“Completamente ridícula.” Alexandre Silva, do restaurante Loco, com duas Estrelas Michelin, em Lisboa, é perentório quando se refere à medida anunciada pelo Governo em reduzir em 1/3 a lotação máxima dos restaurantes, para que se garanta a distância de segurança entre os clientes, face ao surto do novo coronavírus. “Estão a colocar em cima de nós todo o esforço financeiro”, justifica o chefe de cozinha. “No Loco, temos tido cancelamentos todos os dias, seja de clientes portugueses seja de turistas estrangeiros que não conseguem voos”.
Proprietário ainda do restaurante Fogo, aberto recentemente na Avenida Elias Garcia, e de um balcão no Mercado da Ribeira, na sua opinião, “o que deveria acontecer era exigir o encerramento, tal como as discotecas, encontrando soluções para ajudar e apoiar”. Horas antes de o Governo anunciar as medidas, o chefe escrevia na sua página de Instagram: “Sempre lutei para ser o melhor profissional possível, sempre lutei pelas pessoas que trabalham comigo, mas neste momento sinto-me impotente…”. Neste momento, Alexandre Silva já está a reduzir funcionários e a congelar contratações. “Adorava poder fechar, mas não posso. As contas precisam de ser pagas”.
José Avillez, que se encontra a gravar a segunda temporada do programa de televisão Mestre do Sabor, no Brasil, já se tinha precavido e posto em marcha um controlo apertado, garantindo todas as normas. “Por agora, continuamos a seguir as indicações das autoridades e do Governo, o que significa que já estamos a respeitar o número de lugares ocupados”, garante Mónica Bessone, diretora de comunicação do Grupo José Avillez. Devido à quebra na procura, o restaurante Beco, no Chiado, encontra-se encerrado temporariamente e, a partir desta segunda, 16, vão fechar também a Cantina Peruana e o Rei da China, em Lisboa, e o Mini Bar, no Porto. “Em outros restaurantes vamos fazer ajustes de horário”, adianta ainda Mónica Bessone.
Ainda antes de o Governo anunciar as novas medidas para a restauração já João Sá tinha decidido encerrar, temporariamente, a partir desta sexta, 13, o restaurante SÁla, no Campo das Cebolas, em Lisboa, como medida preventiva. “A maior parte dos nossos clientes são estrangeiros, cerca de 90% são italianos, chineses, franceses e belgas, porquê estar a arriscar”, sublinha o chefe de cozinha. Antes de fechar as portas, algumas medidas de segurança já tinham sido tomadas: “Retirámos os guardanapos de pano, apenas um colaborador ia às mesas, colocámos doseadores de gel nas mesas”, conta João Sá, que não vai diminuir a equipa. “Não mandaria ninguém embora agora”.
O Grupo Amorim Luxury decidiu também, nesta quinta, 12, “após uma avaliação responsável da situação”, encerrar temporariamente a partir desta sexta, 13, os seus restaurantes JNcQUOI Avenida, JNcQUOI ASIA, Ladurée, o JNcQUOI CLUB, bem como as suas lojas Fashion Clinic e Gucci situadas em Lisboa, no Porto e no Algarve. Foi também adiada a abertura da nova loja Dolce & Gabbana, na Avenida da Liberdade, em Lisboa. Por agora, “a reabertura de todos os espaços fica condicionada à reavaliação e acompanhamento permanente da evolução da pandemia.”
Vítor Sobral, por seu lado, já criou um plano B. “Só fecho se for mesmo necessário”, diz o cozinheiro e proprietário dos restaurantes Peixaria da Esquina, Talho da Esquina, Tasca da Esquina e três Padarias da Esquina. Para o chefe de cozinha, há duas formas de ver e de analisar as medidas apresentada pelo Primeiro-Ministro: “A do País e a do meu umbigo e, neste caso, as duas são igualmente importantes. Não vou despedir ninguém, eles são como o prolongamento da minha família”, garante. No entanto, ressalva, “cabe-me a mim, como chefe e empresário, tomar novas medidas, como a de criar o serviço de take away, se precisar de encerrar os restaurantes. E isso, é coisa que já fiz”. O serviço poderá ser entregue em casa dos clientes dos bairros onde tem os seus restaurantes ou podem ser levantados na loja.
Rui Paula, chefe da Casa de Chá da Boa Nova, em Leça da Palmeira, pede ajuda urgente ao Governo. “Vai ser uma catástrofe muito grande, caso não sejam tomadas medidas para ajudar a salvar o setor da restauração. O que foi decidido ontem [de reduzir em um terço a limitação máxima de cada restaurante], não é medida nenhuma. Nós já temos a sala com um terço ou menos dos clientes.”
Tanto na Casa de Chá da Boa Nova (duas Estrelas Michelin), em Leça da Palmeira, como nos dois outros restaurantes de Rui Paula – o DOP, no Porto, e o DOC, em Armamar, Douro -, os cancelamentos têm sido diários. “Na Casa de Chá já tenho desistências até agosto. No DOP, numa quinta-feira normal de março teria umas 70 pessoas, ontem (dia 12), tínhamos 20 pessoas.” Com quebras de 60%, Rui Paula pede ao Governo que mande “encerrar todos os restaurantes, com medidas de compensação que possam passar por isenções fiscais e outras”. “Pago 110 mil euros por mês de ordenados. Só aguento esta situação mais um mês, um mês e meio”, afirma.
Lista dos restaurantes encerrados
SUL
SÁla, Lisboa
Praia no Parque, Lisboa
Taberna do Calhau, Lisboa
Tantura, Lisboa
Café Tehran, Lisboa
Prado Restaurante, Lisboa
Naperon, Odeceixe
JNcQUOI Avenida, Lisboa
JNcQUOI ASIA, Lisboa
Revolução, Lisboa
Sud Lisboa
Fifty Seconds, Lisboa
A Pastorinha, Carcavelos, Cascais
Fialho, Évora
NORTE E CENTRO
Euskalduna Studio, Porto
Semea, Porto
Astoria, Intercontinental Palácio das Cardosas, Porto
MiniBar, Porto
Brick Clérigos, Porto
Casa da Mariquinhas, Porto
Duas de Letra, Porto
Sicario, Matosinhos
O Gaveto, Matosinhos (a partir 14 mar)
Fava Tonka, Leça da Palmeira
Esquina do Avesso, Leça da Palmeira
Terminal 4450, Leça da Palmeira
Ferrugem, Vila Nova de Famalicão
Rei dos Leitões, Mealhada