
A sala do restaurante está decorada com obras de Alberto Carneiro, Nikias Skapinakis, Rogério Ribeiro e Moita Macedo, entre outros artistas
Lucília Monteiro
Não estamos na primavera de 1871, data em que decorreram as célebres Conferências do Casino, numa sala do Casino Lisbonense, no Largo da Abegoaria, em Lisboa. Mas é nestes encontros do século XIX e em banquetes reais da nossa História, que se inspiram os dez jantares temáticos que, entre junho de 2019 e junho de 2020, assinalam o décimo aniversário do restaurante Egoísta, no Casino da Póvoa de Varzim, que tem o chefe Hermínio Costa à frente da cozinha, desde que abriu.
Marcado para esta quinta, 6, o primeiro jantar recria o célebre repasto ocorrido no Hotel Central em Os Maias, de Eça de Queiroz (escritor natural da Póvoa de Varzim e também ele um dos participantes nas Conferências), oferecido por João da Ega ao banqueiro Jacob Cohen, marido da sua amante. Nessa época, era a cozinha francesa o grande métier nas melhores casas de família. Nada que tenha apanhado de surpresa o chefe Hermínio Costa que se sente à-vontade com este tipo de cozinha, em parte por ter trabalhado na Embaixada de Bruxelas.
O primeiro jantar, limitado a cerca de 40 pessoas, terá como convidada Isabel Pires de Lima, ex-Ministra da Cultura (todos os jantares serão acompanhados por um convidado, conhecedor do assunto em questão). As ostras frescas são o primeiro prato a chegar à mesa, decorada com ananases e pétalas de camélias – tal como nos relatos da crónica de costumes da época. Seguir-se-á uma sopa que combina as sopas Julienne (juliana, com legumes cortados em tiras finas e longas), crecy (de cenoura) e a tapioca, “um ingrediente usado na época”, conta o chefe Herminio Costa, que analisou com detalhe a descrição do jantar e da cozinha clássica.

Chefe Hermínio Costa, responsável há 10 anos pela cozinha do restaurante Egoísta
Nos peixes, será servido um linguado (na época, chegou à mesa o sole Normande), com mexilhão, camarão e sidra. Em Os Maias, seguiu-se um poulet aux champignons, no Egoísta será servida uma galinha La Bresse Gauloise, da região de Bresse, França, considerada uma raça de luxo, que acompanha com cogumelos brancos. “Quis apostar em produtos diferentes, tal como nesse retrato da época, em que era repetida a expressão très chic por diversas vezes”, diz o chefe.
As ervilhas petit pois à la Cohen, que terão sido servidas em homenagem ao banqueiro, serão acompanhadas com um ovo de codorniz. Depois de uma flute de champanhe, o repasto estará perto do final. Na descrição do jantar no Hotel Central (que ocupa 28 páginas da obra de Eça) não foi servida uma sobremesa – à exceção do ananás, fruta descrita amiúde –, o que levou o chefe Hermínio a recriar uma charlotte de ananás, “um clássico da pastelaria francesa”.
O segundo jantar temático está marcado para 26 de setembro e vai recriar o mítico banquete para o Rei D. Luís (3 de outubro de 1887), cozinhado pelo Abade de Priscos – neste caso, o convidado será o crítico gastronómico Fortunato da Câmara, autor do livro Os Mistérios do Abade de Priscos. O terceiro, dedicado ao Infante D. Henrique, recria a refeição das Festas para Apresentação do Plano Ultra-Secreto da Conquista de Ceuta aos Grandes de Portugal, acontece no dia 14 de novembro.
Jantares temáticos > Restaurante Egoísta > Casino da Póvoa, Póvoa de Varzim > T. 253 690 888 > €75/pessoa