1. Barouk

Poucos minutos depois do pedido, um a um, os pratos foram chegando à mesa do Barouk, o novo libanês da cidade, a funcionar com esplanada na Lx Factory.
O couvert foi o primeiro a causar “sururu”, muito por causa do pão pita que vem quentinho e insuflado como um balão, acompanhado por um trio de molhos e pastas: labneh (uma espécie de queijo creme de alho e ervas), muhammara (feito de noz, pimentão e picante) e ainda azeite virgem extra e melaço de romã. Daí para a frente foi um festim de cor e sabor. O menu, pensado pelo chefe libanês Joseph Youssef, tem os clássicos da cozinha daquele país, do húmus, baba ganoush, tabouleh e falafel de grão-de-bico, a uma variedade de pitas (das quais destacamos a de borrego assado durante 12 horas) e várias versões de manakish, uma espécie de pizza. Acompanhe-se com um cocktail que inclua araque, o licor tradicional com sabor a anis, para a refeição ser a preceito. Lx Factory, R. Rodrigues Faria, 103, Edifício H, 0.10 B > T. 96 786 0284 > seg-qui, dom 12h-24h, sex-sáb 12h-1h
2. Comida de Santo
Quando abriu em 1981 no Príncipe Real, perto de um Bairro Alto a fervilhar, o primeiro restaurante de cozinha regional brasileira em Lisboa iniciava uma jornada de 42 anos de boas memórias. O fundador António Pinto Coelho, com a mulher Flor e, mais recentemente, o filho Gonçalo, sempre recebeu com carisma, fidelizando como ninguém quem ali ia comer feijoada e beber caipirinhas. Em junho, mudaram-se para Alcântara, numa casa mais contemporânea, cheia de charme, recuperada pelo arquiteto João Moutinho, onde se destaca o chão claro de lioz, o arco de pedra, o louceiro de madeira, os candeeiros Eichholtz e os painéis e pinturas étnicas de Ana de Sá. São cerca de 50 lugares, entre a sala e o bar por onde se entra, ideal para ser explorado na temporada outono-inverno, com uma bebida e um pãozinho de queijo, bolinho de feijoada ou coxinha de frango. No restaurante, a ementa continua focada na gastronomia nordestina, sobretudo da Baía, com a tradicional feijoada, moquecas, casquinha de siri, escondidinho de carne-de-sol ou de camarão, picadinho à mineiro, delícia de frango, bolo de chocolate Dona Flor, quindim e caipirinhas feitas a partir de 20 referências da aguardente de cana-de-açúcar. Frescura e muita nostalgia baiana. R. 1.º de Maio, 98 > T. 21 396 3339 > qua-seg 12h-24h
3. Vibe

As bases do fine dining e dos speakeasys encontram-se no Chiado, numa cave lindíssima – vencedora de um prémio nos Restaurant & Bar Design Awards, em 2021, quando a sala estava ao serviço do extinto Nómada –, para contar a história de vida de um chefe italiano de 34 anos. Ele é Mattia Stanchieri, natural de Monza, com experiência nas Bahamas, na Dinamarca e até em Lisboa, cidade escolhida para abrir o primeiro restaurante em nome próprio, numa lógica de farm to table, com um menu que muda radicalmente a cada quatro meses. Depois de ter inaugurado o Vibe na primavera com uma carta dedicada a Nova Orleães e ao Louisiana, estreia agora um menu de raiz italiana, intitulado Milão a Turim, espelho dos primeiros anos na cozinha. Serve-se de bons produtos portugueses para criar pratos como gnocchi de abóbora, com queijo São Jorge, ou costoletta alla Milanese, com lombo de vitela dos Açores, servidos em doses pequenas, para fazerem parte de um de três menus de degustação (7 pratos €75, 10 pratos €90, 11 pratos €130). As receitas são explicadas em pequenos cartões arrumados numa caixinha na mesa, em jeito de mapa de viagem, acompanhada nos vinhos pelas ideias do Senhor Uva e nos cocktails pelo Quattro Teste, consultores do restaurante. R. da Horta Seca, 5B > T. 96 552 2749 > qua-dom 19h-24h
4. Yoso

