28 livros para ler este verão

28 livros para ler este verão

FICÇÃO

1. Olho da Rua
Dulce Garcia
Cinco anos depois do aclamado Quando Perdes Tudo Não Tens Pressa de Ir a Lado Nenhum, Dulce Garcia regressa ao romance, para contar uma história mordaz sobre o mundo do trabalho no século XXI. Numa escrita crua, a antiga jornalista traça uma sátira sobre o quotidiano laboral, através da história de uma agência de publicidade que resolve adotar uma “forma” japonesa de despedir: serão os próprios trabalhadores que estão na calha para sair a decidir quem deverá ser despedido. Os resultados, como se imagina, não serão os melhores – e o ambiente gerado pela “inovadora” estratégia até um homicídio provoca. Companhia das Letras, 321 págs., €18,45

2. O Segredo da Lagoa Escura
Nuno Matos Valente
A 1 de agosto de 1881, da estação de Santa Apolónia, em Lisboa, partiam 23 carruagens, em direção à serra da Estrela. Liderada por Hermenegildo Capelo – que, com Roberto Ivens, atravessou o continente africano – e pelo médico Sousa Martins, a expedição foi de tal maneira importante que muito do conhecimento científico sobre a região, que ainda hoje permanece atual, teve origem nessas descobertas pioneiras da geologia, flora e fauna. Seguindo a velha tradição de romances juvenis (mas que podem ser lidos por todos…), Nuno Matos Valente tem o mérito de ter escrito este O Segredo da Lagoa Escura a partir da pesquisa que realizou para reconstituir essa viagem de tão boa memória. Bertrand , 304 págs., €15,50

3. Elizabeth Finch
Julian Barnes
Julian Barnes tem sido classificado como um dos escritores britânicos mais interessantes da atualidade – e merece bem a qualificação, diga-se de passagem. Além do mais, também merece que se lhe elogie o ritmo, pois, nos últimos anos, não tem parado de escrever bons livros: alguns dos seus mais recentes títulos (como O Papagaio de Flaubert, O Sentido do Fim e A Única História) têm sido premiadíssimos. Acabado de lançar em português, numa tradução de Salvato Teles de Menezes, este Elizabeth Finch – a protagonista é uma professora de Cultura e Civilização, cujo legado é estudado por um antigo aluno-narrador – propõe-se ser um elogio da História, um tributo à filosofia e ao pensamento livre. Oportuno, no mínimo. Quetzal editores, 216 págs., €17,70

4. Duas Noites em Lisboa
Chris Pavone
Tudo neste thriller parece pensado para que olhemos para ele como um irresistível page turner (aqueles livros que, depois de começar a ler, não se conseguem largar). Na capa e na contracapa, dois pesos-pesados do género (Stephen King e John Grisham) alertam precisamente para essa característica da prosa do norte-americano Chris Pavone. O arranque da narrativa é um clássico para gerar suspense: Ariel acorda, em Lisboa, e descobre que o seu marido despareceu sem deixar rasto… As ondas de choque deste mistério chegarão à Casa Branca, em Washington. Lua de Papel, 496 págs., €15,90

5. As Verdes Colinas de África
Ernest Hemingway
Uma reedição, com a inconfundível marca gráfica da coleção Dois Mundos, da editora Livros do Brasil, para os mais nostálgicos. No prefácio a este título publicado em 1935, Hemingway sentiu obrigação de fazer um aviso: “Ao contrário de muitos romances, nenhuma das personagens ou incidentes neste livro são imaginários. Todos os leitores que não encontrem nele amor suficiente têm a liberdade, enquanto o lerem, de lhe inserirem qualquer espécie de caso amoroso que possam estar a viver nessa altura.” As Verdes Colinas de África é o relato de uma viagem de cerca de dois meses do escritor, com a mulher, Pauline Pfeiffer, pela região do Serengueti. Quase 100 anos depois, é óbvio pensarmos que o mundo mudou muito. Até na perspetiva do que é correto, ou não, escrever quando, de fora, se olha para o continente africano. Livros do Brasil, 232 págs., €16,60

