“Isto é uma estupidez, ou então é uma paixão”, atira Rui Dias. Mas basta ouvi-lo falar da Maraus, a marca de chapéus que lançou no início de 2023, para perceber que é uma paixão por essa arte de dar forma a um pedaço de feltro que o move. E que arte!
Rui vive em São João da Madeira, terra com grande tradição na indústria dos chapéus (onde existe um museu que vale muito a pena conhecer), e cresceu a ouvir histórias do seu avô, António Marau, chapeleiro a tempo inteiro numa das lojas que ali existiam. Foi dele que herdou a bancada e muitas das ferramentas com que trabalha hoje na oficina, em sua casa, já depois de ter estado ao computador entre projetos de design gráfico. Tudo o que sabe de chapelaria aprendeu com o senhor Valdemar. Já Jessica Félix, a sua mulher, é responsável pela área criativa da Maraus (adornos, tecidos, forros).
Tudo começa por um pedaço “do melhor feltro do mundo, muito compacto”, que vai buscar à Fepsa, a fábrica que fornece clientes de Itália, França, Austrália e EUA a partir de São João da Madeira. Cada chapéu exige entre 40 e 60 horas de dedicação até ficar pronto e muito (mas mesmo muito) vapor pelo meio.
Escolhido o tipo de feltro – de pelo de coelho e lebre ou de castor –, é preciso moldá-lo à mão numa forma de madeira, com a ajuda de um vaporizador. O processo é moroso, requer força e persistência (pudemos comprová-lo), recorrendo a várias ferramentas. Com o riscote, risca-se o feltro que está a mais. O conformador serve para medir o diâmetro da cabeça.
Afinado o chapéu, este é enformado durante 24 horas, “para ganhar memória”, explica Rui. Depois é preciso ainda lixar a copa e a aba, coser a tira de carneira e o forro de cetim por dentro. “Um bom chapéu dura uma vida. Já se usou muito, mas perdeu-se esse hábito. Se o usamos no verão, porque não usá-lo no inverno, para nos proteger da chuva e do vento?”
Rui Dias tem uma amostra dos vários modelos – Fedora, Panamá… –, mas trabalha por encomenda, tanto mais que cada chapéu é feito à medida e ao gosto do cliente. A quantidade de goma-laca que é aplicada e lhe confere maior ou menor dureza, os adornos (penas, fitas, laços) e efeitos (uma aba revirada na ponta, por exemplo)… Um chapéu deve ficar sempre dois dedos acima das sobrancelhas e das orelhas, e a aba não deve ultrapassar os 10-12 centímetros. Os da Maraus assentam na perfeição.
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