Na Louie Louie é possível tomar um café e comer uma tosta enquanto se faz uma pausa na “caça” ao disco
Marcos Borga
1. Louie Louie
O final da tarde é das alturas mais movimentadas na Louie Louie, com clientes portugueses e estrangeiros a cruzarem-se nesta loja de discos, meio escondida no coração do Chiado, nas escadinhas que servem de passagem entre a Rua Nova do Almada e a Rua do Crucifixo. É a Jorge Dias, um “aficionado pela música que transformou o gosto num modo de vida”, que a Louie Louie se deve. Jorge é um dos pioneiros dos discos em segunda mão, há 23 anos que com eles trabalha: “Nunca desapareceram, embora os cds tenham vindo, em determinada altura, a tirar lugar ao vinil”. Na Louie Louie, encontra-se um bocadinho de tudo, ou seja, LPs e singles dos mais diversos géneros musicais, em várias línguas, novos e velhos. Há clientes que vêm à procura de uma banda ou género específico enquanto outros esgravatam em busca de alguma coisa que lhes desperte o ouvido. No entanto, esclarece, a loja é para quem gosta de música e não especificamente para colecionadores: “Tudo o que vale a pena é editado em vinil. E o interesse tem vindo a crescer, só não foi melhor por causa da crise”. A ver.
R. Escadinhas do Santo Espírito da Pedreira, 3, Lisboa > T. 21 347 2232 > seg-sáb 15h-19h30, dom 15h-19h30
R. do Almada, 307, Porto > T. 22 201 0384 > seg-sáb 10h30-13h30, 14h30-19h
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Niko Tavernise
2. Série ‘Vinyl’
Esteve para ser um filme que cobria 40 anos de indústria discográfica com o título The Long Play, mas a crise também teve os seus efeitos em Hollywood. E assim a ideia de Mick Jagger, que já vinha dos anos 90 e que foi logo desde logo partilhada com o realizador Martin Scorsese, acabou na televisão. À série, produzida pelo canal norte-americano HBO, chamou-se Vinyl. Toma como cenário a cidade de Nova Iorque nos anos 70 do século passado. Richie Finestra é um empresário a braços com a falência anunciada da sua editora, cheia de músicos medianos de todos os géneros – e caixote e caixotes de LP por vender. A salvação é encontrar “um novo som” e é aqui que entra Kip Stevens (James Jagger), o vocalista dos Nasty Bits, uma banda punk a despontar em 1973, ano em que tudo parecia estar a acontecer – no Bronx, utilizavam-se pela primeira vez dois gira-discos ao mesmo tempo (eram os primórdios do hip hop) e, em Lafayette Street, na zona de Manhattan, dançava-se o disco sound. Goste-se ou não do resultado – a série pode ser vista no canal TV Séries e já vai para o sexto episódio de um total de dez –, certo é que Vinyl é um desfilar de boa música. Dos New York Dolls a Stevie Wonder, passando por Lou Reed, Led Zepplin, David Bowie, Iggy Pop e os Stooges, Marvin Gaye… Pouse-se a agulha então. I.B.
BASTIDORES No site www.vinylcuts.nyc, uma espécie de guia semanal de Vinyl, é possível ouvir o testemunho de Mick Jagger sobre os anos 70, ver cenas dos bastidores das gravações, fotografias de Nova Iorque daquele tempo e um mapa da cidade com alguns dos locais mais emblemáticos em 1973 – da Factory, de Andy Warhol, ao bar Max’s Kansas City, onde Debbie Harry foi empregada de mesa. E claro, uma playlist para ouvir em repeat
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A Porto Calling vende discos novos e usados – sendo que os usados vêm sobretudo da Alemanha, França e Inglaterra
Rui Duarte Silva
3. Porto Calling
O nome da loja, aberta há quatro anos na Baixa do Porto, começa por prestar homenagem ao álbum London Calling, dos The Clash (1979). Ou a uma época em que o vinil estava bem vivo. O projeto do melómano Pedro Branco, 41 anos, pretende divulgar música através do vinil, seja ele usado ou novo. Pedro dá o exemplo dos Neu!, banda de rock alemã que ainda agora viu ser reeditado o seu primeiro álbum (de 1972) em vinil. O mentor e dono da Porto Calling só lamenta que “os discos novos estejam a ficar tão caros”. Os usados que aqui entram vêm sobretudo da Alemanha, França ou Inglaterra. Além dos géneros musicais do costume, a loja “aposta num tipo de música ligado a uma contracultura como o reggae, o rock progressivo, o punk ou o ska”. A maioria dos clientes anda na casa dos 40. Por vezes, como quando a VISÃO Se7e visitou a loja, aparecem jovens com uma história idêntica à de Paulo Ferraz, 22 anos, que entrou à procura do álbum Live at Wembley’86 para oferecer ao pai. Motivado pelos álbuns antigos lá de casa, conta que comprou recentemente um gira-discos e tenta agora ter a sua própria discografia. Saiu de mãos a abanar: o disco dos Queen voou das prateleiras há dias.