6. A Diagonal Alekhine
Arthur Larrue
Não é preciso gostar de xadrez para apreciar este livro. Mas ajuda. O russo, depois naturalizado francês, Alexander Alekhine foi o único campeão mundial de xadrez a morrer enquanto detinha esse estatuto. E a sua morte, sozinho, num quarto do Hotel do Parque, no Estoril, em 1946, continua carregada de mistério… O francês Arthur Larrue, que tem passado grandes temporadas em Lisboa, decidiu seguir, em forma de romance bem assente na realidade, as pisadas desse excêntrico, egocêntrico e duro campeão, no complexo contexto da II Guerra Mundial. Tudo começa a bordo de um paquete chamado Miracle, atravessando o Atlântico. Quetzal, 312 págs., €18,80

7. Aniquilação

Michel Houellebecq

Quando, no prefácio a Intervenções, um volume que recolhe os seus ensaios e artigos, Michel Houellebecq escreveu que ia deixar de partilhar publicamente as suas opiniões, estava seguramente com um sorriso no rosto. É que a sua ficção mais recente tem um forte cunho político. Tudo o que tem a dizer está lá. Claro que os romances anteriores também evidenciavam essa dimensão política, mas desenvolviam-se sobretudo na esfera privada. Desde Submissão, de 2015, Houellebecq parece ter-se preocupado com o futuro, colocando aí as suas narrativas. Esse mesmo registo retoma em Aniquilação, o seu romance mais recente, que se assume como uma reflexão sobre o que nos pode destruir, individual e coletivamente. É o entrelaçar desses dois campos que torna esta narrativa fascinante, num jogo de espelho que ora nos remete para opções políticas que condicionam o nosso dia a dia, ora para convicções pessoais que chocam com a sociedade. É a eutanásia (condenável, segundo Houellebecq) que está em causa, tal como as guerras económicas (e necessárias, segundo o escritor) contra as potências emergentes. No centro deste furacão está Paul Raison, alto funcionário ministerial de uma França não muito distante. Com o casamento em ruína, o pai à beira da morte e os dirigentes franceses a hipotecarem o país, tudo lhe parece condenado. Alfaguara, 648 págs., €24,95

8. Como Poeira ao Vento
Leonardo Padura
Um regresso ao romance de Leonardo Padura, desta vez sem a presença da personagem que celebrizou o escritor cubano, o detetive Mario Conde. Mas o retrato da sociedade cubana mantém-se, com o conhecimento de quem vive na ilha e sabe bem a realidade dos imigrados e as histórias de quem voltou. A trama inicia-se, justamente, em Miami, onde Adela vive com o seu namorado. Levam um dia a dia normal, até que uma fotografia revelará um passado dos seus familiares muito diferente do que conheciam. Nesse cruzar de experiências geracionais, desenha-se uma história de Cuba com todas as suas esperanças e conquistas, desilusões e sonhos adiados. Porto Editora, 632 págs., €22

9. As Pessoas Invisíveis
José Carlos Barros
Vencedor da última edição do Prémio LeYa, As Pessoas Invisíveis é o terceiro romance de José Carlos Barros, poeta com uma dezena de volumes publicados. Como nas ficções anteriores, o pano de fundo é o século XX português, nomeadamente a opressão colonial. No coração da narrativa está o Massacre de Batepá, ocorrido em 1953, em São Tomé e Príncipe. Mas para o contextualizar, ainda que literariamente, José Carlos Barros recua até à ruralidade portuguesa do início do século XX, que haveria de perdurar para lá da Revolução, e avança até à perenidade de uma certa visão do Estado Novo já em período democrático. Leya, 328 págs., €16,60

10. O Rei de Ferro 
Maurice Druon
Há quem lhe chame a verdadeira guerra dos tronos. Muito antes dos dragões, dos protetores do Norte e das muralhas de gelo televisivas, a Europa enredou-se em conflitos longuíssimos, protagonizados pelas figuras mais excêntricas. A série dos Reis Malditos, que popularizou o escritor francês Maurice Druon, retrata a Guerra dos Cem Anos, que opôs França e Inglaterra, com todos os seus antecedentes. Uma reconstituição histórica exemplar e estimulante, de regresso às livrarias com o relançamento do primeiro volume, O Rei de Ferro, centrada na figura de Filipe, o Belo, a que teve o dom de desencadear inimizades em várias frentes. Marcador, 280 págs., €16,90

