Quando Kiko Martins regressou a Portugal, em 2008, depois de uma viagem por 26 países com a sua mulher, Maria Bravo, vinha com vontade de abrir um restaurante pequeno, com apenas 12 lugares, em que a ementa refletisse os lugares por onde tinha passado. O que se seguiu, não foi exatamente assim, mas andou lá perto.
“Cheguei em plena crise financeira e muitos colegas de profissão disseram-me para não abrir um restaurante por cá, mas sim no Brasil ou em Angola”, recorda o chefe nascido no Rio de Janeiro. “Não queria voltar a sair de Portugal. Quando se viaja durante bastante tempo, ficamos com mais saudades do que é nosso”, justifica.
Na altura, conta o chefe de cozinha de 43 anos, “o setor do talho estava estagnado, sem estética, vendiam alguns cortes complicados”. “A minha ideia era abrir um talho com um restaurante que funcionasse como laboratório de ideias, para trazer inovação, design e simplificação à vida das pessoas. Sempre quis trabalhar a carne de uma forma mais criativa e inovadora”, afirma, acrescentado que chegou a fazer um estágio durante um mês num talho em Alvalade. “Aprendi muito.”
O Talho abriu no dia 10 de março de 2013, perto do El Corte Inglés e da Fundação Calouste Gulbenkian, numa zona residencial. “Deu-me um grande gozo, e ainda dá”, sublinha. “Quero que seja um dos melhores restaurantes de carne de Lisboa.”
O que aí vem
Dez anos depois, muita coisa mudou no primeiro restaurante de Kiko Martins, desde a decoração, agora com cores mais quentes, à ementa. A loja mantém-se à entrada, onde se encontram vários cortes de carne, pratos prontos a servir ou pré-cozinhados para finalizar em casa.
A escolha vai desde os hambúrgueres de picanha do Uruguai, de borrego ou de vitela barrosã, aos croquetes de pato ou de cozido à portuguesa, rosbife de vazia da Argentina e lombo de porco preto marinados. Há também azeite biológico de trufa preta, mostarda, caril, flor de sal, vinhos e, claro, os livros de cozinha do chefe que, entretanto, abriu mais uma série de restaurantes em Lisboa: a sempre concorrida Cevicheria, O Boteco, O Poke e, mais recentemente, o Las Dos Manos.
À mesa d’O Talho, desde o primeiro dia, continuam a chegar os croquetes de cozido à portuguesa (€9,80/3 unidades), preparados com as carnes do cozido, hortelã e maionese de chouriço, e o bife tártaro de novilho, alga nori, batata frita e vodka (€29,70), finalizado à frente do cliente.
A estes, Kiko Martins acrescentou uma novidade, um (delicioso!) bife Wellington, feito com lombo de novilho do Uruguai, envolvido em cogumelos e presunto pata negra e vestido com uma massa folhada estaladiça (€108,90/2 pessoas). Já o carré de borrego (€31,40) foi sofrendo alterações, sendo servido atualmente com pão naan, iogurte, amêndoas e lentilhas. Estas opções, entre outras, estão disponíveis na carta mas também entram no menu de degustação, composto por cinco pratos e uma sobremesa (€82,60).
A garrafeira mais completa é uma das suas apostas recentes, com referências de várias regiões nacionais e internacionais.
Para assinalar o 10 aniversário d’O Talho, ao longo deste ano, haverá uma série de iniciativas no restaurante e online, que serão divulgadas nas redes sociais, entre elas, workshops e jantares a quatro mãos com chefes convidados, como Henrique Sá pessoa, Rui Paula e Vítor Sobral. “Este é o meu primeiro restaurante, o que me traz nostalgia. Por vezes, é o que me irrita mais, mas também é o que me faz mais feliz”, diz Kiko Martins.
O Talho > R. Carlos Testa, 1B, Lisboa > T. 21 315 4105 > seg-dom 12h-16h, 19h-23h30