Aqui está alguém a quem envelhecer tem feito bem. Pelo menos, artisticamente falando. Aos 48 anos, Baxter Dury edita o seu melhor álbum; certamente aquele em que mais se parece com o que quer ser. Uma espécie de punk sem papas na língua (ou não fosse ele filho de Ian Dury, autor da mítica Sex & Drugs & Rock’n’Roll, de 1977), suficientemente desiludido com quase tudo, com um ar permanentemente blasé, mas que guarda, ainda, algumas reservas de humor, lirismo e romantismo.
Soa como um punk rocker que trocou a guitarra, baixo e bateria, tocados por autodidatas em fúria, pelo fascínio com as incomparáveis e imortais melodias de Serge Gainsbourg e os seus insuperáveis duetos de voz grossa, vivida, masculina com inocentes ou provocantes vozes femininas (que percorrem este álbum). Parece o mais francês dos cantores ingleses e não espanta ouvir, logo na primeira faixa, I’m Not Your Dog, uma voz de mulher a repetir: “Ce n’est pas mon problème, je ne suis pas ton chien…”
Parecendo navegar num ambiente e sonoridades de outras eras (aqui e ali, com ingredientes a fazerem pensar no som disco dos anos 70), The Night Chancers vai provando, canção a canção, que é uma obra do nosso tempo. Em Carla’s Got A Boyfriend, conta-nos que encontrou o namorado novo dessa tal Carla no Instagram e seguiu-o durante os tempos… Na canção que dá título ao álbum, Baxter tem um affaire com a cadência do hip-hop. O disco prima, do princípio ao fim, por uma qualidade na produção, nos pequenos pormenores, de quem faz as coisas sem pressas, sabendo que a passagem do tempo só lhe faz bem…