11. As Musas 
Alex Michaelides
O primeiro romance de Alex Michaelides, A Paciente Silenciosa, lançado em 2019, foi para muitos uma grande surpresa. Foi preciso ir à nota biográfica deste filho de pai cipriota e mãe inglesa, nascido em 1977, para encontrar a raiz do seu talento narrativo: o argumento cinematográfico, profissão que o ocupou durante vários anos. Michaelides domina, como poucos, a arte do thriller e do policial, nomeadamente os seus ritmos, enigmas e simbolismos das culturas clássicas. Tudo isso reencontramos em As Musas, que se centra nas suspeitas de Mariana em relação ao seu professor de Tragédia Grega, de Cambridge. Ela sabe que ele é um assassino, mas como prová-lo? Tem uma noite pela frente para o descobrir. Presença, 360 págs., €18,90

12. A Confissão de Um Filho do Século
Alfred de Musset
Pela primeira vez traduzido para português, 186 anos depois da edição original, este livro do parisiense Alfred de Musset, expoente do romantismo novecentista, faz uma mistura, muito avant la lettre, entre ficção e autobiografia. Por estas páginas perpassa a tumultuosa relação amorosa deste dandy com a romancista, e aristocrata rebelde, George Sand. Cavalo de Ferro, 304 págs., €18,45

13. A Pediatra 
Andréa del Fuego 
Autora de uma obra diversificada, do romance ao conto, do juvenil ao infantil, a brasileira Andréa del Fuego está de novo nas livrarias portuguesas com a narrativa longa A Pediatra, que sucedeu a Os Malaquias (Prémio José Saramago em 2011) e As Miniaturas. Conhecemos a protagonista deste novo romance pela sua profissão, isto é, pela indiferença que ela tem em relação ao seu ofício. Vocação não é apenas escolha natural de quem nasceu em casa de médicos. Não gosta de nenéns, nem de colegas de hospital. Mas quando as parturientes começam a escolher outro pediatra, ela lança-se numa investigação para perceber porquê, um bom pretexto para pôr em causa as suas convicções. Companhia das Letras, 208 págs., €16,65

14. Onde
José Luís Peixoto
São viagens na sua terra, não muito longe de Ponte de Sor, concelho onde nasceu. José Luís Peixoto aventura-se por terras de Abrantes, Constância e Sardoal, numa escrita que se mostra devedora do lugar. Onde, que chega às livrarias no próximo dia 21, é um livro entre a poesia e a geografia, a prosa e o olhar, sempre atento à paisagem e aos costumes humanos, ao que se perde na vista e ao que se descobre nos pormenores. Um livro que também é um roteiro para se conhecer o que, afinal, está aqui tão perto. Quetzal, 144 págs., €16,60

15. Baiôa sem Data Para Morrer

Rui Couceiro

Quando o enorme Alberto Manguel diz que “este é um romance tão perfeito, tão maravilhosamente escrito, com uma originalidade tal, que não se acredita que seja um primeiro romance” e que vai encarregar-se de ser o porta-voz do livro no mundo inteiro, um cético pode tender a atirar-se às primeiras páginas com ligeira suspeição: será exagero de amigo? Em poucos caracteres cai pela terra vermelha daquele Alentejo profundo o ceticismo: “Baiôa” não traz “data para morrer” nem hora para se parar de ler. Mal o leitor se instala com o narrador, um professor de 33 anos em pausa letiva depois de um burnout, naquela aldeola de Gorda-e-Feia com 17 casas, tem dificuldade de lá sair antes de chegar à contracapa. Conhecemos o Quim Baiôa, que toca numa flauta silente e passa o dia a reparar os casebres da aldeia para trazer vida de volta à terra, a Ti Zulmira, que encomenda lingerie pela internet e tem o pénis do falecido marido embalsamado no armário e o usa a bel-prazer, a fadista que canta à janela pela noite dentro quando não está a satisfazer os homens das redondezas, o enforcado sr. Cabral, o Zé Patife, o Mr. Beardsley… Quando chegamos, lá para o meio, ao misterioso dr. Bártolo, médico desaparecido que andou décadas a investigar a vida e a adivinhar a morte, já estamos presos às personagens e à trama que Rui Couceiro tão bem construiu, e que a partir daí se adensa. Pelo caminho, ouvimos a mãe do narrador a dizer “nós não somos nada”. E percebemos que somos apenas o tempo que temos e, sobretudo, que tudo tem de ter um fim. Mesmo esta deliciosa leitura. Mafalda Anjos Porto Editora, 447 págs., €19,90

