Se a vida não estivesse de pernas para o ar, a entrada no Cura seria pela Rua Rodrigo da Fonseca. Agora, temos de passar pela receção do hotel Ritz, responder a duas perguntas enquanto uma câmara nos capta a temperatura, sem darmos por isso.
Depois deste parêntesis, e de retirada a máscara, o jantar segue como se lá fora não houvesse uma pandemia. O conforto da sala e a atenção permanente dos empregados contribui para essa sensação. A conjugação da parte estética com os sabores faz o resto. E aqui, o maior culpado é o chefe Pedro Pena Bastos, 30 anos – traz para o ambiente formal de um hotel de cinco estrelas a descontração possível. Que ninguém se sinta constrangido no Cura, que não foi para isso que este restaurante acabou de abrir no lugar de uma sala de reuniões.
“Estamos aqui para dar prazer imediato sem esperar nada em troca, enquadrando a modernidade e o arrojo da comida portuguesa com a apresentação”, afirma o chefe, antes de se enfiar na cozinha aberta para os comensais, de onde sairão os pratos para compor os três menus da ementa. Há que escolher de entre o Origens (€120 ) para os mais valentes, o Meia Cura, que foi o que nos serviram em sete momentos (€85) e ainda o Raízes, totalmente vegetariano (€75).
Como já se vê, esta página é manifestamente curta para contar tudo o que se passou à mesa, ao longo de duas horas de refeição, mais os vinhos aconselhados pela sommelier Gabriela Marques. Destacamos, por isso, três delícias e o pão. A tartelete de lírio dos Açores, curado aqui mesmo, com alga e sal, durante uma semana, vem num conjunto de dois snacks, ao lado de um coração de alface grelhada com vinagrete. Apesar de ter sido o início do jantar, a textura e o sabor deste peixe nunca mais nos saíram da memória. No entanto, a mariscada, com pickle de tremoço, percebes, camarões e coalhada verde em cima de um pudim, a que preferimos chamar de mousse, também nos deixou rendidos.
O momento do pão, uma interrupção perfeita na narrativa, tentou-nos com um brioche e um pão de trigo, feitos na casa, que se molharam no azeite da região de Tomar, da quinta da família do chefe. E, a fechar, e já depois de duas sobremesas, vêm para a mesa três espécies de petit-fours, que arrebataram em jeito de despedida: de alfarroba e alho preto, de ovo e mel e de framboesa e lavanda. Tudo servido em loiça de desgin, casando com a elegância com que os produtos – quase todos nacionais – chegam até nós.
Cura > Hotel Ritz Four Seasons > R. Rodrigo da Fonseca, Lisboa > T. 21 381 1401 > ter-sáb 19h30-23h > aconselha-se reserva