No dicionário, a definição de “bem-estar” ajuda a perceber o que aqui vamos reportar: situação agradável do corpo e do espírito, tranquilidade, conforto, satisfação. Foi precisamente esta a ordem de sensações com que entrámos e saímos do Six Senses Douro Valley, em Samodães, a sete quilómetros de Peso da Régua.
Depois de ter sido distinguido recentemente como melhor SPA do ano na Europa, nos prémios World Spa & Wellness, entre muitos outros galardões, tínhamos a certeza do bem que nos iria fazer ao corpo e em consequência ao espírito.
Logo na receção, captámos o ambiente tranquilo, muito graças à envolvente da natureza da Quinta do Vale Abraão, classificada como Jardim Histórico de Portugal, cenário do romance Vale Abraão (1991), escrito por Agustina Bessa-Luís e adaptado ao cinema, em 1993, por Manoel de Oliveira.
O conforto foi além de um colchão e almofadas de primeira, sentiu-se no trato do staff, bem como em pormenores das refeições. No regresso a casa, a satisfação a arrebatar-nos – como um círculo vicioso.
Alquimia em frasquinhos
Pusemo-nos à prova no programa do sono, em que através de um gadget, um anel, se podem monitorizar três, cinco ou sete noites, desde o momento em que se apaga a luz para dormir até à manhã seguinte. São 42 os biomarcadores que avaliam a nossa saúde, do sistema nervoso ao nível de stresse e todo o estilo de vida.
Afinal, dormimos pior do que pensávamos, repousando mais tempo em sono leve do que em REM (sigla de Rapid Eyes Movement, em português movimento rápido dos olhos), altura em que sonhamos, regeneramos o cérebro, processando as memórias e consolidando o conhecimento. A medição de apneia, ritmo cardíaco, temperatura corporal, saturação de oxigénio, movimentos do corpo fizeram soar alguns alarmes preventivos.
No Alchemy Bar fomos buscar energia, depois de aprender a fazer óleos essenciais – com base de óleo de amêndoas doces ao qual juntámos o cheiro do verão, ou seja, flor de laranjeira –, uma das atividades mais pedidas pelos hóspedes, a par da pintura de azulejos. Mas, com as cascas de fruta, plantas, especiarias ou pós, como canela e chocolate, por exemplo, também se fazem velas, esfoliantes, cremes e sabonetes.
Daniel Monteiro, o alquimista de serviço, ensina as principais propriedades das plantas e frutos: o óleo de camomila é usado no bálsamo anti-inflamatório, os aromas cítricos geram bom humor, a raspa de laranja é antibacteriana, a de limão anti-inflamatória, a menta, eucalipto, alecrim, canela e cânfora são energizantes, a bergamota e a lavanda ajudam a relaxar. O açúcar mascavado pode ser usado para esfoliar o rosto, o sal marinho fino para o corpo.
No Earth Lab, no terraço e perto do ginásio ao ar livre, a defesa da economia circular faz-se aprendendo a desidratar ervas e cascas de frutas, a preparar pickles, sais aromatizados, sodas e vinagres e a plantar rebentos.
Descompressão mágica
Mas o que torna este SPA Six Senses o melhor do ano na Europa? Na verdade, é um centro de bem-estar, em que, com a ajuda dos terapeutas, se aborda a prevenção de doenças, o envelhecimento ativo e a mudança de estilo de vida, porque não há quem não queira viver mais anos com saúde.
Para o galardão contribuem a piscina interior aquecida (dos gelados 5ºC aos 31ºC), com terapia musical subaquática, cromoterapia e jatos de massagem em diversos pontos do pescoço até à região lombar, o recanto sossegado para manicure e pedicure, as cabinas de sauna tradicional ou com infravermelhos, a dezena de salas de tratamentos com vista privilegiada sobre a vinha, as residências de um mês com profissionais de osteopatia e Pilates, reflexologia, personal trainer ou terapia aiurveda, as massagens personalizadas às necessidades de cada pessoa – tendinite no ombro incluída.
Embora o grupo Six Senses não tenha uma marca própria de cosmética, faz parceria com as de referência mundial como Blooming Blends, Seed to Skin, Alqvimia, Kloris, Oway, entre outras.