Habner Gomes, 32 anos, e José Balau, 25, formam uma dupla dinâmica na cena japonesa dos balcões únicos, 12 lugares, e com muito para dar a descobrir. Habner está em Portugal há 17 anos vindo de Minas Gerais, no Brasil, e sempre trabalhou com gastronomia japonesa (Mattë, Hikidashi). “Aprecio o rigor, a limpeza, a busca diária da perfeição. Gosto de servir os meus clientes”, diz-nos. O conceito omakase (deixar-se nas mãos do chefe) com inspiração na cozinha kaiseki, de Quioto e Osaka, em vez da típica de Tóquio, faz com que no menu, em vez de pratos ou ingredientes, mencionem-se nove técnicas, com caldos, grelhados e fritos, num desfile em crescendo. Alguns exemplos: fígado de tamboril hassun (foie gras do mar), lírio yakimono (marinado e grelhado), cavala agemono (tempura), tomate-coração-de-boi yogashi (na sobremesa). São duas horas de jantar, desde o momento em que o arroz é temperado com vinagre mizkan, com estágio em borras de sake, até ao café de especialidade, com torrefação feita na Asante na Costa da Caparica, moído na hora e servido espresso ou filtrado. Sentados na cadeira ergonómica e muito confortável, o rol de pratos servidos na louça do Studioneves, inspirada nos quatro elementos (terra, fogo, ar e água), está em contagem decrescente para realizar o sonho de Habner: ganhar uma Estrela Michelin. Rampa das Necessidades, 6 > T. 21 397 0705 > ter-sex 12h30, 13h30 menu executivo €35 (com bebida e café), ter-sáb 20h menu degustação €95 (sem bebidas)
Longa vida às tascas alfacinhas
5. Cerqueira
Bem-vindos ao Cerqueira 2.0. Uma mistura do melhor que o casal Avelino e Ana Maria deu, durante 40 anos, a esta tasca da Calçada de Sant’Ana – e aqui falamos de boa comida e excelente atendimento –, com as influências e experiências de um conjunto de amigos que não quis ver morrer mais um restaurante português. “Queremos respeitar a cultura da casa”, resume Diogo Lopes, um dos sócios, e isso traduz-se numa série de pratos de linha portuguesa, outros de inspiração brasileira, país de origem de quem cozinha, recriados a partir de um livro de receitas de Ana Maria ou inventados de raiz. Ao almoço fazem-se experiências que, quando bem-sucedidas, saltam para o menu fixo, onde já estão cativos a aba estufada, o bacalhau à minhota e o doce da casa (imperdível!). Cç. de Sant’Ana, 49 > T. 21 887 1369 > ter-dom 12h30-15h, 18h30-23h
6. Taberna Meia Porta

Foi uma mão divina que levou Frederico Frank a passar pelo Floresta do Alcaide, perto do Miradouro de Santa Catarina. Ao fim de 40 anos, o casal Manuel e Prazeres tinha decidido ir viver para o Alentejo, e o chefe brasileiro encontrou a morada perfeita para o restaurante que queria abrir com o sócio Rodrigo Braga. Mantiveram os azulejos, rasparam as camadas de tinta do teto e puseram mesas de tampo de mármore. O nome surgiu de uma circunstância: Taberna Meia Porta, uma vez que só abre uma das duas portas. Aqui, tudo é servido em travessas de alumínio para partilhar: croquetes de sapateira, moelas, barriga de porco assado com grão-de-bico, mousse de chocolate com caldo de ginja, só para abrir o apetite. Tv. do Alcaide, 22A > T. 21 011 4896 > ter-sáb 12h30-15h, 19h-23h
7. Vida de Tasca