NÃO FICÇÃO

16. Ama o Precipício – Viagem à Mata Nacional do Buçaco
Susana Neves
Que histórias esconde a vegetação frondosa da Mata Nacional do Buçaco? Está tudo neste livrinho da coleção Retratos, da Fundação Francisco Manuel dos Santos, escrito por alguém, a jornalista Susana Neves, que se tem especializado no mundo das árvores, e outras espécies botânicas, e sua relação com a história humana. O Buçaco guarda até hoje as características especiais que ganhou em 1628, quando monges carmelitas descalços escolheram aquele lugar para a sua ascese longe de mundanidades, criando ali um “eremitério”. Da sangrenta Batalha do Buçaco contra os invasores franceses, em 1810, só restam longínquos ecos da História… E hoje, além do célebre Palace Hotel, o que podemos encontrar no Buçaco? Estas páginas também respondem a essa pergunta. Fundação Francisco Manuel dos Santos, 104 págs., €3,50

17. Pela Estrada Fora – Histórias do Rock Português
Vários
Desde o fim do século passado que, em Portugal, verão é sinónimo de muitos concertos e festivais. Mas, nos últimos dois anos, o mundo dos espetáculos travou a fundo. A União Audiovisual (UA) surgiu para, congregando profissionais dessa área, fazer face às dificuldades de muitos. Este livro, com capa assinada por Manel Cruz, faz parte desse esforço. Aqui se contam, na primeira pessoa, muitas histórias de músicos, produtores ou técnicos nas suas vidas de concertos e digressões “pela estrada fora”. Algumas são divertidíssimas, todas nos permitem espreitar, com intimidade, para um lado destas vidas que costuma ser invisível ao público. A última frase do livro sublinha o seu caráter solidário: “Ninguém fica para trás.” O valor das vendas, claro, reverte para a UA. União Audiovisual, 218 págs., €10

18. A Outra Veneza
Predrag Matvejevitch
Predrag Matvejevitch, autor do grande Breviário Mediterrânico (que também está disponível em português, numa tradução de Pedro Tamen), é um daqueles escritores como que exilados entre a Europa Ocidental e a Europa do Leste. Nascido na Bósnia-Herzegovina, filho de pai russo e mãe croata, morreu em 2017, deixando um assinalável legado ensaístico em livros que conciliam uma aparente leveza com uma profunda erudição. Neste A Outra Veneza, olha para a cidade italiana perseguindo mapas reais e imaginários, contemporâneos e antigos, e mostrando como ali se cruzam todas as influências da civilização europeia. Quetzal editores, 152 págs., €14,40

19. Escrítica Pop

Miguel Esteves Cardoso

Quando, em 1982, reunindo crónicas publicadas n’O Jornal, Se7e e revista Música e Som, uma editora chamada Querco publicou o livro Escrítica Pop, já se podia intuir que aquele seria, no futuro, um livro de culto. Afinal, ninguém escrevia como Miguel Esteves Cardoso (MEC) sobre música pop e rock, misturando uma ironia e um humor very british (muitos destes textos foram, aliás, escritos a partir de Inglaterra) com um entusiasmo juvenil e contagiante pela música que então se fazia (mesmo que fosse para dizer mal). Esta reedição, que inclui ainda o muito pouco conhecido texto O Ovo e o Novo (sobre a música pop rock dos anos 70), aí está para provar esse estatuto.

