Algumas crónicas a acusarem Chico Buarque de ser um homem datado e machista e infinitas discussões nas redes sociais serviram como a publicidade que um disco novo do dono dos olhos azuis mais célebres da música popular brasileira não precisa. E entretanto, a caravana passa, cantando coisas de amor e do mundo. Caravanas é o 38º álbum de estúdio de Chico Buarque, 73 anos. O primeiro saiu há mais de 50, em 1966, com canções como A Banda ou Olê, Olá. Mais de meio século (e um salto do vinil até ao Spotify) não significa uma revolução no trabalho musical do carioca. E isso faz dele mais um clássico poderoso do que um artista datado.
Nas nove novas canções há algumas referências claras ao passado e mesmo uma revisão da matéria dada. Um bom exemplo dessa ponte entre vários tempos é Dueto, lançada originalmente no disco Com Açúcar, Com Afecto, de Nara Leão, em 1980. Agora, Chico recupera a sua canção em dueto com a neta, Clara Buarque, e termina num divertido despique enumerando, com sotaque, novas formas de nos aproximarmos: “Consta no Google, no Twitter, no Face, no Tinder, no WhatsApp, no Instagram, no email, no Snapchat, no Orkut, no Telegram… no Skype”. Também a terceira faixa, A Moça do Sonho, renasce na voz de Chico tendo sido já cantada por Maria Bethânia. Depois há praia (Massarandupió, na costa da Bahia), há futebol (“E ver rolar a pelota nos pés de um moleque/ É ver o próprio tempo num relance/ E sorrir por dentro”, em Jogo de Bola), há uma letra em castelhano (no bolero Casualmente, com música de Jorge Helder), há mulheres (Blues Pra Bia, e a história de amantes de Tua Cantiga…). Nada de novo, tudo de novo. Contas feitas, é uma bênção (ainda) haver canções de Chico Buarque por ouvir.
Ouça aqui As Caravanas, uma das canções de Caravanas