O Mercado Municipal da Ericeira abre-se a dois fins de semana dedicados ao ouriço-do-mar. É a 9ª edição do Festival Internacional do Ouriço-do-Mar, que traz chefes a preparar esta iguaria e se estende aos restaurantes do concelho.
O objetivo do festival, criado pelo consultor gastronómico Nuno Nobre e organizado em parceria com a Câmara Municipal de Mafra desde 2015 (só não se realizou nos anos da pandemia), foi, desde o início, “contribuir para a valorização de um produto do mar tão rico, mas que era pouco conhecido da maioria das pessoas”. Um trabalho desenvolvido 365 dias por ano e que não se resume à gastronomia.
O que mudou desde a primeira edição do festival?
Há dez anos, estava tudo por fazer. Este é um projeto que reúne a academia, a ciência, a gastronomia e o turismo. Em parceria com o Centro de Ciências do Mar e do Ambiente, desenvolvemos estudos científicos sobre o ciclo de vida do ouriço-do-mar, onde ele vive, a sua potencialidade a nível nutricional… É por isso que temos também as oficinas de ciência no Mercado da Ericeira. Ao mesmo tempo, trabalhamos com as universidades e escolas de hotelaria através de várias ações de literacia do mar.

Conhecia-se pouco?
Na lista de recursos marinhos, o ouriço-do-mar aparecia no grupo dos bivalves. Nada mais errado. Trata-se de um equinoderme, da família das estrelas e dos pepinos-do-mar. Ser considerado um bivalve significava que tinha de ser depurado, como as ostras. Isso é retirar-lhe todo o seu sabor. Conseguimos mudar isso.
Esta é a melhor altura para comer ouriços-do-mar?
Tentamos antecipar ao máximo o festival. Em abril, as águas começam a aquecer e eles começam a desovar. A nossa principal preocupação é proteger a espécie.
Há um período de defeso?
Levámos sete anos até que o período de defeso fosse regulamentado por lei. Desde 2024, é interdito apanhar ouriços-do-mar entre 15 de maio e 15 de agosto, a norte do estuário do Tejo; e entre 15 de agosto e 15 de novembro, a sul do Tejo. É importante disciplinar as capturas, se não, apanha-se tudo e não se protege a espécie no seu ecossistema. Foi o que se passou em Malta, por exemplo, onde hoje não se pode apanhar.
As sessões de cozinha ao vivo com chefes convidados geram sempre interesse. O que é que eles trazem ao festival?
A vila tem um histórico de abundância de ouriços-do-mar, mas, há dez anos, contavam-se pelos dedos de uma mão os restaurantes que os serviam. Era uma coisa muito familiar, ia-se à pesca e faziam-se umas “ouriçadas” com os amigos. Hoje, vamos a um mercado e encontram-se ouriços à venda. Valorizar e promover um produto de alto potencial para a gastronomia, tradicional ou moderna, passa por conhecer novas formas e abordagens de o trabalhar.
Festival em 5 pontos
OURIÇARIA No segundo piso do Mercado Municipal da Ericeira, estarão a ser servidas várias sugestões de cozinha do mar – ouriço e ostras ao natural, berbigão, lapas, um torricado de raia seca (outro dos produtos identitários da Ericeira) –, acompanhados de vinhos da região de Mafra e de Lisboa. Aos sábados (22 e 29 mar) realizar-se-á uma oficina de ciência gratuita sobre o ecossistema marinho e o ciclo de vida do ouriço-do-mar.

CHEFES CONVIDADOS O festival abre a possibilidade de ver fazer e provar as propostas de dez chefes convidados, de raiz portuguesa, como Miguel Castro Silva, até aos mais modernos e internacionais. Na lista, constam, entre outros, Habner Gomes (Yōso, Lisboa, 1 Estrela Michelin), José Lopes (Bon Bon, Carvoeiro, 1 Estrela Michelin), Adam Demanuele (The Seafood Market Grill, Malta) e Athanasios Kargatzidis (Costa Fria, Ericeira, e Baron Beirut, Líbano). As sessões começam às 16 horas.
RESTAURANTES Dos 24 restaurantes do concelho que aderiram à iniciativa, a maioria vai ter ouriços ao natural, ao vapor ou grelhados. Outros arriscam mais, propondo açordas e arrozes cremosos, sopa do mar, massas e sobremesas com ouriço. A mostra gastronómica decorre entre os dias 21 e 30 de março.
JANTAR No dia 27, o restaurante Golfinho Azul serve o jantar Ouriço-do-mar: O Caviar da Ericeira, durante o qual o chefe de cozinha Pedro Castro apresentará cinco momentos confecionados com o ingrediente estrela do festival, da bebida de boas-vindas à sobremesa, harmonizados com vinhos da Ericeira, Torres Vedras e de Bucelas. €60 (bebidas incluídas)
ONDE E QUANDO Mercado Municipal da Ericeira > R. do Mercado, 22, Ericeira > 21-22, 29-30 mar, sáb-dom 12h-20h