1. Ruvida
Não há fotografia que faça justiça a este italiano. Afinal de contas, é difícil fotografar o sentimento de chegar a casa, a simpatia de quem serve e o sabor a uma Itália de verdade que, de Bolonha, viaja na mestria de quem cozinha, aterrando em cada prato sob as formas mais variadas, das massas à carne, passando por entradas realmente italianas. Aqui não há lasagne, bruschette ou pizze, mas o Bel Paese sente-se inevitavelmente no ar, como um perfume de verão feito de notas de vinho branco e da cor verde dos pistácios.
Quem já esteve em Itália, sabe que pistácios casam bem com mortadela. São precisamente estes os protagonistas da mousse que abre as hostes e que leva ainda ricota de ovelha e queijo parmesão. A pasta fresca não podia faltar e é feita como deve ser. Tortellini, tagliatelle, bigoli, gnocchi e creste di gallo saem das mãos de Valentina Franchi, uma das responsáveis, amassadas à mão e trabalhadas a mattarello, um rolo de madeira.
A técnica, típica de Bolonha, permite não usar demasiada farinha quando se estende a massa, fazendo com que, mais tarde, ao chegar ao prato, esta absorva melhor o molho. E que molho! É difícil escolher entre o caldo de carne dos tortellini de porco, mortadela e presunto de Parma, e o creme aveludado de cogumelos morchella e queijo Castelmagno que envolve os gnocchi de batata. Chegados à sobremesa, voltar ao pistácio (de Bronte!) é sempre uma opção, ou então prestar um “Elogio a Santa Clara” (dos cogumelos), restaurante no bairro da Graça ao qual o chefe do Ruvida dedica uma mousse de chocolate e cogumelos boletus com avelã e beterraba. É caso para dizer, da leccarsi i baffi! – o equivalente em português a “comer e chorar por mais”! M.A.N.Pç. da Armada 17, Lisboa > T. 21 395 0977 > seg-sáb 12h-15h30 e 19h-22h30, dom 12h-15h30
2. Leonetta
Uma das últimas novidades do mundo italiano em Lisboa chama-se Leonetta e fica no cimo da Rua da Rosa, já a chegar ao Príncipe Real. É a oitava aventura em Lisboa do casal belga Margaux Marcy e Pierre d’Andrimont, responsáveis, entre outros, pelo Javá, o Farés e o Café Janis. A incursão a Itália, país onde Margaux tem família, começou com a pizzaria Coppola e, na primavera, estendeu-se às massas frescas, feitas todos os dias à mão neste novo restaurante. Alessandra Lauria, conhecida como The Pasta Queen ajudou a equipa a definir as receitas iniciais, “sobretudo a conseguir uma boa massa vegan”, explica Bianca Xavier, responsável de marketing e comunicação do grupo, num menu que mistura pratos tradicionais com outros de assinatura. “Acreditamos que não são precisos ingredientes muito diferentes e originais para conseguir um bom sabor”, continua Bianca. Além dos antipasti, em que se destacam as alcachofras com menta ou os calamares fritos, há massas que já se tornaram best-sellers, exemplo da mafaldine com tomate e burrata ou dos vegan pink gnocchi (de beterraba). Dividido por dois andares e com um pátio nas traseiras cheio de luz, o Leonetta é também um sítio para beber um copo e petiscar especialidades como as bolas de mozzarella crocantes ou os ravioli abertos da Cantábria. R. da Rosa, 321, Lisboa > reservas: leonettapasta.superbexperience.com > seg-sex 18h-22h30
3. Lamassa
O Lamassa é um dos restaurantes-estrela de São João do Estoril, na Linha. Um espaço pequeníssimo – na pandemia têm funcionado sempre em dois turnos ao almoço e jantar – cuja génese é um laboratório de produção de massa fresca artesanal. A italiana Romina Lamassa é o cérebro à frente da operação, uma mulher que nasceu na Apúlia, cresceu na Campânia, estudou em Nápoles e trabalhou em Roma. A soma de todas essas tradições e experiências culinárias é aquilo que compõe o menu do restaurante, em que as diferentes massas casam com molhos típicos de Itália.