Claro que hoje, mais de 40 anos depois, algumas palavras podem parecer datadas (exemplo: ler os adjetivos “novos, elegantes, proficientes, inspirados, inovadores…” aplicados aos UB40). Mas, muitas vezes, os textos de MEC conseguem ainda fazer faísca (e, sim, dão vontade de ouvir música). Como quando não se poupa a hipérboles para falar da música dos seus amados Joy Division (e faz todo o sentido que Ian Curtis apareça, mais uma vez, na capa deste livro): “… praticamente o princípio, e possivelmente o fim, da música Pop.” No posfácio a esta nova edição, escreve MEC: “A novidade é que nada mudou. A música boa continua em perigo. A música boa continua escondida. Só que, desta vez, a música de merda sob a qual está soterrada é uma montanha três vezes maior do que em 1980.” Bertrand, 640 págs., €24,40

20. Agridoce
Susan Cain
Depois de ter revolucionado (a palavra não é excessiva, parece-nos) o mundo das relações humanas com Silêncio, que chamou a atenção para o poder dos introvertidos, Susan Cain regressa com este Agridoce, no qual discorre sobre a importância da nossa experiência de vida saudosista e melancólica que a atualmente muito em voga cultura “positiva” tenta evitar. Sempre alicerçada na evidência científica da psicologia e da biologia, Cain desafia formas de pensar e categorias preconcebidas, e por isso os seus livros se tornam tão inesquecíveis. Temas e Debates, 320 págs., €18,80

21. Um Diário Russo
Anna Politkovskaya
Agora reeditado, este livro jornalístico lê-se, infelizmente, com interesse renovado neste ano de guerra. Assassinada a tiro em 7 de outubro de 2006, a jornalista do Novaya Gazeta (jornal independente que suspendeu a sua publicação em março deste ano, ameaçado pela censura oficial na sequência da invasão da Ucrânia) deixou esta abordagem rigorosa do regime de Putin, muito focada no massacre de Beslan (cerco a uma escola que, em 2004, fez mais de 300 mortos) e nas eleições russas de 2003. Um livro a várias vozes, com ecos no presente. Temas e Debates, 392 págs., €18,80

22. Prosa
Eugénio de Andrade
A primeira sensação é de estranheza, ao ver-se a palavra “prosa” ao lado do nome Eugénio de Andrade, poeta da luz solar e da delicadeza. E que prosa é esta, aqui coligida? “Testemunhos sobre a obra de outros artistas, depoimentos sobre a sua própria obra, artes poéticas, entrevistas, breves discursos e intervenções de diversa natureza”, responde Federico Bertolazzi, no prefácio. Não o sendo, este volume acaba por funcionar também como um livro de memórias do homem, José Fontinha, que nasceu em 1928 na Póvoa de Atalaia (Fundão) e escolheu Eugénio de Andrade como pseudónimo literário. “É da tentação do silêncio, da apetência do silêncio, da condenação ao silêncio que falam todos os meus ‘afluentes’, em prosa ou em verso”, lê-se numa das entrevistas aqui publicadas. Assírio & Alvim, 368 págs., €38

23. Apontar É Feio
Joana Marques
Os dois últimos anos não foram pera doce para ninguém. Talvez a maneira mais descontraída e divertida de olhar para eles, e de os guardar para memória futura, esteja nestes textos de Joana Marques, temível humorista na rubrica da Rádio Renascença Extremamente Desagradável e nas crónicas da VISÃO Elefante na Sala. Trocar compotas nas escadas? Investir em aspiradores-robôs? Juízes “com pouco juízo”? Seguir cada gesto de Greta Thunberg, que, “se tivesse 80 anos, ninguém lhe ligava, seria só mais uma maluca velha a anunciar o apocalipse”? Bom, talvez as palavras de Joana nem sempre sejam assim tão descontraídas… E, sejamos sérios, não são sempre dedicadas a grandes temas da atualidade (“neologismos das Spice Girls”?; “festas da espuma”?)  Mas, até por isso, são um bom retrato dos nossos tempos. Sem papas na língua. Contraponto, 208 págs., €16,60

