O primeiro disco de Danças Ocultas data de 1996 ( “Entre os limites difusos da música contemporânea e os da world music”, escrevíamos na VISÃO), mas os membros do grupo – Artur Fernandes, Filipe Cal, Filipe Ricardo e Francisco Miguel – sentem que estão quase a cumprir três décadas de trabalho conjunto. As contas apontam para os primeiros concertos a quatro, em 1989, já com a formação atual. Se 30 anos é uma idade assinalável para qualquer projeto artístico, é-o ainda mais quando falamos de um ensemble dedicado a um só instrumento, com mais limitações do que potencialidades: o acordeão diatónico, mais conhecido como concertina. A história tem sido feliz, de capítulo em capítulo, até porque se foram juntando a cúmplices mais ou menos ocasionais (Gabriel Gomes, Maria João e Mário Laginha, Gaiteiros de Lisboa, Dead Combo, Orquestra Filarmonia das Beiras, entre outros).
Aqui chegados, sem um disco de originais desde 2009 (ano de Tarab), a longevidade era tanto um trunfo como um problema. “Sentimos que precisávamos de um olhar exterior para a nossa música, em termos de produção”, diz Artur Fernandes à VISÃO Se7e. “Se fôssemos nós a fazê-la, acabávamos por ir parar às mesmas soluções de sempre”. O nome escolhido foi o do músico brasileiro Jaques Morelenbaum, que aceitou o desafio, e Dentro Desse Mar seria mesmo gravado no Rio de Janeiro. A grande maioria das novas composições já existia há muito, mas é fácil perceber o contágio tropical – nas percussões, no bandolim e no cavaquinho de Luís Barcelos e, sobretudo, nas vozes de Zélia Duncan e Dora Morelenbaum (esta cantando uma letra de Arnaldo Antunes). Estes onze novos temas são um belíssimo ponto de partida para mais andanças internacionais dos Danças Ocultas – Artur Fernandes não tem, aliás, dúvidas de que foi esse salto, para fora das fronteiras portuguesas, sobretudo para a Europa Central, que garantiu a sobrevivência do projeto – que está bem vivo e recomenda-se.
Dos onze temas de Dentro Desse Mar, três são cantados − com interpretações das brasileiras Zélia Duncan e Dora Morelenbaum e da portuguesa Carminho