Há sempre dois tipos de massa, uma de farinha 00 e ovo, outra de sêmola de trigo e água, mais típica do Sul do país, esticadas à máquina e cortadas com diferentes utensílios de ferro e madeira que Romina gosta de mostrar aos clientes mais curiosos. Além de tagliatelle, pappardelle ou ravioli mais clássicas, combinadas em receitas como cacio e pepe, alla genovese (molho de alcatra) ou carbonara, todos os dias há especialidades diferentes, exemplo dos corzetti ou dos orecchiette, por vezes feitos a pedido dos clientes. Para provar no Lamassa ou levar em takeaway e finalizar em casa, convém sempre reservar. R. J. A. Ferreira, 121, S. João do Estoril > T. 21 468 4362 / 96 848 3040 > ter-sáb 12h30-15h, 19h-22h30
3. Clube de Vídeo
Das mãos de Erica Porru só saem pratos cheios de sabor, feitos com os melhores ingredientes, as técnicas mais artesanais e muita alma. Erica, 50 anos, é filha de Maria Paola Porru, dona do conhecido Casanostra – quando abriu, há 35 anos no Bairro Alto (1 de abril de 1986), em Lisboa não havia outro lugar assim, onde a cozinha italiana fosse preparada com ingredientes vindos de Itália, confecionados de forma caseira, como na origem – e da pizzaria Casanova, à beira-Tejo, perto de Santa Apolónia. Quem vai ao Clube de Vídeo, nome que Erica deu à sua cantina italiana no Beato, sabe que a ementa é sempre surpresa. Tanto pode haver só dois pratos e muitas doses como cinco receitas e menos porções que acabam depressa de lasagne porcini, feita com massa fresca, gnocchi com pesto e queijo, frango salteado com pesto e mascarpone que acompanha com puré de batata caseiro, ou gnocchetti sardi al ragù (parece gnocchi de batata, mas é uma massa), confecionado com as sobras das bochechas estufadas na véspera, até porque nesta cozinha não há desperdício. O menu de almoço é económico e sacia a vontade de comida de conforto: fica por 12 euros e inclui pão, sopa, prato, sobremesa e café. R. do Grilo, 98, Lisboa > T. 91 756 0845 > seg-sex 10h-18h
4. Bella Ciao
Anos antes de uma determinada série espanhola pôr o mundo a entoar a canção de protesto italiana Bella Ciao, já Marcello di Salvatore, italiano de Abruzzo, saudava os lisboetas que se aventuravam a entrar na sua pequena trattoria na Baixa. Sempre atrás do balcão, a controlar as frigideiras onde confecionava ao momento o spaghetti carbonara, o bucatini all’amatriciana ou os gnocchi alla sorrentina. Em 2016, mudou-se da Rua do Crucifixo para a de São Julião, levou as pequenas mesas forradas a toalhas de quadros vermelhos, imagem da casa, e manteve a tradição com que recebe os clientes: de entrada uma salada de tomate, rúcula e atum (gratuita), as pastas cozinhadas na hora – imperdível o pacherri com ragù d’agnello (borrego) –, três pratos de vitela tradicionais de Itália e, para finalizar, um tiramisu autêntico. E de babar. R. de São Julião, 74-76, Lisboa > T. 21 093 5708, 96 361 3751 > seg-sex 12h30-15h30, 19h-22h30
5. Fiammetta
Ativem-se todos os sentidos ao entrar neste restaurante, que há quatro anos abria só como mercearia italiana. A necessidade de explicar aos clientes como usar uma série de queijos ou a charcutaria fez com que Ludovica Rocchi Brandão, nascida em Roma, criasse uma ementa e evoluísse para restaurante, com pratos coloridos, aromáticos e muito apetitosos. A nova carta de verão tem apostas mais leves, com o peixe em destaque: cuscuz, atum braseado e creme de legumes marinados (€12), polvo na chapa com pappa al pomodoro, uma espécie de açorda de tomate com stracciatella, a parte interior da burrata (€14), carpaccio de robalo com lascas de trufa preta (€20), um prato fresco e deveras perfumado. E porque há sempre quem não resista às massas, o spaghetti com amêijoas (€18), com anchovas e manteiga (€12) ou a calamarata, mexilhões, tomate e queijo em lascas (€15), concorrem diretamente com a predileta carbonara (€12) ou a bigoli alla amatriciana (€12), feita com molho de tomate e guanciale tostado. Adocemos a boca com o zabaione com marsala e caramelo salgado (€6), uma versão italiana da nossa baba de camelo, e da esplanada não vamos querer sair. R. Almeida e Sousa, 20, Lisboa > T. 21 385 0679 > seg-sáb 12h-16h, 19h-22h30, dom 12h-16h > Mercearia seg-sáb 10h30-22h30, dom 10h30-17h
7. Il Matriciano
