1. Mil Coisas Invisíveis, de Tim Bernardes
O paulista Tim Bernardes tem apenas 31 anos, mas já traz na bagagem cinco discos: três com o ótimo trio O Terno e dois a solo. E se, com banda, tempera a sua visão com outros caminhos, nomeadamente o rock, em nome próprio há apenas dois grandes protagonistas: a voz e o violão. Mil Coisas Invisíveis é provavelmente o seu trabalho mais bem conseguido até agora, num caminho que está a levá-lo solidamente a reclamar um lugar entre os grandes da enorme música brasileira. As letras são pessoalíssimas e estão muito bem construídas, levando-nos por verdadeiros contos de amor e de desamor, pela passagem do tempo e seus efeitos, tanto de crescimento como de destruição. Apesar de vir do Brasil, não se espere um disco de dança ou de festa. Mais do que o verão, Mil Coisas Invisíveis lembra o outono, introspeção, as peripécias de um homem que pega nas suas dúvidas e nas histórias que lhes deram origem, tentando encontrar esperança e um sentido para o futuro. Estamos perante um dos grandes discos deste ano, pretexto mais do que suficiente para o ver em concerto, já que Tim Bernardes estará em Portugal, em outubro, para uma série de seis espetáculos (Lisboa, Porto, Ílhavo, Ourém, Figueira da Foz e Braga). Até lá, há mais do que tempo para ouvir este belo disco, de um tipo que bebeu dos Beatles, Mutantes e de Caetano, mas que está a conseguir definitivamente afirmar a própria voz.
2. Bloodline Maintenance, de Ben Harper
O regresso de Ben Harper aos originais traz-nos um disco pessoal, pintado sobretudo com as cores do soul, de algum funk e dos costumeiros blues, ainda que com subtis toques de jazz. Tudo colorido com a sua familiar e imaginativa guitarra elétrica. Tematicamente, vai desde uma análise ao sonho americano, olhando nos olhos problemas como a desigualdade e o racismo, até às reflexões mais individuais. Bloodline Maintenance, acabadinho de sair, tem o condão de nos fazer ter a consciência de que, na verdade, tínhamos saudades de Ben Harper, mesmo que não o soubéssemos.
3. Emotional Eternal, de Melody’s Echo Chamber
Este é o terceiro álbum do projeto da francesa Melody Prochet, que regressa a terrenos explorados anteriormente mas agora com uma maior coesão. As coordenadas imediatamente identificáveis trazem-nos a tradição francesa de um Serge Gainsbourg e de uns Air (que foram buscar muito a esse mestre), temperadas com a modernidade de uns Tame Impala. Emotional Eternal é leve, trauteável e cheio de charme, com canções em inglês e francês, que insinuam brisa e coolness a cada esquina, tudo visto através de um filtro de discreto psicadelismo.
4. Here and There, de Kibrom Birhane
Para terminar, um pouco de jazz. Kibrom Birhane é um etíope radicado em Los Angeles, e tudo na sua música conta esse choque (ou mistura) de culturas. Era já professor de música na sua terra natal quando teve uma bolsa para ir estudar nos EUA e aí conseguiu ligar os seus dois grandes amores: o jazz americano (é um assumido fanático de Herbie Hancock e de Thelonious Monk) e os ritmos tradicionais da rica (mas ainda largamente desconhecida) música etíope. Here and There (cá e lá, como o próprio músico) soa mais a ocidental do que a africano, com essas influências a afirmarem-se mais em temas específicos do que no álbum inteiro. Um som quente e melódico de um músico do mundo.