Junto ao muro que dá acesso ao Castelo de Moura, a água corre livre e fresca da fonte de Santa Comba. Um pouco mais adiante, volta-se a ouvir o marulhar do valioso líquido na monumental fonte das Três Bicas, com cantaria de mármore, localizada entre a biblioteca municipal e o edifício onde em tempos funcionaram as termas, junto ao Jardim Dr. Santiago.
Muito antes de existir o Alqueva, o maior lago artificial da Europa, foi a água que aqui fixou e trouxe gente de todos os lados. Mais visitantes hão de por aqui passar, com a nova praia fluvial do Lago e a Estação Náutica Moura-Alqueva, com piscina flutuante, restaurante e bar, operadores turísticos, cais, ancoradouro e zonas verdes.
Vanessa Gaspar, arqueóloga do município, é guia do percurso Do Castello até Pisões, um dos passeios pedestres ligados à água, que se podem fazer em Moura. “As duas nascentes existentes na alcáçova do castelo ainda hoje abastecem as fontes. No século XIX, foram estas mesmas águas, à data consideradas curativas pela ausência de doenças de estômago e de bexiga de quem aqui vivia, que levaram à criação de um hotel termal e um estabelecimento de banhos, incluídos na exploração da concessão da água Castello”, explica.
É no castelo que se dá a partida, no cerro mais alto da cidade, onde havia abundância deste recurso natural e onde nasceu, em 1899, a primeira unidade de exploração. A aventura começa junto aos painéis da exposição que assinalaram, em 2019, os 120 anos da água Castello, passa por um olival tradicional, típico da paisagem da região, e termina com uma visita ao museu da empresa, na localização atual, em Pisões.

Através de fotografias de época, garrafas, rótulos, publicidade, máquinas e outros objetos, conhecem-se várias curiosidades, nomeadamente a primeira garrafa, parecida à de um espumante e com rolha de cortiça. Para se ter uma ideia, é do sistema aquífero Moura-Ficalho, com cerca de 177 km², área semelhante à ocupada pelo regolfo de Alqueva, que vêm estas águas.
O centro de Moura percorre-se a pé, entre bicas, jardins verdejantes e uma das zonas mais bonitas, a Mouraria, de ruas caiadas de branco e muito floridas, onde encontramos a Casa dos Poços. Aqui expõem-se três bocais destas estruturas datadas dos séculos XIV-XV, existentes nas habitações deste bairro.
Em poucos passos, estamos na Taberna do Liberato, fundada pela família de Jorge Liberato, em 1946, nas suas mãos e da mulher há 34 anos. À imagem das tabernas antigas, é um local de convívio para uma reunião à volta de um copo de vinho e de um petisco. “Pode ser uma lata de conserva, queijos, enchidos, uns cogumelos do campo ou algum prato de caça, depende da época”, diz à VISÃO. Mas não é tudo, há um clube de vinhos, promovem Jantares com História e tertúlias.
Manuel Luís também herdou da família a centenária Casa Cavalheiro. Fundada junto ao Hotel de Moura, esta mercearia especializada encontra-se agora no Largo da Latoa, com Manuel Luís e a mulher, Gina, a terceira geração, no comando. “Quisemos transformar um pouco o negócio e passar a representar todos os produtores de Moura e do concelho. Temos azeitona, azeite, vinho, mel, queijos, biscoitos e, nas traseiras da loja, o fumeiro, onde ainda fazemos os enchidos de forma artesanal”, conta Gina. Ao cliente, dão a provar um pouco de tudo, “a melhor maneira de divulgar os produtos”. Quem daqui sai normalmente não vai de mãos a abanar e volta.
Em Moura, está instalado o único museu português dedicado à joalharia contemporânea, o Museu Alberto Gordillo. O espólio foi doado pelo artista e conta com 226 peças, 12 das quais esculturas, esclarece Ana Mafalda, uma das funcionárias. A dimensão é pequena, mas mostra bem o trabalho artístico e extravagante, à época, do joalheiro mourense, que, em prata, latão e cobre, criava peças com recurso a acrílico, porcas, parafusos e elementos elétricos.

A subida à torre do Núcleo de Armaria, depois de se vencer os 67 degraus da escada em caracol da Torre de Menagem do Castelo, dá outra visão da paisagem, entre olivais e o paredão do Alqueva. Moura está na margem esquerda do Guadiana, mas no concelho há outros rios e ribeiras, por onde passear, pescar e ver vestígios antigos, como a Atalaia de Porto Mourão, junto ao rio Ardila. Em Santo Amador, uma visita ao Núcleo Museológico do Rio Ardila revela as artes tradicionais da pesca deste curso de água, incluindo a pateira, o barco de fundo chato utilizado nas lides.
É preciso ir quase até à fronteira com Espanha, junto à serra Morena, para se deslumbrar com a riqueza e biodiversidade da paisagem da Herdade da Contenda, em Santo Aleixo da Restauração. Com 5 267 hectares, 21 quilómetros de fronteira e 800 anos de História, nesta propriedade fazem-se passeios para se observar os abutres e ouvir a brama dos veados, explora-se a rota do contrabando ou um percurso entre a ribeira do Murtigão e a ribeira de Pais Joanes. Uma viagem assim só pode deixar boas memórias.
— Dormir
Hotel de Moura Instalado num edifício histórico, tem 36 quartos e três apartamentos de várias tipologias. Pç. Gago Coutinho, 1, Moura > T. 285 251 090 > a partir de €89
Monte da Estrela – Country House and Spa Agroturismo com sete quartos e uma suíte, piscina, pomar e zona de bem-estar. Courela das Antas, Aldeia da Estrela, Moura> T. 91 937 3733 > a partir de €160
— Comer
O Trilho Caldo de espinafres, feijão guisado com peixe frito e sopa de cação são algumas das especialidades R. 5 de Outubro, 5, Moura > T. 96 848 3023
Cantinho da Mouraria Pç. Sacadura Cabral, 41, Moura > T. 96 957 8789
Adega e restaurante Piteira Cozinha alentejana para saborear numa adega de talhas centenárias R. da Fábrica, 2, Amareleja > T. 96 578 7024
— Explorar
Lagar de Varas do Fojo
Neste edifício de 1810, conta-se a história do fabrico de azeite no concelho, ainda com a maquinaria original R. S. João de Deus, 20, Moura > T. 285 253 978
Igreja de São João Batista
Na fachada, destaca-se o portal manuelino trabalhado com colunas torsas; no interior, o púlpito quinhentista em mármore e os azulejos sevilhanos da capela-mor. Pç. Sacadura Cabral, Moura
Jardim das Oliveiras Miguel Hernández Espaço lúdico-pedagógico, onde se dão a conhecer a oliveira e o olival