Quem é do bairro de Alvalade conhece este poiso com mais de 40 anos. Não com este nome: a Casa Alberto chama-se agora Vida de Tasca pelas mãos de Leonor Godinho, que, quando percebeu que o restaurante estava à venda, comprou-o sem hesitar. “Almoçava aqui várias vezes”, diz. Na Vida de Tasca, onde não falta uma esplanada, a chefe do Vago pratica a cozinha do património tasqueiro português. “Quis preservá-la tal como ela era, e não fazer uma coisa diferente.” A ementa faz-se à base de grelhados, tem alguns pratos de tacho e pratos do dia. Pode ser uns pastéis de bacalhau com arroz de coentros, panados com salada russa ou arroz de polvo malandrinho, sempre servidos com simpatia. R. Moniz Barreto, 7 > T. 21 849 0855 > ter-sáb 12h30-15h, 19h30-22h30
8. Selllva
Diz-se que no Selllva (assim mesmo com três eles, como se fosse a marca de uma garra) se come saudável sem fundamentalismo e isso atrai qualquer pessoa que procura equilíbrio à mesa: sabor, sem que esse esteja a nadar em gordura. Na verdade, não é caso para espanto – o restaurante existe há cinco anos na Rua Mouzinho da Silveira e já tem a sua clientela bem delineada. Mas como, às vezes, os lugares pareciam poucos para quem queria comer estes brunches, por exemplo, desde o verão que Campo de Ourique acolhe a nova sucursal, onde em tempos se serviram “moules et frites”, como os belgas gostam. A ementa é a mesma e divide-se entre Brunch (todos os dias), Jet Lag (menu de pequeno-almoço disponível até às seis da tarde), Into The Wild (que são as entradas, como bolinhos de queijo e tapioca) e os pratos principais, que tanto podem ser um tataki de atum (€18) como um risotto de beterraba (€14,50). O ambiente é selvagem, claro, e o pátio das traseiras a mais-valia deste novo restaurante, onde se está mesmo bem a saborear uma opção da secção Hydration Waterfall (sumos naturais, detox ou smoothies). Mas também existe uma variada lista de Urban Cocktails para quem não dispensa o álcool. R. 4 da Infantaria, 29D > T. 21 599 9631 > seg-dom 09h30-24h
9. Bisque
Atente-se, primeiro, na cenografia do Bisque, inspirado nos ambientes clássicos de Paris, mas com um toque moderno e algo teatral. Pavel Kisilev, um dos sócios, gosta dos detalhes, nós também. “Os talheres foram comprados em Paris, os pratos feitos por encomenda com o nome do restaurante na República Checa, os candeeiros vieram de Itália”, conta-nos. Em Portugal há oito anos, com passagem pelos Açores, onde teve dois restaurantes, foi no Oyster & Margarita no Príncipe Real que se cruzou com o conterrâneo russo Vladimir Perelman, o outro sócio do Bisque. “Desde o início que ele queria uma coisa à base de peixe, ficou impressionado com a qualidade do produto português, a proximidade do mar, e também do marisco”, diz Pavel, responsável pela gestão diária. A preferência de Vladimir pela cozinha francesa inspirou a carta com base no molho bisque que se desdobra em várias propostas, como o topinambour com molho bisque e queijo comté ou bisque com lagosta, gougères (bolinho de massa choux com queijo) e molho rouille. Entre as novidades, a entrada de dióspiro com gorgonzola, uma espécie de parfait muito ligeiro que funciona bem com a fruta, cortada em pedaços para depois ser passada por esse creme, o salmão numa combinação com amêijoas e pimentos de várias cores e a sobremesa de creme brulée, também surpreendem o paladar neste Bisque. Lg. Conde Barão, 20 > T. 96 305 0162 > seg-qui 18h-23h, sex 18h-23h30, sáb-dom 10h-15h, 18h-23h30
10. Água pela Barba

Se ainda estivéssemos às escuras acerca do que nos esperava depois de nos sentarmos à mesa deste novo restaurante de Campo de Ourique, as luzes acenderiam perante a enorme fotografia que domina a sala, em que se vê um pescador no seu habitat. Estamos no mar, portanto, e há de ser de lá que toda a comida vem (exceção única para a sanduíche de cachaço de porco desfiado). Quem já conhece o irmão mais velho, que abriu na Bica há oito anos, pela mão do empresário João Alves, estará familiarizado com o bao de sapateira (€15) ou com o ceviche misto (€14), de salmão e pampo, que se faz acompanhar de puré de batata-doce, só para citar dois dos deliciosos exemplos das “miudezas”, como aqui se chama às entradas. Os rissóis de peixe, dois exemplares bem fritos por 10 euros, são a única exclusividade do bairro, quando ainda estamos neste capítulo de dar fôlego à refeição. Provem-se, pois então, que se complementam com uma salada de coentros e maionese de gengibre. Nas “grandezas”, há apenas quatro caminhos marítimos a escolher: polvo, lingueirão, camarão ou filete de peixe branco, mas lá estão também o cachaço e três opções vegetarianas. Como o risotto de lingueirão só pode ser (a)provado aqui, optámos por experimentar este primo italiano do nosso arroz (€25) com este marisco que aparece em algumas praias na maré baixa. A rematar, voltámos a Itália (o chefe João Magalhães passou lá alguns anos) através de uns cannoli, que na ementa dá pelo nome de canilhas e estão recheadas de creme pasteleiro. R. Coelho da Rocha, 110 > T. 93 524 4842 > seg-sáb 12h30-15h, 19h-01h, dom 12h-16h
11. Sophia