24. As Praias de Portugal
Ramalho Ortigão
O guia é de 1876 e, por isso, não é como guia que vale, evidentemente. Vale pela elegância da escrita, pelo fino humor e sobretudo pela capacidade de Ramalho Ortigão (só para alguns) de tecer sobre as intertextualidades entre os carapaus, o Padre António Vieira e a História Trágico-Marítima. Neste As Praias de Portugal, em tão boa hora reeditado pela Quetzal, revela-se um dos nossos melhores, naquele estilo fim de século (século XIX, bem entendido) que, ainda hoje, tanto seduz. Como diz Francisco José Viegas no prefácio, “em 150 anos, mudou tudo, menos o génio patife de Ramalho”. Quetzal editores, 192 págs., €14,40

25. A Porta da Europa

Serhii Plokhy

É de saudar o esforço editorial da Ideias de Ler, uma chancela do Grupo Porto Editora, que em três meses foi capaz de traduzir A Porta da Europa, uma muito bem fundamentada História da Ucrânia. É, seguramente, uma excelente introdução para se perceber melhor o que está em jogo na atual guerra no Leste da Europa. De onde vem a identidade ucraniana? O que explica o seu nacionalismo tão resiliente? É a perguntas como estas que este volume tenta responder, enquadrando o passado do país no intrincado jogo político da Europa Central e do Leste. Serhii Plokhy sabe bem do que fala. Nasceu em Nizhny Novgorod, a leste de Moscovo, mas cresceu em Zaporizhzhia, de onde é oriunda a família. Formado em História do Século XX, especializou-se na era soviética, sendo diretor do Instituto Ucraniano de Investigação da Universidade de Harvard. Os seus livros (como Chernobyl, já publicado em Portugal) cruzam esse conhecimento que vem da investigação e a sensibilidade de quem domina os idiomas e os costumes. Particular importância neste voo panorâmico têm o Rus de Kiev, confederação de tribos eslavas cujos contornos ainda hoje são acesamente debatidos, e os domínios durante o Império Russo e a União Soviética. A sua análise termina na Guerra do Donbass, iniciada em 2014, com atualizações até 2021. Ideias de Ler, 520 págs., €22

POESIA

26. O Olhar Diagonal das Coisas
Ana Luís Amaral
Vencedora, em 2021, do Prémio Rainha Sofia de Poesia Ibero-Americana, Ana Luísa Amaral vê aqui reunida toda a sua obra poética – de Minha Senhora de Quê (livro de 1990) até Mundo (de 2021). O calhamaço que daí resultou não é o ideal para levar para a praia, mas é excelente para admiradores antigos e novos leitores que queiram descobrir uma das mais estimulantes poetisas contemporâneas. Um bom volume para abrir à sorte e deixarmo-nos levar: “Neste palco de sol,/ de repente:/ os teus lábios:/ anjos caídos mas abençoando/ Cada curva e tremura/ dentro do nervo exacto/ da memória.” Assírio & Alvim, 1 384 págs., €44

27. Divisão da Alegria
Raquel Nobre Guerra
Nascida em 1979 e formada em Filosofia, Raquel Nobre Guerra estreou-se em 2012, com Groto Sato (Prémio Primeira Obra do PEN Clube), a que se seguiram SMS de Amor e Ódio, Saudação a Álvaro de Campos e Senhor Roubado. Lança agora Divisão da Alegria, o seu volume de poesia “mais extenso e expansivo”, nas palavras de Pedro Mexia, que dirige a coleção em que o livro se publica. São 88 poemas divididos em quatro secções (Canções da Manhã / Da Mansarda ao Mundo; Canções da Tarde / Biblioteca Nacional; Canções da Noite / O Açúcar da Metempsicose; e Oito Poemas para o Pai), que escavam a ideia de contentamento íntimo, familiar, partilhado e indefinível. Tinta-da-China, 152 págs., €14,90

28. Paraíso
Pedro Eiras
Depois de Inferno (em 2020) e Purgatório (2021), seguindo as pisadas de Dante, Pedro Eiras chegou ao Paraíso. A sua poesia tem sempre vestígios de narrativas e personagens contemporâneas, cruzadas com temas que, desde sempre, inquietam a Humanidade. Este paraíso é feito mais de perguntas do que de respostas doces. “Nada aqui é/ como nos disseram/ que seria.” Assírio & Alvim, 120 págs., €14,40

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