Sua Maestá La Carbonara é um dos pratos emblemáticos da carta do Il Matriciano, feito com bochecha de porco, ovos, queijo pecorino romano e pimenta-preta, trazida de Itália, de uma pequena loja de especiarias. E, claro, “sem natas” como manda a receita original, sublinha Stefania Carpoca que com o marido, Alessandro Lagana, abriu há sete anos este restaurante “veramente italiano”, na Rua de São Bento, cujo sucesso diz dever-se à paixão que têm pela comida e “o máximo respeito pelo cliente”. Servem cozinha tradicional, muito próxima da gastronomia romana, mas também de outras regiões, fruto das suas origens, gostos e referências – é o caso dos fruttini gelato artigianali (minigelados artesanais servidos na casca da própria fruta), uma sobremesa da infância de Stefania. O casal procura ter os melhores ingredientes italianos, da pasta fresca produzida artesanalmente à cotoletta di vitella ou à salsiccia di Norcia, a estrela da bruscheta Maradona, numa homenagem ao jogador argentino. Na carta, bastante variada, destaca-se o tartare de atum com stracciatella de burrata e trufa, entre as mais de uma dezena de sugestões de antipasti. Siga-se a refeição com um ravioli recheado de burrata (com um pouco de limão), tomate, manjericão e pinhões torrados ou um tonnarelli cacio e pepe, um clássico confecionado apenas com pimenta e queijo, e eis que viajará até Itália, sem sair de São Bento. R. de São Bento, 107, Lisboa > T. 21 395 2639 > seg-sáb 12h30-15h, 19h30-22h30
8. Osteria – Cucina di Amici
Na Madragoa, a osteria de Chiara Ferro e Tânia Martins só serve comida italiana caseira, daquela feita com amor a partir de receitas de família. “A Chiara é de Turim, no Norte de Itália, mas temos comida de todas as regiões, o mais fiel possível à origem e confecionada com produtos italianos”, diz Tânia. Na cozinha, trabalha-se a pasta fresca para os ravioli recheados de parmesão com molho de tomate da marca italiana Mutti “o melhor do mundo”, segundo as responsáveis, e às quintas, como é tradição na Itália, servem gnocchi caseiros. De resto, o menu, que é sazonal, mantém-se diariamente ao almoço e jantar, com propostas como o vitello tonnato, as polpette de carne al sugo della mamma (umas almôndegas de carne bem temperadas servidas com o tal molho de tomate), as lasagnas di pane carasau, feitas com um pão fino da Sardenha, e o risotto de espinafres frescos e tomate seco ao sol. Tudo servido como se estivéssemos numa casa italiana. R. das Madres, 52, Lisboa > T. 21 395 0598 > ter-sáb 12h30-16h30, dom 12h30-22h30, seg 19h30-22h30
9. Vesuviano
A montra do Vesuviano, em Campo de Ourique, parece um arco-íris. De um lado ao outro, há caixas de massa fresca colorida, feita diariamente na casa: fusilli de manjericão, linguine de beterraba, radiatori de pimento, fettucine de espinafres, linguine de limão, rigatoni de cinco cereais, ravioli… São confecionadas com farinhas produzidas de modo tradicional, em mós de pedra e a frio, e ingredientes frescos. “Só assim se tem uma massa de qualidade. Temos de quebrar o tabu de que as massas fazem mal, estas não fazem”, defende Francesco Gianonne, 30 anos, o italiano responsável pela abertura do Vesuviano, em setembro de 2020.
“Quis fazer uma espécie de padaria de massas, o que na Itália se chama pastificio. As pessoas vêm comprar pasta e preparam-na em casa.” Além de kits (incluem a pasta, o molho e um ou dois ingredientes), também é possível encomendar uma massa específica. “Podemos fazer com farinha de kamut, quinoa, trigo sarraceno e infusionar com limão, alfarroba, curcuma, piripiri…”, diz Francesco. Lá fora, na rua, existe uma esplanada e um menu com várias propostas, preparadas ao momento: linguine de limão alla Sirena, fusilli de manjericão alla vodka, radiotari de pimento alla Romanesca, lasagna ou parmigiana di melanzane, feita com beringela refogada, pummarola (molho de tomate), mozzarella e manjericão. Em breve, na happy hour, será possível tomar um copo de vinho acompanhado de uma tábua de queijos. R. Ferreira Borges, 37, Lisboa > T. 21 603 3382, 92 725 9999 > seg-sáb 12h-22h30
REMATE FINAL: Gelado ou cannoli? Três sugestões gulosas
1. Gelateria Mamma Mia
Natale Tassitano, italiano de Calábria que escolheu Portugal para viver, abriu a Mamma Mia em 2017, em Campo de Ourique, e faz questão de comprar a melhor fruta nas mercearias vizinhas. O pistácio, vindo de Itália, é previamente torrado, na cozinha à vista, e depois trabalhado por Natale, tal como os cerca de 15 sabores de gelado e sorvete que prepara diariamente, com preços bem simpáticos: um copo com dois sabores custa €2,50 e uma embalagem de meio litro (três sabores) fica por 9,50 euros. R. Saraiva de Carvalho, 147 – Loja 3, Lisboa > T. 21 397 0628 > seg-sáb 13h30-19h30, dom 14h-19h
2. Rémi Coffee & Wine
Com esplanada na Rua Gomes Freire, o Rémi é um bar de especialidades italianas, onde constam os cannoli, a sobremesa tradicional da Sicília, feita de uma massa doce frita em formato de tubinho, recheada com um creme de ricota. Existem em três tamanhos (€1,60, €3 e €4) e, ao recheio clássico, pode juntar chocolate, pistácio, avelã, caramelo e amêndoa. R. Gomes Freire, 146B, Lisboa > T. 21 154 7608 > seg-sex 16h-22h, sáb-dom 9h-22h
3. Unico Gelato
Na Avenida D. Carlos I, a Unico reproduz as receitas da Cremeria Funivia, em Bolonha, feitas sem corantes nem conservantes e com 90% dos ingredientes a chegarem de Itália, como os limões e o pistácio da Sicília ou as avelãs de Piemonte. A diferença está na cremosidade dos gelados em forma de 20 sabores (€2,50/um sabor a €5,50/quatro sabores). Uma caixa de meio litro (2 sabores) custa €12 e oferecem dois cones. Av. D. Carlos I, 92, Lisboa > T. 21 246 1414 > qua-dom 12h-22h