Abertura muito recente na avenida central da LX Factory, em Alcântara, esta pizzoteca e bar alarga a oferta de “pizzas contemporâneas” napolitanas feitas com massa de fermentação longa (36h/48h). Na esplanada do Sophia, do grupo Capricciosa, já com casa aberta há três anos junto ao Mercado da Ribeira, o anúncio do “Prosecco open bar” chama a atenção. Durante uma hora, por €14, pode beber a quantidade que quiser deste vinho branco italiano na sua versão clássica ou com hortelã. Acompanha bem com bolas de pizza XL (recheadas com queijo, alho, trufa e orégãos ou ventricina) ou com um doce, o clássico tiramisu ou a mousse de mascarpone e pistácio. As mesas acrílicas coloridas, em rosa e em cor de laranja, e os bancos de alumínio, conferem o aspeto minimalista e cosmopolita ao espaço remodelado pelo arquiteto Duarte Caldas, com instalações originais do estúdio de Constança Entrudo. Tudo em harmonia com o pedido que pode ser feito através do QR Code do menu. LX Factory, R. Rodrigues Faria, 103 > T. 21 098 7442 > dom-qui 12h-24h, sex-sáb 12h-2h
12. Le Bleu

O chefe Kiko Martins chegou a Campo de Ourique para fazer das suas. Neste bairro familiar, quis mostrar que nem todos os restaurantes de peixe e marisco têm de ser iguais e que se pode ser diferente sem se abdicar da qualidade do produto e do seu sabor. É no couvert que começamos a perceber isso – e também que nem tudo o que parece é, como nos avisam logo que abrimos a ementa –, pois lá encontramos espargos prontos a serem mergulhados num dip de anchovas. Além de pão de queijo Gruyère e brioche para barrar de manteiga com flor de sal. Depois, o desfile de snacks pode ir variando por entre um nigiri de lírio e marshmallow, inspirado no clássico japonês, mas sem o típico arroz a servir de cama ao peixe (€7,20), um par de ostras da ria Formosa (€8,30) assentes em pedras azuis e só essas regressam à cozinha, pois de resto tudo se come, “concha” incluída, ou uma sanduíche de barriga de atum, em que o “pão” é feito de suspiro (€12,30). Quando chegamos aos pratos principais, há polvo, bacalhau, salmonete, lagostim, pregado, gamba violeta e barriga de atum para escolher. Mas, já se sabe, nada do que aqui escrevermos vai depois ter a correspondência esperada no prato. Por isso, só vendo, e brincando às adivinhas, de cada vez que nos servem. R. Saraiva de Carvalho, 131 > T. 21 137 0107 > ter-qui 19h-23h, sex-sáb 12h-15h30, 19h-23h
13. Irú
Um jantar no Irú é uma experiência intimista. No balcão, de um lado, sentam-se oito comensais, do outro está o chefe Pedro Binotti, que confeciona e decide o que se serve a cada dia neste restaurante japonês ao estilo omakase. O desafio foi lançado por Pedro Lopes, sócio do Black Sheep e responsável pelo Salta, onde Pedro Binotti trabalhou como chefe principal. O peixe é o ingrediente estrela do menu composto por 12 momentos (€80) a que pode acrescentar-se um pairing de vinhos ou saké (€40). “Trabalhamos com peixe maturado (entre dois a 10 dias), que lhe dá uma textura mais firme e uma potência maior no sabor”, diz Pedro Lopes. Além da criatividade e técnica apurada do chefe, é a sazonalidade que também dita as sugestões – finda a época da sardinha, pode entrar o lírio dos Açores ou atum de pesca sustentável. Há, no entanto, dois pratos que se mantêm. “Um é o arroz japonês com tempero do chefe e unaji, que é uma enguia defumada marinada num molho kabayki, tem muita frescura; o outro é o tartar de cavala, preparado com gengibre, chili, soja, teriyaki e gotas de limão. É servido com uma folha de shiso e come-se como um taco”, explica Pedro Lopes. No final, há uma pequena surpresa. Tv. da Fábrica das Sedas, 30 > T. 21 010 2326 > seg-sex 19h e 21h30