A minha cidade é ilustrada

Não é um livro, nem é um mapa. É um livro-mapa ou um mapa-livro ou, melhor ainda, um objeto sem nome em que apetece pegar para ver e ler, desdobrar, dobrar, virar e revirar. A editora Pato Lógico lançou os dois primeiros títulos da coleção A Minha Cidade, um harmónio (a lembrar estes outros) com um mapa e 12 lugares escolhidos por um ilustrador na cidade onde vive: Edimburgo, do britânico Marcus Oakley, que se mudou há vários anos para esta cidade escocesa, e Beja, de Susa Monteiro, orgulhosa alentejana que ali nasceu há 36 anos. “Não é um guia turístico para levar em viagem. Turismo só se for de sofá”, define o editor e também ilustrador André Letria. As 12 escolhas não vão ao encontro dos pontos de interesse turísticos, mas refletem gostos e hábitos na cidade. “É uma visão artística destes ilustradores sobre o sítio onde vivem”, resume Letria.
Pelos desenhos e os textos que os acompanham, descobrimos estes lugares, quase como se lêssemos uma história ilustrada. Como a de Marcus Oakley, que gosta de se perder pelas lojas de bricabraque do bairro de Morningside, a sudoeste de Edimburgo, ou que, quando precisa de alongar as pernas, enche uma garrafa de água e prepara um lanche para um passeio nas colinas de Pentland, a cerca de 10 quilómetros do centro da cidade. Ou a de Susa Monteiro, que nos revela a suas estantes preferidas na Biblioteca Municipal de Beja, ou ainda os animais e os frutos que muitos não sabem existir no jardim da Casa da Cultura.
“Interessa-me o urbanismo e a vivência das pessoas nas cidades. E acredito que as crianças têm de ser introduzidas a estes temas, até porque as cidades em que vivem mudam muito”, diz André Letria sobre esta coleção pensada para os mais novos, mas, na verdade, irresistível para os mais velhos. A ideia, conta, é juntar aqui ilustradores portugueses e estrangeiros de cidades bem diferentes – e os critérios, acrescenta, podem ser os mais variados. “Gostamos muito do trabalho de Marcus Oakley, qualquer cidade que nos propusesse, aceitaríamos”, nota, sublinhando o contraste entre Edimburgo, com 500 mil habitantes, e Beja, com apenas 25 mil. “Mostra-nos como as cidades podem ser diferentes e ter pontos de interesses variados.”
Se tudo correr bem, Teerão há de juntar-se à coleção, com as escolhas de um ilustrador iraniano. “Gostávamos que a coleção servisse também para mostrar sítios não turísticos, mais distantes da nossa realidade, através de uma visão artística”, adianta André Letria. Por agora, preparam-se mais duas cidades, ambas em Espanha: Madrid, por Manuel Marsol, e Huesca, por Isidro Ferrer. E nos planos está ainda Santiago do Chile, por Paloma Valdivia. Os próximos lançamentos, no melhor dos casos, só devem acontecer no Natal ou mesmo na primavera de 2017. Sem pressas – até porque isto de conhecer Beja e Edimburgo não se faz de um dia para o outro.

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