
Começamos com uma prosa deliciosa, para usar as palavras do Pedro Dias de Almeida, editor de Cultura da VISÃO, sobre Chega de Saudade, de Ruy Castro, sobre os primórdios da Bossa Nova, os seus grandes e pequenos protagonistas. O livro – que rouba o título do primeiro álbum de João Gilberto, editado em 1959 – foi publicado originalmente no Brasil em 1990, chegou este ano (e ainda bem) a uma edição portuguesa.
De outro autor brasileiro, e que também tardaram décadas a chegar a Portugal, são os livros Nelson Rodrigues – O Homem Fatal, a reunir 80 crónicas do escritor publicadas diariamente no jornal O Globo, escolhidas por Pedro Mexia, e Nelson Rodrigues – A Vida Como Ela É, uma seleção de 60 dos seus melhores contos. Um retrato do Brasil, ou do anti-Brasil, que é também o retrato de uma época, editados pela Tinta da China.
Da editora Tinta da China é também A Biblioteca à Noite, de Alberto Manguel, no qual o autor argentino nos faz viajar pela sua própria biblioteca, um celeiro reconstruído numa colina a sul do Loire, inspirada na biblioteca do Colégio Nacional de Buenos Aires, escola que frequentou.
A dar um bom exemplo de como reeditar clássicos está a coleção Livros Amarelos, da editora Guerra & Paz, a propor, em cada volume, uma leitura cruzada entre dois textos de autores diferentes. Uns mais diretos, como Mark Twain e Rudyard Kipling, outros mais improváveis, e até ousados, como Salomão e Pierre-Félix Louÿs.
No ano em que se comemoram os 400 anos do nascimento de Shakespeare chega Numa Casca de Noz, novo romance de Ian McEwan que parte de Hamlet e tem um insólito protagonista. É ler aqui o texto da Sílvia Souto Cunha.
Para folhear e ler depois, escreveu a Rosa Ruela sobre LX80 – Lisboa entra numa nova época, de Joana Stichini Vilela e Pedro Fernandes, justificando que as páginas do livro se prestam a serem primeiro vistas e só mais tarde lidas com o gozo da descoberta ou da redescoberta sobre essa Lisboa dos anos 1980 onde tudo parecia possível.
Porque começámos com as palavras do Pedro Dias de Almeida, é com elas que terminamos para falar de Ronda das Mil Belas em Frol, de Mário de Carvalho. E dizer que se deste escritor ninguém esperava um livro de contos eróticos, nele encontramos o Mário de Carvalho contista no seu melhor. Um prazer, como é a leitura, de resto.