Era antiga a ideia do Padre Américo Aguiar, presidente da Irmandade dos Clérigos, de editar um guia sobre a Igreja e Torre dos Clérigos. O livro Clérigos: Guia para conhecer o ex-líbris do Porto (Porto Editora) saiu, finalmente, quase cinco anos depois daquele dia em que o padre Américo se cruzou com Germano Silva na livraria-alfarrabista Chaminé da Mota, onde lhe lançou o desafio. “Quem melhor do que ele para o fazer?”, argumenta, convicto, um dos principais impulsionadores do projeto de requalificação dos Clérigos (igreja, antigo hospital e torre), monumento barroco de Nicolau Nasoni que, em média, recebe 1500 a dois mil visitantes diários.
Para a escrita deste guia, Germano Silva baseou-se nas pesquisas feitas no Arquivo da Irmandade dos Clérigos (que se encontra na Casa da Prelada) em documentos e memórias antigas. “Eu próprio tinha memórias de conversas com o Padre Bernardo Xavier Coutinho que lá viveu”, conta o autor.
“Não é um tratado de história. Muito menos um ensaio sobre o Barroco ou uma monografia da Irmandade dos Clérigos”, esclarece Germano Silva. O livro é uma viagem desde o início da obra (1732-1750), do arquiteto italiano Nicolau Nasoni, até ao que encontramos atualmente no interior da igreja, no espaço que foi outrora uma antiga enfermaria onde se tratavam “os irmãos mais necessitados”. Com muitas histórias e curiosidades pelo meio, como o autor já nos habituou. Para Germano Silva, “galgar os 240 degraus e avistar a vista deslumbrante da cidade” revela-se, talvez, a parte mais surpreendente de toda a visita ao conjunto dos Clérigos. É ali, acrescenta, “que olhando ao redor, se compreende porque é que torre serviu de baliza a navios do rio Douro”.
Mas desengane-se o leitor se neste livro-guia julga descobrir em que local foi enterrado o arquiteto italiano. Embora Germano Silva não tenha dúvidas de que Nasoni terá sido ali sepultado, sem que se conheça o lugar exato, a Irmandade dos Clérigos continua o processo de investigação depois de, há três anos, terem sido descobertas ossadas na cripta da igreja, durante as obras de requalificação. O padre Américo Aguiar contou à VISÃO Se7e terem sido enviadas para os Estados Unidos da América, naquela altura, amostras “de quatro hipotéticos candidatos”. As investigações confirmaram o facto de se tratarem de “quatro homens, com idade avançada”, porém, necessitam ainda da recolha de amostras de ADN de ascendentes ou descendentes do arquiteto italiano. Aguardemos, pois.
Disponível em português, inglês, francês e espanhol, o livro-guia Clérigos – Guia para conhecer o ex-líbris do Porto (Porto Editora, 77 páginas €9,90) está à venda na loja dos Clérigos e nas livrarias portuguesas.