1.Águas Passadas, de João Tordo
A epígrafe é de Moby Dick, os protagonistas são náufragos: a subcomissária Pilar Benamor, filha de polícia e viciada em sexo, e Cícero Guzmán, o eremita na Azoia que perdeu o cão Simples, agarrado à vida por uma corda literária chamada Tolstói. E cruzam-se por causa de um primeiro isco: o corpo da adolescente Charlie, filha de um industrial inglês, aluna da escola St. Justus of Canterbury de Carcavelos, dá à costa. Haverá mais crianças vítimas… Depois da estreia no género com A Noite em que o Verão Acabou, Tordo regressa com um novo thriller urbano e melancólico. Companhia das Letras > 524 págs. > €20,90
2. A Absolvição, de Yrsa Sigurdardóttir
O bullying, as perversões permitidas pelas redes sociais, o Snapchat e o Facebook usados como vingança por adultos e adolescentes manipuladores… A autora islandesa utiliza estes temas com frieza cirúrgica e alguma mensagem moral: um assassino, com máscara de Darth Vader, exige que Stella, de 16 anos, peça desculpa e envia os vídeos da sua morte para os amigos dela. O detetive Huldar e a psicóloga Freya navegarão por perfis falsos, traumas do passado e um twist hitchcockiano para descobrir o culpado. Quetzal > 424 págs. > €18,80
3. Um Fogo Lento, de Paula Hawkins
Lemos o livro, vimos o filme: A Rapariga no Comboio (2015) criou uma escritora reconhecível não só pelos 23 milhões de exemplares vendidos como pelos jogos de perceção apresentados, ao fazer a narrativa (des)acontecer através de uma protagonista, em que o sofrimento e torpor alcoólico distorciam as características habituais do género: a descrição objetiva da ação, o alinhavar das pistas, o trabalho investigativo dos especialistas. Era uma anti–heroína que desafinava as narrativas recentes do empoderamento feminino. Ao terceiro livro, Hawkins apurou ferramentas, aprofundou as ligações aos traumas do passado como arquitetura para o presente e deu às mulheres de Um Fogo Lento perfis complexos e imperfeições – e mergulhou-as em águas emocionais profundas. Um homem é assassinado num barco. A vulnerável Laura adequa-se ao papel de suspeita, mas os fios puxados em torno de Carla, mãe que perdeu um filho, e de Miriam, refugiada na literatura, vão baralhar a trama. Topseller > 334 págs. > €18,79
4. O Enigma da Virgem de Ferro, de John Dickson Carr
Comparada com os sádicos thrillers contemporâneos, esta clássica história de detetives, uma das primeiras de Carr (1906-1977), mergulha-nos em nostalgia, mas os diálogos vivos, a atmosfera gótica, e um detetive carismático – o jovial, obeso e muito britânico dr. Gideon Fell – são belos ingredientes. E tudo começa com uma maldição: os herdeiros Starbeth, proprietários de uma prisão nos ermos ingleses, são obrigados a passar uma noite na propriedade, sós, onde morrem sempre dependurados pelo pescoço… Livros do Brasil > 244 págs. > €7,70
5. Loba Negra, de Juan Gómez-Jurado
O carisma da personagem feminina e uma escrita despojada de artifícios fizeram muito por esta trilogia policial escrita por um jornalista – o retumbante sucesso no mercado espanhol levou mesmo a comparações com a trilogia Millennium de Stieg Larsson: Antonia Scott é uma eremita recolhida em casa, dona de uma inteligência avassaladora, cuja parceria com o detetive Jon Gutiérrez explora o modelo clássico dos contrastes. Depois de Rainha Vermelha e antes de Rei Branco, Loba Negra tem máfia russa, negociatas na Costa do Sol e uma vilã à altura. Planeta > 432 págs. > €21,31