A tradição vitivinícola em Trás-os-Montes é antiquíssima, como atestam os lagares cavados nas rochas desse território vasto e diverso, que vai de Montalegre ao Planalto Mirandês, abrangendo a “Terra Quente” e a “Terra Fria”. Nessas longínquas paragens do Nordeste, para lá do Douro e para lá dos montes, sempre houve vinhos muito bons e muito diferenciados, devido à existência de diversos microclimas. Escassa, quase sempre, foi a sua divulgação, com honrosas exceções, como sucede com Valle Pradinhos, exemplo de consistência já devidamente reconhecida. O Casal de Valle Pradinhos, em Macedo de Cavaleiros, estende-se por 450 hectares e pertence, desde 1913, à família Pinto de Azevedo. Os vinhos são produzidos com uvas de castas indígenas, como Touriga-Nacional, Tinta-Roriz, Tinta-Amarela e Malvasia-Fina, e de conceituadas castas internacionais, nomeadamente Cabernet Sauvignon, Gewürztraminer e Riesling, sob direção do enólogo Rui Cunha. Resultam em vinhos harmoniosos e apelativos, como este Rosé 2019: fresco, saboroso, jovial, belo parceiro dos petiscos de verão.
Mudamos de rumo para Noroeste, até Baião, território favorito da casta Avesso, que tardou a ver reconhecido o seu valor, mas já tem estatuto de nobreza. E a prová-lo está o Paço de Teixeiró Avesso 2018, um vinho elaborado com as melhores uvas da propriedade, cujo lançamento foi retardado durante um ano, a fim de ganhar a sua melhor expressão em garrafa. Tem elegância e complexidade surpreendentes.
E descemos ao Baixo Alentejo para ir dar a Cortes de Cima, na Vidigueira. É mais uma exploração familiar, criada em finais da década de 80 pelo casal Carrie e Hans Jorgensen, ela norte-americana e ele dinamarquês. Os seus vinhos são bem conhecidos. O que nos seduziu, desta vez, foi uma das estrelas da companhia: Cortes de Cima Reserva Tinto 2014. Trata-se de um vinho muito rico em aromas e em sabores, faustoso, que sugere grandes refeições.
Valle Pradinhos Rosé 2019
Duas castas tintas das mais reputadas e tradicionais da região, Touriga-Nacional (30%) e Tinta-Roriz (70%), na base deste rosé que fermentou em cuba de inox e estagiou sobre borras finas até finais de janeiro. Tem bela cor salmonada, aroma intenso e jovem, com boas notas de frutos vermelhos e delicado toque floral; paladar fresco, seco, macio, com justo equilíbrio de fruta, acidez e álcool. Em suma: muito equilibrado e agradável. €7
Paço de Teixeiró Avesso Branco 2018
Exclusivamente de uvas da casta Avesso, com fermentação em cubas de inox que termina em barricas de carvalho (300 l), onde estagia sobre as borras totais, com bâtonnage, durante seis meses. Tem aspeto brilhante, cor de palha, aroma complexo com mineralidade, fruta e algum fumado, paladar elegante com bom volume e muito equilíbrio, final fresco, elegante e apelativo. Insinua-se e convence. €14
Cortes de Cima Reserva Tinto 2014
Elaborado com uvas de um lote das castas Aragonez (35%), Syrah (30%), Alicante Bouschet (15%), Touriga-Nacional (15%) e Touriga-Franca (5%), com estágio de 14 meses em barricas de carvalho (90% francês e 10% americano novo). De cor rubi profunda, aroma muito complexo, com notas de frutos pretos, caça e chocolate e sugestões balsâmicas, paladar encorpado e robusto com taninos já polidos e acidez consistente, num equilíbrio que se desdobra em elegância e classe. Grande vinho, pois. €80