De toda a experiência, nada superou a drenagem linfática feita com botas de compressão da Normatec, um sistema de pressoterapia mecânica (com sete níveis), ideal para pernas cansadas, retenção de líquidos, recuperação de lesões, ativar os sistemas circulatório e linfático. Primeiro, calçar as botas de perna inteira (até à virilha), depois ajustar o nível de pressão. E se ao início parece demasiado apertado, à medida que se descobre o nível certo encontra-se o paraíso. A sensação de estar a perder o peso das pernas é mágica. Também há uma cinta para colocar à volta da região lombar a irradiar calor e vibração e uma luz infravermelha a incidir no rosto (com olhos vendados), com “poderes” antienvelhecimento e redução de dores musculares e articulares.
Sidra de fogo pela manhã
Na quinta do século XIX, à época da família Serpa Pimentel, ligada ao vinho – hoje as vinhas da propriedade pertencem à Quinta da Pacheca –, não havia boa parte do que existe desde 2015, quando a marca tailandesa fundada em 1995 se instalou por cá, o primeiro País europeu a receber um hotel Six Senses.
No terceiro andar, cruzam-se as diversas zonas comuns, cada uma com a sua particularidade. Na loja, vendem-se cerâmicas, azeite e mais de 700 referências de vinho, na Wine Library todos os dias, às 18 horas, tem início uma prova de vinhos, em que, de forma descontraída, se fala da região, que inclui o Alto Douro Vinhateiro, classificado Património da Humanidade pela UNESCO.
Logo aqui, na prova, usam-se os cinco sentidos, que se devem manter apurados para a refeição na Open Kitchen ou no terraço, ao almoço, e, na sala com lareira, ao jantar.
Nos restaurantes – no verão chegam aos seis –, aposta-se na nutrição saudável e sustentável, por isso nas cozinhas não entra açúcar refinado, abacate, foie gras, caviar, salmão e organismos geneticamente modificados, entre outros ingredientes. Predominam produtos caseiros como o ketchup, feito com miso, feijão-vermelho e grão-de-bico, os leites (de amêndoa e de avelã e cacau), os iogurtes natural e de coco, o kefir feito a partir de água, as kombuchas, os vinagres.
Fomos desafiados para, antes do pequeno-almoço, parar no Immunity Bar e beber um shot fire cider (sidra de fogo), feito com vinagre de maçã, cebola, alho, louro, limão, gengibre – um verdadeiro estímulo matinal. Prova superada!
Descemos à piscina e dali seguimos para um passeio na floresta, passamos pelas pérgulas com baloiços e sombras (qual cena de cinema!) e somos guiados pelo som da cascata mais adiante, perto do cais dos barcos dos passeios pelo rio. De volta à Wine Library, que une as duas alas do hotel, uma máquina de venda automática com copos de vinho e um terraço à nossa espera, de preferência ao pôr do sol, porque contemplar também é terapêutico.
Six Senses Douro Valley > Quinta de Vale Abraão, Samodães, Peso da Régua > T. 254 660 600
Verão ativo
→ De cesta na mão
Piqueniques na floresta (€125/pax), na vinha (€150/pax) ou com crackers (€175/pax), todos incluem pães, crackers, gressinos, azeitonas, pickles caseiros, água e cerveja. Além disso, cada pessoa pode escolher cinco opções, entre garrafa de vinho, sanduíches e saladas, petiscos e “momentos ligeiramente açuca-rados”.
→ Navegar no Douro
Os passeios no rio em barcos de madeira, com lotação até dez pessoas, podem durar uma hora (€395/4 pax) ou ir até às sete horas (€1800/4 pax). Nas viagens até três horas é possível levar a cesta de piquenique a bordo (€55/pax).
→ Aprender nas férias
As atividades do programa Sense of Summer centram-se no bem-estar e vão decorrer junto à piscina.
Farah Condor, diretora de nutrição do Six Senses, especialista em nutrição naturopática integrativa Até 9 ago
Suraj Varma, especialista em aiurvédica antiga Até 31 ago
Meditação na lua cheia 21 ago
Workshop sobre menopausa e saúde feminina com Somi Javaid, obstetra e ginecologista 22-24 ago