R. da Conceição, 80, Porto > T. 22 094 5501 > seg-sáb 11h-19h
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O LP Quarteto 1111, lançado pela banda portuguesa em 1970, foi vendido há dias pela Musak por “umas centenas de euros”
Rui Duarte Silva
4. Musak
Aqui discos novos não entram. Na Muzak, projeto que Francisco Afonso (Xico Ferrão, como é conhecido) e o sócio, Rui Pimenta, têm há mais de 15 anos, no Quarteirão das Artes, no Porto, os milhares de vinis alinhados nas caixas de madeira vêm de discografias particulares ou são encontrados em feiras de velharias e antiguidades. Do pop/rock à música eletrónica, da clássica ao soul/funk, há de tudo, de todas as épocas e de todas as tendências musicais (a maioria dos discos custa €5 e €10). Entre a prata da casa, o pop rock (GNR, Xutos & Pontapés e Sétima Legião) e a música de intervenção (Zeca Afonso, Fausto e Sérgio Godinho) lideram a procura. Rolling Stones, Beatles, Miles Davis, Doors e Led Zeppelin continuam a ser as bandas estrangeiras mais procuradas, sobretudo “pelos mais velhos, de 40 a 60 anos”. São eles “os colecionadores e compradores mais assíduos, embora, muitas vezes, procurem coisas mais específicas e raras”, comenta Xico Ferrão, defendendo, no entanto, “não existir um boom na procura do vinil”. “Tem havido, isso sim, um crescimento sustentado nos últimos anos”, adverte. As gerações mais novas vão aparecendo à procura dos discos que os pais ouviam como os de Janis Joplin e Supertramp. “Outros vêm à procura de álbuns para tirar samples.” Xico Ferrão, que é dj nas horas vagas (só passa vinil, claro), é adepto da velha escola. E outra coisa nem seria de esperar.
R. do Rosário, 274, Porto > T. 93 629 6196 > seg-sáb 15h-20h
Uma vez por semana chega uma caixa cheia de novidades musicais à Bloop – que também consegue ter primeiro que outras lojas discos de editoras independentes nacionais
Marcos Borga
5. Bloop Vinyl Shop
O som tocado por Garrine ouve-se do lado de fora da Bloop, ainda na rua, onde clientes da loja e amigos do artista ajudam à festa que se faz do lado de dentro. A iniciativa tem o nome de Montra Viva e é uma rubrica quinzenal que leva até esta loja de discos, no bairro lisboeta de Santos, djs convidados, que aqui vêm passar a sua música, tocada exclusivamente em vinil. A Bloop Vinyl Shop é uma das lojas de discos mais recentes de Lisboa. Inaugurou em abril do ano passado e dedica-se à venda de vinil, formato que André Soares, responsável pela loja, também conhecido por Señor Pelota, diz “ser nobre e nunca ter morrido ou desaparecido”. Por aqui, o forte são os discos de música com as novas tendências da eletrónica, mas nos escaparates também se encontra, escolhida a dedo, uma secção de segunda mão. Luís Costa, o dj Magazino e um dos sócios da Bloop Recordings, editora e produtora portuguesa de música eletrónica responsável pela abertura da loja, explica que quando fundaram a Bloop Recordings só pensaram em editar em vinil: “Antigamente, este mercado restringia-se aos djs, mas agora há muita gente interessada no formato e a comprar vinil. Como clientes, não temos apenas os mais velhos, temos também os mais novos, que já não passam pelo obsoleto cd e vêm diretamente para o vinil. Antes, dizia-se que o cd vinha enterrar o vinil, mas a verdade é que é o vinil que está a enterrar o cd.”
R. de Santos-o-Velho, 58, Lisboa > seg-sáb 15h-19h
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Ver a coleção pessoal de vinis, tão arduamente reunida ao longo de vários anos, a passar agora de mãos em mãos, não foi fácil, reconhece Filipe Ribeiro, um dos dos sócios do Bop Café. “Se tinha discos altamente, porque é que haveriam de ficar só para mim?”
Lucília Monteiro
6. Bop Café
Muitos dos funcionários do Bop Café não tinham experiência no ramo da restauração. Para fazer render a coleção de 3500 vinis que os sócios Filipe Ribeiro e João Brandão disponibilizaram para livre fruição na casa (e que, no fundo, é a alma deste negócio), era mais importante escolher pessoas que percebessem de música. O resto viria com o tempo. “O que roda no gira-discos reflete o gosto de quem está a trabalhar no momento”, conta Filipe. Na montra do café, fica exposta a capa do disco a tocar, para chamar a atenção de quem passa.
Os clientes podem ainda recorrer aos três pontos de escuta privados do Bop Café. Através do site ou do tablet do Bop Café, conseguem pesquisar a listagem dos discos disponíveis da coleção, desde a música africana ao rock e funk (onde se encontram, por exemplo, os primeiros álbuns do Quarteto 1111 e do angolano Bonga). E também podem trazer os seus discos de casa. A editora Lovers & Lollypops tem ainda ali à venda todo o seu catálogo em vinil. No que diz respeito à comida, é como se de um dinner americano se tratasse, fruto dos cinco anos de férias que os proprietários fizeram nos Estados Unidos. J.L.
R. da Firmeza, 575, Porto > T. 22 200 1732 > seg-qui 9h30-01h, sex 9h30-02h, sáb 10h30-02h, dom 10h30-01h
A loja possui uma grande variedade de vinil dedicado ao tropicalismo brasileiro e à música africana
Marcos Borga