Voyeurismo consentido, o deste obscuro objeto de desejo: na elegante capa negra, imagem de marca da nova coleção Série Ph., um pequeno orifício vermelho convida a espreitar os corpos, máscaras e encenações fotográficas criados por Jorge Molder ao longo dos últimos 40 anos de coerente carreira. A assumir a direção editorial desta coleção, com a marca da Imprensa Nacional, dedicada à imagem, está um outro fotógrafo, Cláudio Garrudo: “Queremos editar os grandes nomes da fotografia portuguesa e fazer o papel desempenhado por coleções históricas como a francesa Photo Poche e a espanhola Photobolsillo, que marcaram gerações.” Mas esta versão lusa ganha pontos: tem formato mais luxuoso, design cuidado (de Paulo Condez/ Atelier NADA), listagem final de todas as séries do fotógrafo, e textos de ensaístas − aqui, Jorge Bragança de Miranda.
“Este é um trabalho quase de artesão, de colaboração estreita, interessante e enriquecedora com os autores”, descreve Garrudo, confessando-se grato pelo livre acesso aos arquivos, físico e digital, de Molder. No livro, estão as suas reconhecíveis explorações identitárias e autorrepresentações, os objetos, as mãos, o humor, o grotesco, a “carne que envelhece”. “Se atentarmos no conjunto das fotografias, Molder faz uma história natural da decadência do corpo, da catástrofe da carne, mas em cada fotografia, ou nas principais séries que o caracterizam, são as formas, os tipos e conceitos do corpo que são visados”, descreve Bragança de Miranda. Explica Cláudio que este volume tem uma narrativa nova e específica: “Criou-se uma lógica de vários núcleos e sequências de imagens, como se fosse uma exposição.” E revelam-se obras inéditas: um conjunto de oito polaroids sem data, sombras fantasmáticas. Irrepreensível.
Jorge Molder (Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 136 págs., €19) é o primeiro volume da Série Ph., coleção bilingue já com 14 nomes de fotógrafos, e outros tantos ensaístas, na calha. O objetivo é editar dois livros por ano