História da Pintura – ou, como é referido no subtítulo, Pintura, Antipintura, Não-Pintura). O próprio Eduardo Lourenço dizia ao que vinha no breve texto Sem Desculpa, de 1971: “Do que aqui se trata é de reflexão sobre a pintura, não na perspetiva autorizada e ‘científica’ de um crítico que se respeita, mas de um visitante ocasional dela.” É, como diz noutro momento, “um espectador de passagem”. Estas páginas estão, pois, habitadas por pintores de várias épocas e origens: Picasso (a quem chama “o Nietzsche da pintura”), Paul Klee, Velázquez, Cézanne, Tintoretto ou, nos labirintos da arte portuguesa, Vieira da Silva, Amadeo, Noronha da Costa, Mário Botas e Cruz Filipe, entre muitos outros. Mais uma prova de que a curiosidade reflexiva de Eduardo Lourenço não conhecia fronteiras. Gradiva, 240 págs., €14